Japão, parte 3: Kyoto e Nara, templo por templo (a viagem do Diego)
Texto e fotos | Diego Sapia Maia
Depois de chegar ao entardecer, a tempo de aproveitar de maneira intensa nossa primeira noite em Kyoto (leia aqui), ainda passamos mais 4 dias em Kyoto. Num desses dias, tiramos a manhã para ir a Nara.
- Introdução: 10 dicas práticas
- Parte 1: Tóquio
- Parte 2: Takayama e montanhas
- Parte 3: Kyoto e Nara
- Parte 4: Hiroshima, Himeji e Disneys
Dia 11: Kyoto (o lado leste)
Anda-se muito em Kyoto. Muito mesmo. Batemos nosso récorde pessoal ao caminharmos 45 km em um dia (de acordo com o nosso celular), entrando em templos e florestas, andando por ruas estreitas e charmosas.
Em Kyoto visitamos mais templos e santuários do que imaginamos que seria possível conhecer em 4 dias completos. A cidade abriga centenas deles, e é impressionante notar como cada local tem sua ‘personalidade’ e beleza próprias.
Pode parecer loucura visitar 16 templos numa passagem por Kyoto, mas ainda hoje consigo lembrar de vários detalhes de cada um deles. Caminhar de templo em templo talvez seja a atração mais popular entre os 50 milhões de turistas que visitam a cidade anualmente.
É parte do processo de deslumbramento — depois que você entrar no primeiro, vai querer conhecer o segundo, e assim por diante. Dá para ficar anos visitando cada um dos 3 mil templos de Kyoto sem repetir.
Em Kyoto, além do Japão ‘espiritual’, dos templos e santuários, vimos muito do Japão ‘clássico’, das gueixas e cerimônias de chá. Tudo o que se espera de uma cidade que foi a capital do país por mais de mil anos, até 1869.
Para nossas andanças por Kyoto, seguimos alguns roteiros que encontramos no ótimo blog Travel Caffeine (em inglês), que divide a cidade em lados leste, oeste e centro, aglutinando alguns dos seus templos e passeios mais bonitos.
Nosso primeiro dia completo em Kyoto, então, seria dedicado a algumas atrações do seu lado leste.
Kyozumi Dera, de manhã cedinho
Começamos nosso o dia acordando cedo, por volta das 6h. O objetivo era chegar ao Kiyomizu Dera, o ‘templo da água pura’, lá pelas 7h. Este é um dos templos mais visitados da cidade, então queríamos entrar antes das multidões.
Consultamos o Google Maps e pegamos um ônibus (usando nosso SUICA) próximo ao hotel em que estávamos (Sakura Terrace The Gallery).
O ônibus nos deixou a 200 metros do começo da subida até o templo, no distrito histórico de Higashiyama. Como chegamos cedo, nenhuma das lojas da região estava aberta — queríamos tomar café, mas nos viramos com alguns petiscos vendidos pelos poucos vendedores que trabalhavam àquela hora.
Depois de cerca de 10 minutos subindo as ladeiras do bairro, avistamos o grande portão Nio-mon, na entrada do templo.
O ingresso para a visita ao Kiyomizu Dera custa 400 yens. Praticamente todos os templos que visitamos em Kyoto cobravam uma entrada entre 300 e 700 yens (já em Tóquio, os templos que visitamos eram gratuitos).
Lá dentro, os visitantes são estimulados a seguirem um circuito pré-estabelecido, que ajuda no controle de multidões, mas se você quiser pode ir e vir à vontade.
O hall principal do Kiyomizu Dera está em reforma até 2020, com tapumes e redes cobrindo sua fachada de madeira, mas a visita continua imperdível.
A vista da cidade e da floresta a partir do seu deck é deslumbrante. Além do hall principal, há pagodes, templos menores, um santuário, uma caminhada que leva a um pagode na mata (ao pé das montanhas) e a cachoeira Otowa, na base do hall principal.
Dizem que as águas de cada uma das três pequenas cascatas que formam a cachoeira proporcionam diferentes benefícios a quem delas beber. Nos juntamos aos outros visitantes e formamos uma fila para participar do ritual (que inclui pegar a água das cascatas com um copo preso a uma vara de bambu).
Por estar localizado na floresta na base das montanhas e ter muita água na sua propriedade, o Kiyomizu Dera foi o único lugar da viagem toda onde fui atacado por alguns mosquitos (sempre sou vítima deles). Aconteceu na pequena e espetacular caminhada que você faz do hall principal até o pagode Koyasu (que você avista do deck), atravessando a floresta. Capriche no repelente e vá.
Foi no Kiyomizu Dera que compramos nosso goshuin-cho, o livro que turistas e religiosos usam para coletar shuins (carimbos) em cada templo que visitam.
É um lindo souvenir da viagem com um forte significado religioso: você compra o livro em branco e, dentro dos templos, procura pelo lugar em que os monges vão carimbar e assinar.
Cada templo tem seu selo próprio (eles custam cerca de 500 yens cada), e o ritual do shuin deve ser tratado com muito respeito. Não saia correndo atrás de carimbos apenas para aumentar sua coleção. Se possível, tente ver uma cerimônia no templo, inclusive. Faz parte da experiência.
Ao sairmos da área paga do Kiyomizu Dera, procuramos o salão Zuigu-do, ainda na propriedade do templo. Este salão representa o útero de uma mãe, e a única maneira de entender o porquê é entrando em seu porão escuro.
Você vai caminhar descalço por alguns minutos na escuridão total, guiado apenas por uma corda presa à parede. A experiência é inesquecível.
Por falar em caminhar descalço, tirar o sapato é obrigatório em todos os templos da cidade. Use, então, algum calçado confortável e fácil de tirar e colocar durante sua passagem por Kyoto.
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Pagode Yasaka e o templo das bolinhas
Do Kiyomizu Dera, descemos a ladeira em direção ao bairro de Higashiyama. Queríamos chegar até o pagode Yasaka do templo Hokan-ji (coloque Hokan-ji Temple no Google Maps). Eram quase 10 da manhã, e lojas e restaurantes já estavam abertos, com ruas fervendo de turistas.
Encontramos no começo da ladeira, já no final da descida, uma loja dos Estúdios Ghibli lotada de bonecos, pelúcias e outros objetos das animações clássicas do estúdio. A loja me pareceu mais completa do que a existente no Museu Ghibli, em Tóquio.
