Caracas: passeando pelo centro histórico e La Castellana
Então ontem eu finalmente entrei em Caracas. No guichê do táxi oficial, a corrida até o Pestana em Altamira/Santa Eduvigis ficou em 200 bolívares (40 reais no câmbio negro; tarifa e câmbio de junho de 2011). O trânsito na minha direção estava fluido (já na outra estava bastante parado) e com isso eu levei apenas 45 minutos até o hotel.
O caminho desde o aeroporto começa muito bonito, por uma auto-estrada que passa entre montanhas recobertas de verde. Então fica meio assustador, quando a auto-estrada entra na cidade e você se vê rodeado de favelas. Mas a paisagem não é muito diferente da que você vê quando percorre as vias expressas de Salvador; a diferença é que na Bahia há muito menos propaganda política. Passei por viadutos que cortam Sabana Grande, um bairro comercial central que está degradado. Faltando pouco para chegar, porém, o táxi saiu por uma aba e entrou numa zona mais burguesa (e livre de slogans).
Minha idéia inicial era subir de teleférico ao mirante do monte El Ávila (ou Waraira Repano, numa antiga língua indígena resgatada pelo bolivarianismo), mas desisti por conta (1) do tempo feio e (2) de achar que era complicadinho para fazer por conta própria. Talvez seja um daqueles passeios em que vale a pena pegar um city tour.
Aproveitando que o Pestana fica a meia quadra da estação de metrô Miranda, bolei rapidinho um tour que me levaria ao centro histórico e depois a um outro bairro gente-fina da cidade.
Seguindo todas as mais paranóicas instruções, deixei tudo no cofre e saí só com dinheiro e o celular (o celular era para fotografar).
Conforme já tinha lido, o metrô funciona muito bem — talvez um pouquinho apinhado demais por custar tão pouco, apenas 1 bolívar (20 centavos de real) a viagem. (Na Cidade do México também é assim.) Meu destino estava 10 estações a leste da minha. O vagão só ficou lotado da segunda (Chacao) em diante.
Desci na estação Capitólio e peguei a ligação com a estação El Silencio, que é onde o Google Maps me dizia que estaria a Plaza Bolívar.
Hmpf: não era. De vez em quando, fora dos Estados Unidos (no Chile e na Argentina acontece o tempo todo), o Google Maps apresenta erros crassos. Este, da localização da estação mais próxima da praça Bolívar, quase me custou o passeio.
A estação El Silencio, de onde eu emergi à superfície, fica numa parte feia, suja e malvada do centro. Temos lugares iguaizinhos no Brasil (em São Paulo, no Rio, em qualquer capital do Nordeste, em Porto Alegre também), mas não é num lugar assim que você quer sair do subterrâneo no primeiro recém-chegado a uma cidade e imerso em paranóia. Mas consegui achar a escada do Calvário…
… e descobrir que a Praça Bolívar estava a três quadras dali.
(Se você for, desça na estação Capitólio e procure a saída Esquina La Bolsa/Mercaderes; você vai dar na quina da praça.)
É uma região bonita e muito bem restaurada. Não havia nenhum turista à vista, mas me senti bastante seguro.
Não, não entrei nem na casa natal de Bolívar nem no Museu Bolivariano — já bastam os slogans aqui fora por toda parte.
Peguei o metrô de volta e desci na estação Altamira. De novo saí do lado errado (mas daí acho que a culpa foi minha), mas foi bom: achei essa bonita foto do predião ao entardecer e também vi onde fica La Estancia, um centro cultural mantido pela PDVSA.
Meu objetivo era a zona de La Castellana, e para chegar lá passei pela incrível Praça Altamira, que junta obelisco, cachoeira artificial e um lindo prédio déco com a montanha ao fundo.
