Um roteiro pelo Reno e pelo Mosel, testado pela Evelyn

Conheci a Evelyn na ConVnVenção de Aracaju, e só na despedida é que liguei o nome à viagem: alguns dias antes, ela tinha postado na caixa de comentários um relato megadetalhado de seu passeio pelos vales do Reno e do Mosel, na Alemanha. Eu inclusive já tinha pedido pra ela me mandar fotos, porque queria transformar o comentário em post! Este é o tipo de viagem que eu adoro registrar com destaque: a Evelyn pesquisou a viagem aqui — com dicas dos trips, não minhas — e depois voltou para contar como foi, com a viagem fresquinha na cabeça. Vamos lá:

Vale do Reno. Foto: Evelyn Carvalho

Vale do Reno. Foto: Evelyn Carvalho

Texto e fotos | Evelyn

A região é encantadora. Certamente um dos lugares mais bonitos que já conheci. Vilarejos super fofos e castelos medievais de contos de fada às margens dos rios tornam o cenário deslumbrante. As pessoas são muito gentis, e ainda que nem sempre falem inglês, fazem de tudo para ajudar o visitante.

O passeio pelos vales do Reno e do Mosel é de contemplação, e deve ser feito sem nenhuma pressa. Para quem busca agito e badalação, melhor não ir. O lugar é calmo e as pessoas se recolhem cedo. Mas se o objetivo for admirar paisagens de tirar o fôlego, esse é o roteiro ideal. E ele combina perfeitamente com uma esticada pela Rota Romântica da Alemanha. Quanto aos custos em geral (alimentação, transporte, estacionamento…), a região do Reno sai bem mais em conta que a Estrada Romântica, sem dever nada à beleza das cidades mais ao sul.

Nessa viagem, fomos eu e minha mãe, e passamos três noites (de 19 a 22 de setembro) no entorno do Reno. Pegamos tempo muito bom e com temperaturas amenas (neblina pela manhã, calor e sol à tarde, friozinho pela noite). Tudo ainda estava coberto de flores, e as folhas começando a ficar amarelas. Lindo!

O primeiro dilema do planejamento foi escolher a cidade-base. Acabamos optando por Koblenz devido à sua localização, já que ela fica justamente no encontro dos rios Reno e Mosela. Assim, o deslocamento pelos vales de ambos os rios ficou mais fácil. No entanto, para aqueles que têm interesse em conhecer apenas o vale do Reno, recomendo alguma cidadezinha mais ao sul, onde está a maior concentração de castelos, com bate-e-volta a Koblenz.

Fizemos reserva no Mercure Hotel de Koblenz pelo Booking. O Mercure está muito bem localizado, pois fica praticamente às margens do Reno, e a poucos minutos de caminhada dos principais pontos turísticos, como a Deutches Eck (encontro dos rios Reno e Mosela), o teleférico para a fortaleza Ehrenbreitstein, e o centrinho antigo. Aliás, acredito que essa seja a melhor localização, porque Koblenz já é grandinha, e na minha opinião ficar na parte mais moderna tira um pouco do encanto do passeio. Para quem quiser ficar em um vilarejo mais típico e isolado, Koblenz não é a cidade ideal. Mas isso é uma questão pessoal. Para nós, Koblenz foi a medida certa entre o passado e a modernidade.

Chegamos a Koblenz de trem, a partir de Frankfurt. Essa viagem é extremamente panorâmica, e já dá àqueles que chegam uma noção da beleza do lugar. Compramos os bilhetes com antecedência pelo site da Deutsche Bahn, a empresa ferroviária de lá da Alemanha. Também dá para comprar os tickets na hora, porque o trem que faz esse trajeto é local, e não requer reservas de assento. Mas acho mais seguro comprar logo aqui no Brasil, até mesmo para garantir tarifas mais baixas.

Passo a passo:

No primeiro dia, já chegamos a Koblenz de tarde, e passeamos por lá mesmo. Andamos pelas margens do Reno, pegamos o teleférico (vista muito bonita!), depois continuamos caminhando até a Deutches Eck, contornamos o Mosel, e de lá passeamos pelo centrinho histórico. Como era um dia de domingo, tinha música ao vivo em algumas pracinhas (as pessoas comiam muita salsicha e tomavam bastante vinho) e até uma feirinha medieval, com barraquinha de arremesso de machado (!!!). Tudo estava muito animado, mas quando o relógio bateu exatas 7 horas da noite, as pessoas sumiram como num passe de mágica, e tudo ficou deserto.