Saímos de lá com alguns presentes e nos dirigimos ao famoso pagode Yasaka, com 5 andares que dominam a vista do bairro de Higashiyama. Não entramos no templo, mas tiramos muitas fotos da edificação.
A caminhada entre o Kiyomizu Dera e o pagode Yasaka te levará por escadarias e ruas charmosas do bairro, e vale investir um bom tempo nessa região, curtindo a arquitetura, as lojinhas e os cafés e restaurantes.
A pouquíssimos metros do pagode de cinco andares, espiamos o coloridíssimo (e pequeno) templo Yasaka Koshin-do (coloque o nome desta maneira no Google Maps).
Neste templo de entrada gratuita, fiéis escrevem seus desejos em bolinhas coloridas chamadas kukurizaru que são depois penduradas em paredes e pilares.
O local faz sucesso com instagramers e com muitas turistas que se vestem de gueixa e passeiam pelo bairro à procura da oportunidade de foto perfeita (fiquei surpreso com a quantidade de gente que se fantasia para perambular pela região).
Kennin-ji, o templo zen mais antigo
Kennin-ji, um templo enorme no meio de Gion
Do Yasaka Koshin-do caminhamos até o terceiro templo do dia, o Kennin-ji (coloque Kenninji no Google Maps), ao sul do bairro de Gion. Pagamos 500 yens pela entrada neste que é o mais antigo templo zen da cidade (foi fundado em 1202).
Há literalmente mais de 20 prédios dentro dos limites do templo, e o ingresso dá acesso às edificações principais. Lá você poderá ver jardins zen (de cascalho) e jardins de musgo, além de pinturas lindas, enquanto caminha descalço por passarelas.
À diferença do Kiyomizu-Dera, não havia muitos visitantes neste templo. O que foi bom para podermos admirar a arquitetura e as obras de arte do Kennin-ji com calma.
Vale ver as pinturas dos deuses do vento e do trovão (que foram reproduzidas pela cidade inteira) e o gigantesco mural com dragões pintado há poucos anos no teto do salão Dharma.
Museu Forever e Parque Maruyama
Saímos do Kennin-ji pouco depois do meio-dia (você consegue fazer a visita em menos de uma hora). Aproveitando que estávamos no bairro de Gion, fomos até o Gion Corner, um centro cultural onde você pode ver as sete artes cênicas tradicionais japonesas.
Queríamos comprar nossos ingressos para o Miyako Odori, um show com gueixas que acontece apenas na primavera (geralmente no mês de abril, por poucas semanas).
Conseguimos ingressos para dois dias depois, com muitos lugares ainda disponíveis. No Gion Corner fica também o Forever Museum of Contemporary Art — na frente dele há uma abóbora gigante da artista Yayoi Kusama que você pode ver gratuitamente.
Deixamos o Gion Corner e caminhamos cerca de 15 minutos pelo bairro até o parque Maruyama (coloque Maruyama Park no Google Maps).
Já não havia mais cerejeiras floridas em Kyoto, então o parque estava tranquilo, bom para uma caminhada e um lanche que serviu de almoço (tem lanchonetes no local).
Há lagos, templos e muita área verde no parque, mas não quisemos ficar muito por ali porque o próximo templo nos esperava.
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Nanzen-ji e seu aqueduto
Caminhamos por cerca de 25 minutos ao norte até o Nanzen-ji (coloque desta maneira no Google Maps), um templo enorme na base das montanhas Higashiyama, no leste da cidade.
A entrada custou 500 yens, mas a maior atração do Nanzen-ji é gratuita, localizada em sua área pública: um aqueduto bem conservado e impressionante, construído na Era Meiji (1868-1912). É o único templo de Kyoto com uma construção do tipo.
A arquitetura do aqueduto contrasta com as demais construções do templo e seu imenso portão Sanmon, que data do século XVII e é um dos mais bonitos que vimos na cidade.
Os 500 yens do ingresso dão acesso a outras edificações principais do templo (incluindo o Hojo), que guardam pinturas e belos jardins de pedra.
O Caminho do Filósofo
Nossa próxima parada foi uma das atrações mais buscadas em Kyoto: o Caminho do Filósofo (Philosopher’s Path nos guias em inglês). Este caminho de pouco mais de dois quilômetros de extensão liga a área do templo Nanzen-ji, ao sul, com o templo Ginkaku-ji (Pavilhão Prateado), ao norte.
Para encontrar a ponta sul, a mais próxima do Nanzen-ji, colocamos o Santuário Kumanonyakuoji (Kumanonyakuoji Shrine) no Google Maps. Ali começa (ou termina, dependendo de onde você estiver vindo) o caminho que o filósofo Nishida Kitaro percorria enquanto meditava.
A caminhada contemplativa margeia um canal e é coberta por diversas árvores, a maioria cerejeiras. Quando as flores estão no auge, este é um dos lugares mais procurados por turistas de Kyoto (deve ser o mais lindo também).
Como chegamos à cidade pouco depois das flores caírem, encontramos o caminho bastante tranquilo (do jeito que preferimos), mas não menos bonito. As poucas cerejeiras que permaneciam floridas eram disputadas para fotos.
Paramos em um simpático café mais ou menos na metade da caminhada (há diversos restaurantes no local), e prosseguimos tirando muitas fotos e admirando o profundo bom gosto de quem teve a ideia de plantar cerejeiras e construir esse calçadão de pedras ao longo do canal.
Há quem procure o Caminho do Filósofo para tentar reproduzir a experiência espiritual de Nishida Kitaro, mas nossa passagem por lá representou um respiro muito bem-vindo à maratona de templos que encaramos na viagem.
Ginkaku-Ji, o Pavilhão Prateado
Mas ainda havia mais um templo — o quinto do dia — na nossa programação. No fim do Caminho do Filósofo, ao norte, você encontra facilmente a entrada para o Ginkaku-ji, ou Pavilhão Prateado (coloque Silver Pavillion ou Ginkaku-ji no Google Maps), um dos mais visitados de Kyoto.
A entrada para o Pavilhão Prateado custa 500 yens e, por ser um dos mais populares da cidade, é melhor visitado no começo do dia ou no fim da tarde.
Chegamos na entrada por volta das 16h, uma hora antes do fechamento, o que nos deu tempo suficiente para percorrer todo o trajeto dentro dos espetaculares jardins do templo. Apesar do nome, ele não tem nada a ver com o famoso Pavilhão Dourado (Kinkaku-ji).
