Terra do Fogo: o cruzeiro Australis, pingüins, pesca e sobrevôos
Enviada especial | Carmem Almeida
Leia a primeira parte desta aventura aqui.
Água
Você pode ver quase todas as belezas do fim do mundo confortavelmente instalado numa cabine de navio. Da sua cama dá pra ir vendo tudo pela janelinha: glaciares e montanhas da Cordilheira Darwin, icebergs, ilhas, baías, condores, albatrozes.
A temperatura é agradável, a comida é boa, o bar está sempre aberto pra uma cerveja, um vinho, um pisco e você não paga nada mais por isso.
Agasalhando-se bem, você pode sair aos decks e ver essas belezas ainda mais nitidamente e fazer fotos e mais fotos enquanto navega pelo Estreito de Magalhães, Canal de Beagle e belos fiordes nevados.
Vestindo um colete salva-vidas e saindo num bote Zodiac, você chega lá e põe as mãos – os pés, os olhos e as lentes – nessas mesmas belezas. Vai perder?
Tô falando dos Cruzeiros Australis pela Patagônia.
Viajamos no Stella Australis, no sentido Punta Arenas/Ushuaia e só lamento o mau tempo que não permitiu que desembarcássemos no Cabo Horn… No mais, recomendo fortemente!
Balança? Um pouquinho, sim. Mas nada que um antiemético não resolva…
O que não tem jeito mesmo é a impossibilidade de comunicação externa. Não há um mínimo sinalzinho de celular ou internet. Nem mesmo uma TV, pra saber das últimas notícias. Mas se você não é um plugadomaníaco, nem vai notar… Eu senti falta, confesso!
Passamos três noites a bordo, com desembarques na Baía Ainsworth de frente pro Glaciar Marinelli, Ilhotas Tuckers pra ver pingüins e cormorões, Glaciar Pía com seus 7.200 km² de puro gelo e Baía Wulaia, a mais linda de todas. Só faltou mesmo o Cabo Horn.
Todos os passeios são acompanhados por guias. A nossa guia, Susana, era competentíssima! Contou-nos tudo sobre a flora, fauna e história dos lugares que visitamos. Eram tantas plantinhas…
Ao final de cada passeio, antes de pular pro barquinho de volta, sempre havia uma banquinha com chocolate quente e uísque com gelo milenar recolhido das geleiras do caminho.
Visitamos a casa de máquinas, a ponte de comando e a cozinha. Tudo impecável!
O dress code é o mais básico possível. Nada de jantar do capitão vestindo black tie, tenue de soirée e coisas do gênero. Esqueça o luxo e pratique a “ostentação” investindo numa roupa impermeável de qualidade, numa coleção de Buffs coloridos, num fleece quentinho e transado, luvas e gorros poderosos. Vai por mim, você não vai passar vergonha… nem frio.
A Cruzeiros Australis tem programas de 3, 4 e 7 noites para esse trajeto, além de outros roteiros. Depende do seu gosto, do seu tempo e do seu bolso. No site deles tem tudo explicadinho. Vai lá.
Agora, se a sua praia for outra, e você preferir um contato mais, digamos assim, direto com a água, o melhor é fazer um programa de pesca pelos lagos e rios da Terra do Fogo.
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Aí o esquema será outro. Glaciares, montanhas, ilhas, baías e aves serão apenas um cenário de fundo para as sessões de fly fishing, a principal modalidade de pesca da região.
Você será transportado com pompas e circunstâncias para as águas geladas dos lagos – nós fomos ao Deseado e ao Fagnano – ou para o famoso Rio Grande, a Meca da pesca patagônica, que tem parte de seu curso na Argentina e parte no Chile. Ali vivem, segundo o guia, dezenas de espécies de trutas, um verdadeiro paraíso para os aficcionados pela pesca com mosca.
Tudo o que eu sabia sobre pesca se resumia ao que eu vejo aqui da varanda do apê em Santos: homens – e raras mulheres – com uma vara, iscas e muita paciência, esperando que um peixe caia no seu anzol.
Mas o que aconteceu por lá é muito diferente disso. Trata-se de um verdadeiro ritual que inclui o uso de roupas adequadas para ficar dentro da água gelada (atenção, eu disse DENTRO!): uma espécie de macacão de material impermeável e botas.
As “moscas” usadas para atrair as trutas são uma belezura: coloridas, brilhantes. Se eu fosse uma truta certamente cairia de boca nelas. Mas isso não seria fatal, já que uma das regras ali é devolver à água toda e qualquer truta pescada. Pesca-se apenas pelo prazer de pescar.
Imprescindível para o sucesso da coisa é a contratação de um guia de pesca. É ele quem vai levar o pescador aos melhores locais, providenciar todo o material necessário e preparar todo o cenário: hospedagem, alimentação, transporte e o que mais for necessário.
