Sydney: sabadão em Bondi Beach
17 de janeiro de 2005. Sabadão de sol. Nenhuma nuvem no céu. Pego minha equipe de reportagem e vou direto a Bondi (repita: Bondái) estudar o rato-de-praia australiano, ratus praiense australiis, num dia propício.
Dos bairros centrais da cidade até Bondi você leva entre 15 e 20 minutos de táxi, ou 50 minutos de ônibus. Existem praias mais próximas, dentro da baía, mas são todas pequeninhas e de mar calmo; quem quer esticar a toalha na areia ou entrar com a prancha no mar precisa ir às praias oceânicas. Dessas, Bondi é a mais badalada; Manly, do outro lado da baía, é a mais fácil de chegar (basta pegar uma balsa no cais central).
Forçando um pouco a barra, dá até para se sentir no Brasil. Procurando bem, está tudo aqui: o casal do frescobol, a panaca do frisbee, a rapaziada do surf, até mesmo um pessoalzinho jogando futebol – perdão, beach soccer. Mas então você percebe que alguma coisa está errada. Alguma coisa, não – muita coisa está errada. Ou certa demais, sei lá.
Por exemplo: olha esse calçadão. Não é esquisito um calçadão em que só passa gringo?
Agora repara que doideira. Só passa gringo, mas mesmo assim não tem um camelô! Um camelozinho pra vender uma canga sequer! Cadê minha canga com o desenho da Ópera de Sydney? Cadê meu postal com aborígenes de fio dental? Vou ter que atravessar a avenida e comprar na loja? Desaforo!
Se você estava pensando em emigrar para a Austrália e ganhar a vida alugando cadeira na praia, pode tirar seu ornitorrinco da chuva. Pelo que eu vi nesse sabadão, o negócio de aluguel de cadeiras na praia em Sydney vai devagar quase parando. Não vi ninguém alugando. E como só tem um concessionário, ele nem precisa escrever sua inicial no encosto das cadeiras.
Eu já estava quase alugando uma espreguiçadeira e pedindo a primeira cervejinha do dia quando descobri que não existe ninguém vendendo, contrabandeando nem traficando bebida, comida ou mercadoria de nenhum tipo. Aquele pessoal uniformizado de vermelho e amarelo que eu avistei de longe, veja bem, não são ambulantes, não – são voluntários salva-vidas. Garotos e garotas que passam os fins de semana com camisetas de manga comprida cuidando para que nenhum surfista ou banhista se congele naquele mar de 14 graus Celsius.
Então tive uma idéia. Eu vou ficar aqui e ser um voluntário na praia. Mas vou salvar vidas ao meu modo. Vou levar caipirinhas a todos os que estejam morrendo de tédio. Quando ninguém estiver olhando, vou assar queijo de coalho e distribuir aos velhos e às crianças. E se a polícia vier atrás de mim, vou sair correndo, gritando: Olha o mate! Olha o limão! Limão e mate! Limão e mate! Tenho certeza de que sou capaz de fazer até a água esquentar.
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16 comentários
Texto perfeito! Estou neste momento sentada na areia de Bondi, é exatamente como você descreveu. Parabéns!