São visitas completamente diferentes. Os destaques do Ginkaku-ji são seus jardins de areia (diferentes de tudo o que você vai ver na cidade), além de uma curta trilha na parte de trás dos jardins, que adentra a floresta da propriedade.
Do alto da trilha você pode admirar todo o templo e ver Kyoto ao fundo. O Ginkaku-ji acabou sendo meu templo preferido do dia por conta da beleza única do seu paisagismo.
Um rolê pela Estação Kyoto
Saímos do Pavilhão de Prata por volta das 17h e pegamos um ônibus (pagando com o SUICA) que nos levou até a Estação Kyoto em cerca de 45 minutos. Já havíamos passado por lá algumas vezes, mas agora queríamos entender a estação um pouco melhor — se é que isso é possível.
A Estação Kyoto é tão grande (e confusa) que abriga pelo menos quatro grandes áreas de alimentação, um hotel, dois shoppings subterrâneos e a loja de departamentos Isetan, que tem inacreditáveis 10 andares.
Demos uma volta por todas essas áreas e paramos por alguns minutos para ver a escadaria na ala oeste da estação, um colosso de 11 andares de altura. É uma atração bem… estranha.
Ela parece existir apenas por conta das lâmpadas LED que formam um telão ao longo dos degraus. As animações projetadas nos degraus têm trilha sonora e muitas referências à cultura pop japonesa.
Da estação voltamos ao hotel, completamente exaustos, e curtimos um pouco o onsen oferecido no prédio anexo (com água aquecida artificialmente).
Saímos para jantar em outro restaurante de ramen ao norte da estação e voltamos logo para descansar. Caminhamos quase 30 quilômetros nesse primeiro dia de andanças pela cidade, mas a maratona seguinte seria ainda mais puxada (e não menos agradável).
Mala de bordo nas medidas certas
Dia 12: Kyoto (o lado oeste)
Madrugando na floresta de bambus
No nosso segundo dia completo em Kyoto, acordamos bem cedo e fomos até a estação central, onde tomamos café e pegamos um trem para a estação Saga-Arashiyama usando nosso JR Pass. Dali, exploraríamos a pé toda a região oeste da cidade, começando pela floresta de bambus de Arashiyama (coloque Arashiyama Bamboo Forest no Google Maps).
A floresta, um bambuzal fotogênico e impressionante, localizado entre templos aos pés das montanhas de Arashiyama, fica a uma caminhada de cerca de 10 minutos da estação Saga-Arashiyama.
Chegamos cedo, por volta das 7h30, porque queríamos explorar a floresta com tranquilidade, sem muita gente.
Este é um dos pontos mais visitados e fotografados de Kyoto — turistas se acotovelam com moradores fazendo ensaios fotográficos no local –, então é melhor programar-se para madrugar e curtir o lugar com a tranquilidade que ele merece.
Não há cobrança de entrada. Depois das 9h, o caminho por entre o bambuzal já beirava o intransitável, e a paz que o lugar evoca já havia desaparecido entre selfies e turistas chinesas vestidas de gueixa.
Tenryu-ji: muito prazer, ‘cenário emprestado’
Do bambuzal, partimos para nosso primeiro templo do dia: o Tenryu-ji (coloque Tenryu-ji Temple no Google Maps), localizado na entrada da floresta de bambu. A entrada para os jardins custa 500 yens — mais 300 se você quiser entrar nas edificações do templo.
Nós pagamos apenas a entrada para os jardins, que são o grande destaque deste templo zen. Além dos jardins de rochas, o Tenryu-ji guarda um dos melhores exemplos de jardins construídos com a técnica do ‘cenário emprestado’ (shakkei), onde as plantas do jardim se confundem com as montanhas ao fundo, num degradê de cores.
Parte da floresta de bambu de Arashiyama adentra o jardim do templo. Há muitos cantos fotogênicos nessa visita, e vale ficar pelo menos uma hora flanando por ali, curtindo os detalhes.
O parque de macacos
Do Tenryu-ji, atravessamos a ponte Togetsu-kyo sobre o rio Katsura (de onde se tem uma vista ótima das montanhas e do vale escavado pelo rio) em direção a outra atração bastante popular do lado oeste de Kyoto: o Arashiyama Monkey Park Iwatayama (coloque deste jeito no Google Maps), um parque onde os macacos ficam soltos e os humanos (mais ou menos) presos nas jaulas.
Chegar à entrada do parque é bem simples a partir do Tenryu-ji – menos de 10 minutos a pé. O ingresso custa 550 yens. Mas o caminho da entrada do parque até o local onde os macacos-japoneses ficam é longo e íngreme.
É uma caminhada de pelo menos 30 minutos, montanha acima, que exige bastante esforço físico. Eu, com zero condicionamento, tive que parar várias vezes durante a subida para tomar fôlego.
Ao longo de toda a subida (que tem escadarias e uma calçada pavimentada), diversas placas em japonês e inglês dizem como os visitantes devem se comportar: jamais tocar nos macacos, não ficar a menos de 3 metros deles e (pasmem) não olhar os bichos nos olhos (!).
No topo da montanha, os macacos-japoneses (de carinha vermelha) vivem soltos. Eles são da mesma espécie encontrada em Nagano, onde adoram tomar banho de águas termais em meio à neve (você já deve ter visto fotos dessa cena por aí).
Os macacos-japoneses de Kyoto são animais selvagens que podem atacar se provocados (um deles chegou a subir numa pessoa do nosso grupo).
O parque não é um zoológico, mas uma área construída para receber os humanos que querem ver os bichos de perto, em seu habitat natural nas montanhas. A vista de Kyoto lá do alto é especial — macacos sortudos, esses.
É possível alimentar os macacos com uma ração comprada no local, mas para isso você deve entrar numa ‘jaula’ com outros humanos, e dar a ração aos macacos que, do lado de fora, esticam as mãozinhas até você.
Tenho lá minhas dúvidas se essa interação é muito saudável para os bichos, mas eles vivem completamente soltos na montanha, e os funcionários do parque acompanham os turistas de perto para garantir que nenhuma das regras de visitação seja quebrada.
Em determinadas horas do dia os funcionários também alimentam os macacos no pátio principal do parque, no meio de todo mundo. A cena, para mim, parecia saída de um filme de terror: dezenas de macacos surgiram de todos os lados em direção à comida, fazendo barulho e passando próximos aos visitantes.