Jantamos no Weindorf, um restaurante típico enorme, com mesinhas num pátio externo, ao estilo dos biergartens e weingartens alemães. Apesar de bastante turístico, a comida e o atendimento do Weindorf são muito bons. Ele fecha bem tarde, e o melhor é que o estacionamento fica aberto 24 horas, à disposição do cliente. Como o Weindorf ficava na frente do nosso hotel, houve uma noite que deixamos o carro lá mesmo, sem gastar nada com estacionamento. O próprio garçom esclareceu que poderíamos deixar o carro lá por quanto tempo quiséssemos. Fica então a dica para quem quiser economizar com estacionamentos e parquímetros em Koblenz.

No segundo dia, alugamos um carro para percorrer o Vale do Mosel. Fechamos com a Avis. Fizemos reserva pelo telefone aqui no Brasil, porque pela internet as tarifas das locadoras estavam mais altas (não sei explicar por quê!). Atenção para estas duas dicas: a) a Hertz mais próxima a Koblenz fica em Mülheim-Kärlich, e o táxi para lá dá em média uns €20; 2) a Avis tem um escritório dentro da loja da Mercedes, no centro da cidade. Essa última observação é importante, porque praticamente todo mundo só recomendava a Avis mais distante (táxi de €10 em média). Acho que por ser muito discreta, as pessoas não sabem da Avis lá da Mercedes. Mas ela existe!

Bom, saímos em direção a Cochem, e seguimos o caminho indicado pelo GPS (levamos o nosso, devidamente carregado com um mapinha completo da Alemanha). Mas com o passar do tempo, começamos a “enganar” o GPS, para sairmos da autopista e percorrermos as estradas que beiram o rio (mais longas, porém mais bonitas). Quando “burlávamos” o navegador, seguíamos por alguns minutos as placas das pistas (muito, muito bem sinalizadas), e só então ativávamos o GPS. As estradas que beiram o Mosel são simplesmente deslumbrantes, seja pela margem esquerda, seja pela direita. Algumas sugestões de estradas panorâmicas: K22 e B49. Mas há outras.

Cochem é super fofa, com ruelinhas medievais, muitos restaurantezinhos com vista para o rio e um castelo no topo de uma colina. Lá tem muitas lojas especializadas em vinhos. Aliás, elas estão espalhadas por toda a região do Reno e do Mosel, e não é raro que ofereçam degustação de vinhos.

De Cochem partimos para a região de Zeltingen-Rachtig, a fim de visitar a vinícola Markus Molitor. Escolhi a M. Molitor aleatoriamente (um bom site para pesquisar vinícolas é o Wine Doctor, recomendado por Oscar aqui no VnV). Mandei e-mail para agendar uma visita, e o pessoal foi super atencioso, mas infelizmente eles exigiram que eu dissesse o horário EXATO em que eu chegaria à vinícola. Marquei para as 2:30 da tarde.

Ao chegarmos lá nos decepcionamos, porque a vinícola está em reforma, não pudemos visitar as caves, e tudo funcionava em um local meio precário para receber visitantes. Isso não ficou claro nos e-mails. A visita perdeu a graça, degustamos um vinho bem rapidinho e fomo embora. Enfim, a visita foi bem frustrante. Mas acho que foi um “azar”, e não acredito que as visitas às vinícolas sejam desinteressantes. Esse ponto da viagem foi o único que modificaríamos, especialmente a parte de marcar horário. O vale do Mosel tem que ser contemplado com tranqüilidade e liberdade, sem agenda!

Mas não há mal que não faça bem! Apesar de não termos gostado da visita, jamais teríamos nos deslocado até Zeltingen-Rachtig se não fosse por ela. E a região é linda!!!! Lá ficam várias vinícolas, com uma vista espetacular dos vilarejos incrustados nos vinhedos.

Não percebemos fluxo de turistas nessa área. A maior aglomeração humana que havia era um acampamento para trailers. Inclusive isso é muito comum lá. Os acampamentos são vááários, e super estruturados. Outra atividade que muitas pessoas fazem na área é andar de bicicleta às margens do rio. Existe uma ciclovia muito boa e larga ao longo de todo o Mosel, e a bicileta é muito utilizada como meio de locomoção.