Estava morrendo de fome, e tinha anotado o endereço da filial de La Castellana de uma rede de restaurantes de arepas 24 horas, El Budare. No caminho passei por outra arepera famosa, chamada El Naturista. Devia ter ficado por ali, porque o lugar serve cerveja, e depois de tanto metrô um blogueiro merece uma cervejinha.
No Budare, porém, não tem álcool. Pedi um coco verde (diga: “coco frío”) e escolhi uma arepa de “carne mechada”, seja lá o que isso significasse. Acho que significa desfiada, e estava uma djilícia.
(Ah, sim: arepa é uma espécie de mão de milho feito com farinha branca e que pode ser assado, frito, cozido, comido puro ou recheado.)
Do Budare de La Castellana fui a pé até o Centro Comercial San Ignacio, que acredito ter o status do Iguatemi de São Paulo como o mais tradicional shopping burguês (mas é chute; existem shoppings mais novos e eu não tive tempo de ir).
O interessante dos shoppings em Caracas é que os restaurantes e bares não se resumem à praça de alimentação; se você vai a sites de baladas, como este Rumba Caracas — “rumba” quer dizer “balada” –, vai ver que o endereço de boa parte delas fica em shoppings. (Não, não testei nada, pessoal. Blogueiro fazendo campo dorme cedo pra poder postar cedo.)
Voltei de táxi para ver como era. Os shoppings têm pontos com os táxis mais recomendados por todos os guias e blogs — brancos, com placas amarelas. Mas nem esses têm taxímetro; você tem que combinar antes de partir. De lá até o Pestana eram 50 bolívares (10 reais no negro; tarifa e câmbio de junho de 2011).
De volta ao hotel, saí para comer um sashimizinho no japa ao lado. Lascas grossas! Adoro sashimi de lascas grossas. Comi também um temaki de atum picante. A conta saiu menos de 200 bolívares (40 reais no negro).
E antes de capotar na cama (tinha acordado às 5h para terminar o Estadão, viajado de teco-teco e ziguezagueado pela cidade), dei uma subidinha ao lounge Altamira, no terraço do Pestana. Mas daí já com a câmera de verdade.
Querem saber? Caracas não morde.
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27 comentários
Alguém pode me indicar agencia de viagemno Brasil que faz o que eu mais odeio, “pacote” para Caracas? Pelos relatos, ao menos traslado do aeroporto para o hotel e vice versa. Gosto de viajar sozinho, por conta propria, mas sei que a coisa lá no aeroporto está pesada…
Olá, Marcel! Pacotes não acredito que haja, mas uma agência de viagem brasileira pode arranjar um traslado para você.
Oi Riq!
Infelizmente chegamos de lá ontem e a experiência foi a pior possível. Retornamos de uma semana em Curaçao e passaríamos apenas uma noite e um dia em Caracas. Cansados e sem entender muito o esquema de táxi do aeroporto, acabamos aceitando o convite de um taxista com credencial que nos recebeu imediatamente na saída da alfandega. Até aí, supúnhamos que apenas o pessoal das cooperativas tivessem acesso ao local onde ele estava. Um senhor, muito educado e de boa aparência que nos levou até um Meriva Azul Marinho estacionado no embarque. Acomodou nossas malas e quando já íamos saindo com o motorista, ele abruptamente entrou no carro e disse algo como se fosse pegar uma carona. Tentei destravar as portas e já não consegui. Aí já sabíamos que algo estava errado. Depois de uma hora e meia rodando, já dentro de Caracas, eles anunciaram o assalto. Quando percebemos que se tratava de uma arma falsa, reagimos (Eu e meu namorado somos policias). Meu namorado conseguiu desligar o carro e as portas destravaram, quando então conseguimos abrir os vidros e gritar, pedindo socorro. Pessoas e carros passaram, mas ninguém ajudou. Quando vimos que o motorista havia conseguido ligar o carro novamente, pulamos do veículo, conseguindo