Almoço e Okoshi Sanso
Do parque dos macacos, pouco antes do meio-dia, descemos a montanha em direção à ponte Togetsu-kyo e almoçamos num dos diversos restaurantes dos arredores. Aproveitamos também para experimentar alguns doces e chás nas docerias e cafés locais.
Nossa próxima parada depois da comilança foi a Okochi Sanso Villa (escreva Okochi Sanso Garden no Google Maps), uma propriedade que pertencia ao ator japonês Okochi Denjiro, intérprete de samurais no cinema e morto em 1962.
A villa que ele construiu durante 30 anos é um arraso — jardins impecáveis e coloridos, arquitetura de encher os olhos e uma vista surreal do vale do rio Katsura e das montanhas de Arashiyama.
A entrada é cara: são 1.000 yens para zanzar pela propriedade, mas o ingresso dá direito a um chá verde com docinho que valem pelo menos metade do preço. Além disso, a villa é relativamente pouco procurada por turistas, mesmo estando localizada atrás da superpopular floresta de bambu.
É um momento de tranquilidade e contemplação praticamente garantido em qualquer hora do dia.
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Jojakko-ji e seus jardins de musgo
Nossa parada seguinte também foi um lugar tranquilo a 5 minutos de caminhada da villa: o templo Jojakko-ji (coloque Jojakko-ji Temple no Google Maps), o segundo do dia.
O Jojakko-ji está longe de ser um dos templos mais procurados ou impressionantes de Kyoto, mas ele vale a entrada de 500 yens por permitir um respiro em meio às multidões de Arashiyama. No entanto, o que mais me chamou a atenção neste templo foram seus imensos jardins de musgo.
Jamais pensei que musgos cobrindo construções e dominando jardins inteiros pudessem compor paisagens tão impressionantes quanto as que vimos aqui.
Mais musgo: Gio-ji
O templo que visitamos depois, a 12 minutos de caminhada ao norte do Jojakko-ji, também se encaixava na categoria ‘briófitas’. O Gio-ji (coloque assim no Google Maps) é minúsculo, mas está completamente coberto de musgos (de diversas espécies e tonalidades de verde).
Não há muito para ver neste templo encravado na floresta fora a paisagem úmida (e majoritariamente verdinha durante a primavera) proporcionada pelos musgos, mas a visão é singela e me ajudou a ‘descansar’ o olhar depois de tantos templos e jardins coloridíssimos vistos no últimos dias.
O combo que dá direito à entrada no Gio-ji + entrada no templo Daikaku-ji (sobre o qual falarei mais adiante) custa 600 yens. Guarde o ingresso do Daikaku-ji (que custaria 500 yens se comprado sozinho) para usar mais tarde no mesmo dia. O Gio-Ji acaba tendo um ótimo custo-benefício por isso.
Adashino Nenbutsuji, o templo das 800 estátuas
Já eram quase 3 da tarde quando partimos em direção ao quarto templo do dia, o Adashino Nenbutsuji (coloque Adashinonenbutsu-ji Temple no Google Maps), a 10 minutos de caminhada do Gio-ji.
Para chegar ao Adashino (vou chamar assim para facilitar) saindo do Gio-Ji, você vai passar por uma rua linda, a Saga-Toriimoto, cheia de casas preservadas da Era Meiji. Hoje elas funcionam principalmente como lojas e restaurantes.
Apesar da beleza da área, este pedaço de Kyoto é bem pouco frequentado por turistas. O mesmo pode ser dito do Adashino, um templo budista de 1.200 anos que impressiona por abrigar 8.000 estátuas de pedra de Buda, antigamente usadas como lápides.
É uma visão única, completamente diferente da que tivemos nos outros templos de Kyoto. E o melhor: por não ser muito frequentado, é possível contemplar este templo com um sossego raro para os padrões de Kyoto. A entrada custa 500 yens.
O Adashino Nenbutsuji foi nosso templo favorito deste dia de viagem.
Daikaju-ji, para terminar o dia
Pouco antes das 4, seguimos ao norte em direção ao templo Otagi Nenbutsuji, a 13 minutos de caminhada do Adashino.
O plano era visitar o Otagi Nenbutsuji rapidamente e pegar um ônibus que nos levaria até aquele que seria o sexto e último templo do dia, o Daikaku-ji, mas ao consultar o Google Maps para verificar os horários do transporte, descobri que o último ônibus sairia dali 5 minutos.
Estávamos no meio de uma área remota de Kyoto, na frente do Otagi Nenbutsuji, e não quisemos arriscar perder o ônibus (táxi nenhum passava ali, e não há trem nessa parte da cidade). Sem ele, a alternativa seria caminhar quase 30 minutos até a nossa parada seguinte, e já estávamos exaustos.
Então esperamos os tais 5 minutos apontados no Google Maps e o ônibus surgiu pontualmente naquela estrada remota. Parou para nós e outros dois turistas que haviam saído do templo e nos levou em menos de 10 minutos ao Daikaku-ji.
Chegamos ao Daikaku-ji, nosso último templo do dia (o quinto, já que não entramos no Otagi Nenbutsuji), faltando pouco mais de 40 minutos para fechar. Tivemos tempo suficiente para curtir a riqueza e a história deste que é considerado um dos templos mais importantes da cidade.
A entrada já tínhamos: compramos o combo de ingressos no Gio-ji por 600 yens, como eu disse.
O Daikaku-ji tem quase 1.200 anos de história, boa parte dela como palácio imperial, e fica localizado à beira de um lago artificial, tão antigo quanto a fundação do templo. Há diversos edifícios em sua propriedade, muitos deles de uma cor vermelha que enche os olhos, e todos interligados por passarelas de madeira (que você vai percorrer em chinelinhos fornecidos pelo templo).
Adoramos o Daikaku-ji, e consideramos este o templo mais luxuoso do dia.
Dali, pegamos outro ônibus, desta vez em direção à estação Kyoto, onde compramos algumas coisinhas para comer no nosso hotel.
Chegamos depois das 6 da tarde completamente exaustos, muito mais cansados do que ficamos no dia anterior da viagem, e descobrimos o porquê: tínhamos percorrido a pé 45 quilômetros neste dia de passeio pelo lado oeste da cidade. Um recorde pessoal de caminhada em viagens que eu não devo bater tão cedo.
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Dia 13: Nara, Miako Odori e aniversário
Tiramos a manhã do terceiro dia completo em Kyoto — dia do meu aniversário — para fazermos um bate-volta a Nara, a primeira capital do Japão. Saímos do hotel cedo, por volta das 7h, porque queríamos estar de volta a Kyoto até as 14h.