Fomos voltando pelas estradas que acompanhavam o rio na direção de Koblenz, e parávamos para tirar foto sempre que dava vontade, ou seja, toda hora! Quando já estávamos nos aproximando de Koblenz, do meio do nada vimos uma placa indicando o Burg Eltz, um castelo lindíssimo! Claro que resolvemos seguir as indicações. O Burg Eltz fica muito escondido!

No caminho, passamos por vários vilarejos, alguns com casinhas de pedra bem medievais. Ao chegarmos, estacionamos e descemos uma ladeira bem íngreme até um mirante, em que se avista bem o castelo lá embaixo, com um riozinho correndo em volta. Maravilhoso! Dica: do estacionamento parte um shuttle para o castelo que custa €1,50. Recomendo, porque as ladeiras até o Burg Eltz cansam só de olhar. Muito íngremes para serem percorridas a pé (nessa parte não passa carro). O site oficial do castelo tem todas as informações.

Enfim, depois de rodarmos bastante, finalmente retornamos a Koblenz, dessa vez pela autoestrada, porque já estava anoitecendo.

Avião, trem ou carro?

No terceiro dia, após devolvermos o carro, pegamos um trem para Rüdesheim am Rhein. E como eu disse antes, a vista do passeio de trem é linda! Avistávamos as cidadezinhas e os castelos na outra margem do rio.

Rüdesheim é muuuito fofa, com ruelinhas cheias de flores, muitas lojinhas e vários biergartens e weingartens. Lá também fica a Asbach, que vende bebidas e chocolates típicos super alcoólicos. Almoçamos nessa cidadezinha, e fomos andar de teleférico. Esse passeio é fantástico, porque você vê bem as videiras (estavam carregadas de uvas, e era época de colheita!), até chegar ao Niederwald, um monumento de onde se tem uma visão linda do Reno. Você pode retornar dali mesmo (foi o que fizemos) ou passear pela floresta e pelas videiras, e depois pegar umas cadeirinhas com cabo (chairlifts) até Assmannshausen (passeio mais longo – consulte as opções no site oficial de Rüdesheim).

Depois de retornarmos de teleférico, nossa intenção era pegar um barco da K-D cruises (consulte a tabela de horários no site oficial) até Boppard. Mas como nos distraímos tirando fotos, perdemos nosso barco. Resolvemos então pegar um trem até St Goarshausen, já que o trem anda mais rápido, e de lá pegar o mesmo barco que perdemos em Rüdesheim.

St Goarshausen é muito, muito pacata. De lá se avistam alguns castelos, a cidade de St. Goar do outro lado do rio, e andando um pouquinho dá para ver a Lorelei de pertinho (sereia lendária do Reno, cantada em vários poemas e tema até de uma música do Scorpions – pode ser avistada também do trem e do barco). Esperamos uns minutinhos pelo nosso barco, e continuamos até Boppard, conforme o plano inicial. A vantagem do passeio de barco é que você tem uma visão ampla de ambas as margens do rio, ao contrário do trem e do carro, em que você só vê a margem oposta. Passeamos um pouquinho por Boppard, que também é bem bonitinha, e retornamos de trem a Koblenz.

No útlimo dia, pegamos um trem para Frankfurt, guardamos as malas nos lockers da estação, e passamos algumas horas na cidade esperando nosso vôo. Frankfurt é limpa e bonita, mas não tem o charme das cidadezinhas típicas. No entanto, não tivemos tempo para conhecê-la a fundo. Talvez se ficássemos mais tempo, nossa opinião seria diferente. Lá em Frankfurt seguimos em parte a pé o roteiro recomendado no mapinha turístico da cidade (à venda no centro de informações turísticas da estação de trem).

Passeamos pelo centro antigo, vimos a Römerberg (praça muito bonita), a Dom, e as ruínas romanas que ficam logo em frente. Apesar de abominarmos este tipo de passeio, sucumbimos àqueles sightseeing de ônibus panorâmicos. E não nos arrependemos, pois passamos por áreas residenciais mais afastadas e menos turísticas que jamais teríamos conhecido a pé, e deu para ter uma noção melhor da cidade. Na volta, já descemos na estação de trem, e pegamos um S-Bahn para o aeroporto.