levar duas bolsas que eu trazia como bagagem de mão, por sorte com os passaportes e algum dinheiro. Perdemos todas nossas malas. Todas as fotos de Curaçao, todos nossos pertences pessoais, mas ficamos, fisicamente ilesos. O que mais doeu foi o descado tanto das população, que sequer chamaram a policia diante da cena, como da própria polícia, que só aceitou fazer um Boletim de Ocorrência depois de muita insistência nossa, alegando que não tinham atribuição para “este caso”. Após tudo isso, tomamos conhecimento que toda semana há brasileiros sendo assaltados e sequestrados. Que meu relato sirva de alerta para quem estiver indo para Caracas. Para quem não conhece bem o Aeroporto, os táxis credenciados não ficam tão a vista e você é engolido pelos caras das Cooperativas, que tb não oferecem muita segurança. No Consulado, que nos deu todo apoio, ouvimos a seguinte frase: Em Caracas nada é 100% seguro. Há uma semana um brasileiro foi sequestrado no mesmo esquema de táxi do aeroporto e ficou por horas rodando pela cidade, sendo obrigado a sacar dinheiro em caixas eletrônicos. CARACAS REQUER TODA CAUTELA. Não desejo que ninguém passe pelo o que passamos. Credenciais falsas e livre entrada em áreas de acesso restrito do aeroporto fazem parte do que eles chamam de mafia do Aeroporto, onde taxistas e bandidos negociam a abordagem a turistas. DENUNCIAR o que está acontecendo parece ser a única forma de trazer alguma solução.
Nossa Anna, que horror! Fiquei super assustada com essa história. Sei que aqui também estamos sujeitos a esses assaltos por aqui mas é bom saber pra aumentar a atenção!
Pois é, Carla! Foi horrível e até agora ainda estou inconformada, mas dos males o menor. Não nos fizeram nada, saímos ilesos, com algumas escoriações, mas nada sério. Realmente estamos sujeitos a passar por isso em qualquer lugar, mas o que assusta mesmo em Caracas é saber que bandidos atuam dentro do Aeroporto com a conivência das autoridades locais,abordando turistas dentro de áreas supostamente restritas, como foi nosso caso, na saída da alfândega. Funcionários do aeroporto viram a abordagem e não nos alertaram. Eles certamente sabiam que aquela pessoa não deveria estar ali. De qualquer forma, será bom saber que nossa terrível experiência poderá impedir que outras pessoas passem pela situação.
Abraço
Nao morde mesmo. O povo coloca o terror, mas nao tive problema algum. E recomendo. Para subir ao avila, é só chegar de taxi ao lugar, comprar o ingresso e pegar o teleferico. O único drama é a fila!
Por isso que digo pra qualquer não brasileiro encucado pra não vir ao Rio e ir logo gastar seu ´bolívares` em outra freguesia em paz. Convenhamos, é muito chato achar tudo muito lindo, exótico e com comida gostosa, mas no fim das contas passar o dia inteiro achando que vai sair na estação errada de metrô e a qualquer momento ser morto, atacado, degolado ou se tiver sorte, apenas roubado. Ah não, guerra ou vulcão, vá por sua conta e risco e não enche pois a escolha e responsabilida é toda sua e não dos outros.
Adorei, mas vc so conheceu apenas dois puntos importantes da cidade!! Caracas é uma cidade linda demais com muitos cantos interesantes pra valer, valeu!!
Olá, Ali! O Ricardo Freire fez tudo isso em apenas seis horas. Mais do que isso não daria não 🙂
Caraca não morde e tb não morde ir ao Avila sozinho. Peguei um taxi do hotel até a estação do funicular e na volta fiz a mesma coisa. Acho que andar de metrô é muito mais perigoso rsrs
Quero dizer que as fotos ficaram melhores do que o esperado! E viva o Iphone! Bjos!
É uma cidade sem preconceitos: o metrô é GLS 😉
Riq
Que boas notícias! Morei na Plaza Altamira há 15 anos e pensei que tudo estava perdido!