Compramos nosso café da manhã na estação e pegamos um trem regional, da linha Nara (marrom), utilizando nosso JR Pass. Há diversos trens que ligam Kyoto a Nara, mas nem todos aceitam JR Pass.
Havia muitos estudantes nos vagões, e conseguir lugar para sentar foi difícil, mas o trem foi esvaziando à medida em que deixava os limites de Kyoto. A viagem neste trem levou cerca de 45 minutos.
Direto ao Parque Nara
Descemos na estação central de Nara e de lá dividimos um táxi com dois americanos até o Parque Nara (coloque Nara Park no Google Maps), onde estão localizadas as principais atrações da cidade.
vale um parênteses: o Parque Nara fica mais próximo de outra estação de trem, a Estação Kintetsu-Nara, mas ela é servida apenas por trens privados, que não são cobertos pelo JR Pass. Gastamos cerca de 1.000 yens no táxi entre a estação central e o parque.
Como dividimos o transporte com dois americanos, a corrida custou 250 yens por pessoa.
No Parque Nara, nossa primeira missão foi procurar pelos animais símbolos da cidade: veados que vivem soltos há séculos no local. Em minutos avistamos dezenas deles, próximos à entrada do templo Todai-ji. Foi só seguir a multidão de turistas.
Os bichos são dóceis e estão acostumados ao contato de humanos. Ali há, inclusive, senhoras vendendo biscoitos (sembei) feitos na hora, dados ainda quentinhos aos veadinhos. Compramos um pacote (por cerca de 200 yens) para dar de comida, e a doçura dos bichos deu lugar a um comportamento voraz, quase agressivo.
Há diversos cartazes com regras de como tratar os veados sagrados de Nara, mas não prestamos atenção a uma das recomendações mais importantes: se for dar de comer, não puxe o biscoito nem tente esconder a comida deles.
Eles vão procurar o alimento onde estiver, inclusive dentro da sua mochila ou de seus bolsos. Num ato impensado, acabei afastando o pacote de biscoitos do grupo de veados que me cercava, e em retribuição ganhei uma mordiscada na barriga, que eu senti mesmo vestindo uma blusa e uma camiseta.
Num lance digno de futebol americano, arremessei os biscoitos para o meu marido, a uns 10 metros dali, e os veados me deixaram em paz (mas cercaram o José, que imediatamente se livrou dos biscoitos restantes).
Dias depois, notei que o beliscão havia deixado um ferimento na minha barriga. Um machucado de verdade, que havia sangrado e eu nem tinha percebido.
Medo. Pânico. Preocupação.
Procurando no Google por ‘mordida de veados de Nara’ (talvez a busca mais bizarra que eu já tenha feito numa viagem…), descobri que essas feridas não causam doenças como raiva (os veados de Nara não são morcegos nem cachorros, afinal), mas que os bichos já foram responsáveis pela morte de alguns turistas ao longo dos últimos anos, com coices fortes e mordidas mais agressivas.
Por precaução, apliquei uma pomada antibiótica na ferida só pra garantir que ela não infeccionasse. De todo modo, lembre-se: Dê. O. Biscoito. Aos. Veados. Ou, se quiser ser mais prudente, apenas observe outros turistas se metendo nessa enrascada.
Depois do pequeno incidente com os veados de Nara, entramos no Todai-ji. Tudo é colossal neste templo importantíssimo para a história do Japão e do budismo, construído em 752.
O ingresso para o Todai-ji custa 600 yens e dá direito à entrada no Daibutsuden (ou Salão do Grande Buda) a maior edificação em madeira do mundo. A estrutura abriga uma estátua de bronze do Buda com 15 metros de altura, uma das maiores do Japão.
A estátua é tão grande que sua mão aberta tem a altura de um ser humano. O Todai-ji é superlativo em tudo – nas dimensões, na beleza, na história. Vale sozinho o bate-volta a Nara. Ficamos bastante tempo admirando aquela imensidão com calma, observando detalhes do Grande Buda e da arquitetura milenar do Daibutsuden.
Andamos um pouco mais pela área (evitando contato direto com os veados, óbvio) e partimos para o jardim Isuien (coloque Isuien Garden no Google Maps), ainda nos limites do Parque Nara, a 10 minutos do Todai-ji.
Pagamos a entrada de 900 yens para conhecer este jardim que também utiliza a técnica do cenário emprestado (shakkei).
O Isuien é construído ao redor de lagos formados pelo rio Yoshikigawa, e tem diversas casas de chá espalhadas pelo terreno. Não chega aos pés da beleza do jardim Kenrokuen de Kanazawa, mas vale a visita.
Uma passadinha no Kofuku-ji antes de voltar
Do Isuien, caminhamos até o outro templo que estava na nossa lista de Nara: o Kofuku-ji, a 10 minutos do jardim. O Kofuku-ji tem o segundo pagode mais alto do Japão, com 50 metros de altura. O templo é todo aberto, com apenas algumas áreas pagas, a do museu e a do salão do lado leste.
O salão principal do Kofuku-ji está coberto por redes e tapumes, sendo reconstruído, portanto fechado para visitantes até o fim de 2018. Andamos pelo terreno admirando as construções apenas pelo lado de fora.
Do Kofuku-ji voltamos caminhando para a estação de Nara, parando para comprar nosso almoço numa 7-Eleven. Em 20 minutos chegamos à estação e pegamos nosso trem para Kyoto, novamente utilizando o JR Pass.
Miyako Odori, o espetáculo de gueixas
Queríamos chegar cedo em Kyoto porque tínhamos ingresso para o Miyako Odori, o show de gueixas da cidade que acontece apenas durante a primavera, geralmente em abril.
A apresentação estava marcada para as 16h, e aconteceria no teatro da Universidade de Artes e Design de Kyoto (Kyoto University of Art and Design no Google Maps), na região noroeste da cidade.
Fomos de metrô até a estação Kuramaguchi e de lá pegamos um táxi até o teatro. Incluída no ingresso estava a participação numa cerimônia de chá, preparada por uma gueixa, mas a experiência não foi tão interessante porque a cerimônia era assistida por mais de 100 pessoas que aguardavam a entrada no teatro.
A apresentação do Miyako Odori, por sua vez, valeu cada um dos 4.600 yens pagos pelo ingresso (compramos as entradas no Gion Corner, dois dias antes).