Sobre o deslocamento, digo o seguinte: qualquer que seja o meio de transporte utilizado, as vistas são espetaculares, e cada tipo tem prós e contras. Para a região do Mosel, aconselho o carro, que dá bastante liberdade para percorrer vilarejos, e chegar ao Burg Eltz, que é de difícil acesso. Já o vale do Reno dá para ser percorrido de trem, pois ele passa freqüentemente pelas cidadezinhas, e de barco, para se terem as melhores vistas. Mas claro que não existe fórmula, essa é apenas uma sugestão.

E aqui termina o meu depoimento sobre a região do Vale do Reno e do Mosel. Espero que ele sirva como um estímulo para que mais pessoas conheçam essa região encantadora!

Obrigada a a Riq e aos trips do VnV por todas as dicas e informações!

Vale do Reno. Foto: Evelyn Carvalho

A gente que agradece, Evelyn! O relato está sensacional!

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    59 comentários

    Somos casal aposentados e sem problemas com datas e gostaria de opções para cruzeiro no Reno ou Danúbio, em classe econômica, preferência por vilas é pequenas cidades banhadas pelos rios

      Olá, Ney! Infelizmente não temos conteúdo próprio sobre o assunto, apenas esta gentil colaboração da leitora. Mas um agente de viagem pode ajudar vocês com facilidade, há muitos desses cruzeiros o ano inteiro.

    Há alguns anos estivemos por uns dias no Rheingau, que é uma importante região vinícola às margens do Reno. É pertíssimo de Frankfurt e rende um passeio excelente. Fizemos base em Oestrich-Winkel, de onde é fácil visitar várias vinícolas a pé, incluindo o Schloss Johannisberg e o Schloss Vollrads (ótimos lugares para almoçar) e de onde se chega, de carro, rapidinho ao Kloster Eberbach (mosteiro vinícola onde foram gravadas partes do filme O Nome da Rosa) e, na outra direção, a Rudesheim am Rhein, citada no post, que é linda e ponto de partida de um passeio de barco muito legal até Assmannshausen (terra dos melhores Spätburgunder/Pinot Noir da região).

    Boa tarde, tenho uma lista de 8 cidades entre os rios Reno e Mosel que gostaria de visitar, pensei em alugar um carro em Koblenz, mas outra possibilidade seria ir exclusivamente em um dia para Zell, que fica às margens do Mosel. Minha pergunta então… existe um barco que saia de Koblenz e pare em Zell?
    Ou os barcos do Reno e do Mosel só param em determinadas cidades? Onde (site, pode ser em alemão) eu poderia encontrar os trajetos e paradas? Obrigada

    Alguém saberia dizer se existem lockers pra guardar malas na estação de trem de Cochem? Não encontro essa informação em lugar nenhum! Obrigada!!

      Olá, Mariana! Nas estações pequenas é difícil ter guarda-volumes. Pergunte na bilheteria, talvez eles guardem para você ou indiquem um bar que guarde.

    Evelyn, adorei as sugestões. Em maio/2017 ficaremos 30 dias na Alemanha. Desembarcaremos em Frankfurt e iremo para a região tão bem descrita por você.
    Abraços.

    Pessoal, bom dia. Em Setembro estarei em Dusseldorf por uma semana na casa de uma amiga local. Achei poucas informações sobre a cidade e gostaria de saber se alguém tem indicação de um bom restaurante. Gostaria de levar esta minha amiga em um restaurante bacana para agradecer sua hospitalidade. Agradeço desde ja!

    Tive o prazer de voltar a Alemanha, mas precisamente ao Vale do Médio Reno.

    Ficamos 10 dias em Bingen, e lá desfrutamos as linda, pacatas e encantadoras cidades do Médio Reno,e desta vez fomos conhecer as cidades do Vale do Mosel, E N C A N T A D O R A S… conhecemos tudo que relatado neste poste e um pouco mais, além de termos a sorte de ficamos numa vinícula de primeira qualidade.

    Passeio e programação recomendadíssimos.

    estamos indo para munique em outubro, e para fazer um bate-volta no castelo de neuschwanstein passando por garmisch numa turma de 10 pessoas, teria como alugar uma van com motorista para que durante o passeio pudessemos fazer alguma parada fora do roteiro? Se alguem souber e puder passar o contato seria bom. obrigado

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