É um show tradicional, que existe há quase 150 anos, e é frequentado mais por locais. Conta a história da passagem das quatro estações pela cidade de Kyoto, misturando música ao vivo, dança e teatro.
Para ocidentais como nós, foi uma explosão de talento, cores e sons delicados que nunca havíamos visto ou sentido. É uma exibição completa de todas as artes que as gueixas precisam dominar — as veteranas, inclusive, participam do show tocando instrumentos e cantando. Saí do teatro meio anestesiado e maravilhado.
Fim de tarde no parque do Rio Kamo
Do teatro do Miyako Odori, pegamos um táxi até a altura da estação de trem Demachiyanagi (coloque assim no Google Maps), à beira do rio Kamo. Queríamos caminhar pelo parque que margeia todo o rio, e fizemos isso por quase uma hora, pouco antes do sol se pôr.
Adoramos cruzar o rio de uma margem a outra por cima das pedras em formato de tartaruga, dispostas em vários pontos do rio. Caminhamos até a estação Sanjo do metrô, onde pegamos o trem até a estação Kyoto, a mais próxima do nosso hotel.
Wagyu de aniversário
Ainda tivemos tempo de descansar no hotel antes de nos arrumarmos para jantar. Tínhamos reserva no restaurante Yakiniku Hiro, especializado em carne de Wagyu, que tem algumas unidades na cidade.
O restaurante foi recomendação do concierge do hotel, que também reservou uma mesa para nós — queríamos comemorar meu aniversário, então liberamos um pouco mais o orçamento.
Escolhemos a unidade mais próxima da estação Kyoto e fomos a pé. As carnes no Hiro são grelhadas ao estilo coreano, com uma pequena churrasqueira instalada na mesa.
Você escolhe os cortes no cardápio, recebe as carnes cruas, com acompanhamentos, e grelha tudo por conta própria. Foi um jantar delicioso, que fechou bem nosso terceiro dia completo em Kyoto. Custou cerca de 8.000 yens para duas pessoas, com bebidas.
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Dia 14: clássicos de Kyoto
Outro para ir de manhãzinha: Fushimi Inari
Quando eu digo para visitar bem cedo alguns dos pontos turísticos mais populares de Kyoto, eu falo sério. E o santuário Fushimi Inari (escreva Fushimi Inari-taisha no Google Maps) talvez seja o lugar onde isso mais se faz necessário. Famoso no mundo todo pelos milhares de torii (portões) vermelhos espalhados ao longo de uma trilha montanha acima, o santuário tem entrada gratuita e fica aberto 24 horas por dia.
Sim, é possível percorrer toda a trilha, passando pelos torii, de noite ou de madrugada, mas é de dia, com a luz do sol estourando o vermelhão dos portões, que a beleza clássica do Fushimi Inari aparece. E adivinhe: 99% dos turistas que visitam a cidade terão a mesma ideia que você.
Mas se você aparecer lá por volta das 7 da manhã (ou antes) como fizemos, vai ter pelo menos uma hora e meia do Fushimi Inari e de todos os torii para você e alguns poucos turistas madrugadores.
Aproveite para fazer muitas fotos (este é o templo mais instagramável de Kyoto), caminhar com calma pela trilha e reparar nos detalhes dos torii, nas diversa estátuas de raposas (tidas como as mensageiras do santuário) e nos pequenos templos que você encontrará pelo caminho.
Nós não subimos até o topo da montanha porque a partir de certo momento aquele cenário impressionante deixa de… impressionar. Demos meia volta na interseção Yotsutsuji (mais ou menos metade da trilha ascendente), e de lá descemos pelo mesmo caminho.
Depois das 8h30 o Fushimi Inari ferve de turistas, não importa a época do ano, e o passeio chega a ficar desagradável — a trilha é relativamente estreita para tanta gente.
Para chegarmos ao Fushimi Inari, pegamos o trem na estação Kyoto (com nosso JR Pass) e descemos na estação Inari. Como esta é a mesma linha de trem local que vai até Nara, você também pode combinar esses dois passeios no mesmo dia, se não seguir este roteiro.
Tofuku-ji, bonito em qualquer estação
Do Fushimi Inari, fizemos uma caminhada agradável de 20 minutos, parando para um café, até o templo Tofuku-ji (escreva desta maneira no Google Maps).
Este templo zen é mais visitado no outono, quando as folhagens de suas árvores (bordos, carvalhos) ganham todas as cores do mundo, mas gostamos tanto do passeio por ele que acho que o templo deve vale a pena em qualquer estação. Há dois ingressos no Tofuku-ji.
Um deles custa 400 yens e dá acesso à área da ponte Tsutenkyo e da floresta, que fica lotada no outono. A ponte é espetacular e tem uma vista linda, acima das árvores.
Este ingresso também dá acesso a alguns jardins nos fundos do templo. O outro ingresso, que também custa 400 yens, dá acesso aos edifícios do Hojo, os aposentos do sacerdote, que são rodeados por jardins zen lindíssimos (rochas e musgos formando muitos padrões diferentes).
Sanjusangen-do, para guardar (só) na memória
Já eram cerca de 10h30 quando saímos do Tofuku-ji e pegamos um táxi até o terceiro templo do dia: o Sanjusangen-do (coloque desta maneira no Google Maps).
A corrida ficou em cerca de 1.200 yens. Tínhamos ouvido falar muito bem do Sanjusangen-do, e por se tratar de um dos poucos templos de Kyoto onde fotografias não são permitidas (a não ser do lado de fora), nossa expectativa era alta.
É meio difícil descrever o impacto de se entrar no salão principal do Sanjusangen-do sem soar hiperbólico. Por fora, nada demais — apenas uma construção longa, de 120 metros de comprimento, relativamente modesta. É dentro do salão que todo mundo se impressiona.
Você paga 600 ens e entra por uma das laterais do edifício, dando de cara com centenas de estátuas da deusa Kannon, construídas entre os séculos 12 e 13, todas detalhadíssimas em seus 42 braços cada.
A estátua central, localizada bem no meio desse corredor de 120 metros, é enorme, talhada em madeira.
Do seu lado esquerdo ficam 500 estátuas de Kannon, dispostas em 10 fileiras, cada uma do tamanho de uma pessoa. Do lado direito, outras 500 estátuas iguais, dispostas da mesma maneira. Total: 1.001 figuras de Kannon, a deusa da misericórdia, espalhadas ao longo do gigantesco corredor, e guardadas por outras 28 estátuas de entidades guardiãs.
É uma visão inesquecível, que você só vai poder guardar na memória, sem a ajuda de máquinas fotográficas — e melhor que seja assim.
Contemplar calmamente aquele corredor com cada uma das 1001 estátuas milimetricamente alinhadas acabou sendo a minha experiência favorita em toda a cidade de Kyoto e uma das visões mais impressionantes de toda a viagem pelo Japão. E isso não é pouca coisa.
Almoço no Mercado Nishiki
Por volta do meio-dia, deixamos o Sanjusangen-do e caminhamos até a estação Shichijo, onde pegamos um trem da linha Keihan (privada, portanto não aceita o JR Pass) até a estação Gion-Shijo.
Para isso usamos nosso SUICA. Dali, caminhamos por uns 10 minutos até o Mercado Nishiki(Nishiki Market no Google Maps), onde queríamos almoçar. Este calçadão (coberto por um teto colorido, como outros mercados que vimos no Japão) se estende por 5 quadras do centro de Kyoto.
Ao longo dele há mais de 100 bancas de comida e restaurantes, e muita, muita gente se espremendo pelo corredor estreito formado pelos estabelecimentos. Era um sábado, hora do almoço, e em alguns pontos não tivemos outra opção a não ser deixar a multidão nos levar.
Não foi uma experiência das mais agradáveis, mas conseguimos experimentar algumas coisas gostosas ali (de espetos de camarão a bolinhos fritos de chocolate).
Um hit local, presente em muitas das banquinhas, eram pequenos polvos recheados com um ovo de codorna e servidos no espeto. Não comemos por pura pena dos bichos…
Há diversas opções de restaurantes nas ruas que cortam a passarela do Mercado Nishiki, então se você se sentir sufocado pela multidão deve encontrar lugares mais tranquilos não longe dali.
Rumo ao noroeste: Ninna-ji e Ryoan-ji
Por volta das 14h, colocamos nosso próximo templo no Google Maps: o Ninna-ji, na região noroeste da cidade. Para chegar lá, pegaríamos um ônibus na área central, onde estávamos, usando nosso SUICA.
Foi a primeira e única vez em toda a viagem que um veículo de transporte público não apareceu no horário indicado pelo Google Maps no Japão. Esperamos cerca de 15 minutos a mais pelo ônibus, que demorou outros 45 minutos para chegar à área noroeste da cidade.
Descemos no Ninna-ji, que normalmente é visitado com outros dois templos localizados na mesma área: o Ryoan-ji e o famosíssimo Kinkaku-ji (Pavilhão Dourado).
Como chegamos à área já por volta das 15h, achamos melhor não entrar no Ninna-ji, e visitamos apenas a sua área gratuita, ao redor do pagode. Dali, caminhamos por 15 minutos até o Ryoan-ji (coloque assim no Google Maps).
O Ryoan-ji abriga o mais famoso jardim de pedras do Japão e é um templo bastante popular — portanto, melhor programar a visita para o começo da manhã ou o fim da tarde, como fizemos.
A entrada custa 500 yens. Confesso que não me impressionei com este jardim zen (achei o do Tofuku-ji bem mais bonito), mas ele é patrimônio mundial da UNESCO e tem uma importância enorme para o budismo japonês.
Observamos o jardim por algum tempo, sentados com outros turistas na varanda do edifício principal. Dali, repare como você só consegue observar 14 das 15 rochas dispostas sobre o cascalho branco.
Não importa onde você se sentar na varanda, vai sempre deixar de ver uma das 15 rochas. Há diversas interpretações sobre o significado do desenho deste jardim zen, nenhuma definitiva.
Há quem veja nele apenas uma imagem abstrata; outros conseguem enxergar a imagem de um tigre carregando seus filhotes. Mas entre o ‘decifra-me’ e o ‘te devoro’, acabamos devorados pelo mistério do jardim do Ryoan-ji.
O templo, além do jardim zen, guarda também jardins mais tradicionais – com plantas – espalhados ao redor do lago Kyoyochi. Dá para caminhar por um bom tempo por suas várias trilhas.
Fizemos a volta completa ao redor do lago e nos dirigimos ao sexto e último tempo do dia: o Kinkaku-ji (conhecido também como Pavilhão Dourado).
Chave de… ouro: Pavilhão Dourado
Pegamos um táxi até o Kinkaku-ji — uma corrida de cerca de de 1.200 yens que poderia ser uma caminhada de 20 minutos se não estivéssemos cansados e com medo de não visitar com calma nosso último templo em Kyoto.
Chegamos à bilheteria por volta das 16h20, faltando 40 minutos para o templo fechar. Enfrentamos uma fila que andou rapidamente e pagamos nossos ingressos de 400 yens cada. Mesmo no fim do dia e debaixo de uma chuva fininha havia muita, muita gente no Pavilhão Dourado. Muito mais do que vimos em qualquer outro templo da cidade.
O Kinkaku-ji é o cartão postal de Kyoto. A Torre Eiffel deles. Aparece em todo e qualquer guia sobre o Japão, e por conta da sua popularidade, é outro templo que deve ser visitado no começo da manhã ou no fim da tarde. Se faltando 40 minutos para fechar ele já me pareceu cheio, não consigo nem imaginar como deve ser por volta das 10 da manhã, quando dezenas de ônibus de turistas chineses estacionam no local.
A visita ao Kinkaku-ji segue uma trilha de mão única. Você só pode andar em frente, sem voltar. Guardas e voluntários organizam o fluxo de turistas ao longo do caminho, e chegam a controlar a direcionar os fotógrafos mais demorados a uma área à esquerda de quem entra, para não interromper o fluxo.
Dali você pode tirar a foto clássica do templo refletido no lago — possível até num dia nublado, como o nosso. É só esperar os outros turistas terminarem suas selfies.
O Pavilhão Dourado realmente proporciona uma visão impressionante. Cada um de seus andares tem um estilo arquitetônico diferente, e os dois últimos pisos são inteiramente cobertos por folhas de ouro.
O edifício atual foi reconstruído em 1955 (depois que um monge fanático ateou fogo à construção), mas a fundação do templo data de 1408. A trilha do templo rodeia o lago e passa atrás do pavilhão, de onde você pode fazer fotos diferentes (e até mais bonitas do que a clássica, com a imagem refletida no lago). Há bem menos gente parada naquele ponto.
Depois de observar o pavilhão de todos os ângulos possíveis, você atravessa os belos jardins que sobem por uma colina atrás do edifício. A trilha termina em algumas lojas, próximas da entrada do templo.
Dica quente: seu ingresso dá direito a uma reentrada, o que fizemos faltando 10 minutos para o templo fechar. A segunda caminhada pelo circuito foi bem mais tranquila.
Por ser muito, muito visitado, você não vai ter no Kinkaku-ji a experiência quase transcendental proporcionada por outros templos de Kyoto. Seu grande atrativo é o Pavilhão Dourado, e há poucas surpresas no passeio.
Mas é um programa clássico e inevitável na cidade. Acho que fizemos bem em deixar por último: Kyoto já havia nos surpreendido o suficiente nos últimos dias, e o Kinkaku-ji, apesar de tudo, fechou com chave de ouro (epa) nossa rolê turístico pela cidade. Ninguém nos apressou, e saímos de lá por volta das 17h20.
Do Kinkaku-ji, pegamos um ônibus para a estação Emmachi, e dela um trem para a estação Kyoto (usamos nosso JR Pass). Jantamos no AEON Mall, um shopping próximo da estação, compramos algumas lembranças por ali e voltamos para o hotel.
A arrumação de malas nos aguardava. No dia seguinte, partiríamos cedo para Hiroshima.
O que faltou na nossa visita
Deixamos de visitar muita coisa recomendada em Kyoto. Não passamos pelo Palácio Imperial nem pelo Castelo de Nijo, não conseguimos visitar os elogiados museus da cidade (especialmente o Kyoto Railway Museum) e não vimos de perto o maior pagode do Japão, o do templo Toji, localizado bem próximo do nosso hotel.
Mas nesses 4 dias e 5 noites andamos pela cidade inteira e nos apaixonamos por seus templos e bairros históricos. Numa segunda visita, com os pontos turísticos mais importantes já vistos, Kyoto deve funcionar como Paris e Nova York: fica ainda melhor.
No próximo post (o último da série), nosso passeio por Hiroshima, Miyajima e Himeji, e os dias divertidos nas duas Disneys de Tóquio: a Disney Sea e a Tokyo Disneyland.
- Introdução: 10 dicas práticas
- Parte 1: Tóquio
- Parte 2: Takayama e montanhas
- Parte 3: Kyoto e Nara
- Parte 4: Hiroshima, Himeji e Disneys
15 comentários
Quase retirando Nara do meu roteiro! Fiquei rindo e depois pensando em como ficar bem afastada de todos os animais famintos e sem educação. Super interessante seu relato, parabéns. Parques cheios de macacos nem pensar…
Simplesmente amando essa sua experiência compartilhada! Muito obrigado!
Estive no Japão em abril e aproveitei muito as dicas do Diego. Muito obrigada!
Queria então deixar uma dica para quem não quiser pegar um taxi da estação de Nara para o parque. Dá para ir de ônibus que sai do ponto número 2, logo em frente à saída da estação.
O número do ônibus também é 2 e você compra a passagem no ônibus, direto do motorista. Se não me engano, o valor é 120 yens. Tem um ponto bem dentro do parque, próximo aos templos. Para voltar para a estação também é bem tranquilo com este mesmo ônibus.
Diego, tenho planos de viajar fim de março e estou encantada com teus posts, obrigada pela resposta anterior.
Fiz um esboço de roteiro e peço tua opinião. Por gentileza diga o que vc retiraria ou acrescentaria ou se invertes algumas cidades
Toquio De 31 ate 5 de abril
Takayama de 5 a 6 abril
Shirakava de 6 a 7 de abril
Hiroshima de 7 a 9 de abril
Himeji e Nara 9 a 10 de abril Sigo para Kioto logo ?
Kioto de 10 a 14 de abril
Osaka de 14 a 15 de abril qdo viajo pa Pequim para fazer uma excursao
O que achas ? o que retirarias ou acrescentarias ? Imverterias algumas cidades ?
Aguardo tua resposta e um SUPER OIBRIGADA
Ah, conheces Seul ? achas que vale a pena ? meus planos são de finalizar em Hong Kong e Macau, Obrigada
Oi Cecília! Com internet no celular pra se locomover e traduzir, e inglês pra entender o básico de placas e orientações em estações de trens e metrôs, dá pra se virar muito bem! Fique tranquila.
Diego, eu e meu marido ja viajamos com meu ingles basico de viagem por td a antiga Yguslavia ( Eslovenia Croacia Bosnia Montenegro etc ) seguindo meu proprio roteiro e de carro.. La eles não falam quase nada de ingles. Vc acha que eu consigo me virar bem no Japao seguindo tuas sugestoes ?
Parabéns Diego pelo planejamento minucioso e pela envolvente descrição da viagem. Deixa uma vontade enorme de pegar o próximo voo para Tóquio e repetir tudinho! Como você e tantos leitores do VnV, as pesquisas aprofundadas em muitas leituras de blogs e sites já iniciam a viagem.
Obrigado, Valerie! 🙂
Ola! Estou encantada com os relatos! Meu grande sonho de viagem sempre foi conhecer o Japão ! confesso que tenho acessado o site do Viaje várias vezes durante a semana apenas pra ver se já foi publicado os novos textos da viagem! Diego, quais foram as suas fontes de pesquisa para fazer essa viagem? Se possível, você poderia compartilhar conosco? Outra coisa… meu inglês é apenas intermediário… acha que rola fazer uma viagem sem guias ou agencias de turismo? Muito obrigada pelos relatos e pelas fotos!!! Estou amando!
Oi, Raquel, tudo bem? Eu usei bastante o site que indiquei neste texto, chamado Travel Caffeine, mas principalmente o completíssimo Japan Guide (https://www.japan-guide.com/), ambos em inglês. Se você já viajou para países de língua inglesa e se virou bem, não deve ter problemas lá. As placas estão sempre em inglês e japonês. Para se comunicar não deve ter problemas também, desde que siga as dicas que eu dei, de usar Google Tradutor, por exemplo, e internet no celular o tempo todo.
Legal Diego! Obrigada pelas dicas!
Diego, parabéns pelos detalhes dos relatos. E, parabéns também por acordarem tão cedo em viagem. Estou admirada com tanta energia.
Obrigado, Anna! A disposição em acordar cedo, na verdade, é parte jet lag, parte empolgação 🙂
Vocês não imaginam a saudade que bate vendo esse post publicado aqui 🙂
(E tá tudo bem depois da mordida, a propósito)