As sessões de fly fishing são longas e, em geral, acontecem em lugares remotos. Para aproveitar todos os momentos e não ter que estar indo e vindo, os guias levam todo um arsenal de coisas, incluindo comida e bebida. Delícia estar ali no meio do nada e poder tomar uma caneca de sopa quentinha, comer uma salada, pães variados, queijos, frutas, vinhos, cervejas. Fala sério!
Funciona, viu? Eu mesma testemunhei uma tarde de pesca às margens do Rio Grande, precedida de um almoço ao ar livre com direito a cordeiro patagônico assado e muito vinho, como já contei no post anterior.
Os guias de pesca oferecem pacotes diários ou semanais, dependendo da opção do cliente.
Quer uma indicação? O Rafael Gonzalez, do Magallanes Fly Fishing, foi o guia da nossa viagem e eu senti firmeza no trabalho dele.
Com um pé na água e outro na terra, estão os pinguins.
Visitamos duas pingüineiras: a Seno Otway, em Punta Arenas e o Parque Pingüino Rey, na Baía Inútil, na Terra do Fogo.
Na primeira estariam os pingüins-de-magalhães e na segunda os pingüins-rei. Dizem que as colônias dessas aves são imensas, mas elas ainda não tinham chegado em massa para receber nossas visitas. Na Seno encontramos apenas cinco pingüinzinhos…
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Na Pingüino Rey havia um pouco mais, mas nem sombra daqueles milhares de casais esperados para a temporada que estava apenas começando. Portanto, anote aí, se quiser ver muitos pingüins, programe sua visita para os meses de dezembro e janeiro, que é quando as pinguineiras estão com sua densidade demográfica a todo vapor.
Mas não vá pensando que você vai chegar pertinho deles e tirar uma foto passando a mão na cabeça dos bichinhos. Nada disso, as pingüineiras são organizadíssimas e seguem rígidos princípios para não estressar os habitantes. O avistamento dos pingüins se dá a uma boa distância deles. Há inclusive limitação do número de visitantes por dia, portanto, antes de ir, agende!
A não ser que você tenha a “sorte” que nós tivemos… A caminho do Lago Fagnano, paramos numa praia: Caleta María. Ali encontramos companheiros inesperados: doze pingüins-reis, vindos ninguém sabe de onde. Enquanto os guias cuidavam de montar um belo picnic para o nosso almoço, aproveitamos pra “brincar” com os animais, sem limites.
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Só faltou pegar na mão dos bonitinhos. Nem preciso contar que, ao mostrar as fotos da nossa “intimidade” com os pingüins, levamos uma bronca do guia. Será que estressamos os animais? Eles pareciam tão amigáveis, tão felizes com a nossa presença…
Entre a terra e a água, vivem também os castores. E, ao contrário do que acontece com os pingüins, ninguém está interessado em preservá-los. Foram trazidos à região por motivos comerciais e acabaram se tornando uma praga.
Derrubam árvores e represam rios e lagos para construir suas casas, as castoreras. Para os habitantes, são intrusos. Para os turistas, uma atração a mais.
Por todos os lugares agrestes que passamos, havia castoreiras de todo tamanho, mas, por mais que esperássemos silenciosamente com o intuito de ver as famílias de castores que ali residiam, nada!
Conseguimos, por fim, avistar apenas um castor enorme, numa situação ocasional, em que procurávamos um bom lugar para pescar e demos com uma castoreira às margens do Rio Grande.
Ar
Invejosos dos albatrozes e dos condores que volta e meia cruzavam o céu acima de nossas cabeças, também nós sobrevoamos montanhas, baías, lagos, rios, icebergs e ilhas patagônicas.
Dois vôos panorâmicos fizeram parte da nossa jornada.
No primeiro, vimos do alto os canais e geleiras que já havíamos visto do Stella Australis. Partimos de Puerto Williams e, uma hora e pouco e mil e uma piruetas depois, aterrissamos no campo de pouso de Pampa Guanaco.
No segundo vôo, percorremos o trecho entre Porvenir e Punta Arenas, também com direito a manobras emocionantes no ar, o que alongou a viagem em quase uma hora.
Nas duas vezes, voamos num bimotor Twin Otter DHC-6, com capacidade para 20 pessoas. O avião é pequeno e pouco confortável, mas a aventura vale cada sacudida no ar. E não foram poucas! Não foi à toa que levei quantidades industriais de Dramin.
Se você não se importa de ter uma hélice girando bem perto da sua janelinha, nem de ver o mundo de cabeça pra baixo por alguns segundos, atire-se à aventura.
Voamos com a Aerovías DAP , que tem ligações diárias entre Punta Arenas e Porvenir, na Isla Grande de Terra del Fuego, atravessando o Estreito de Magalhães em nada menos que 12 minutos, e entre Punta Arenas e Puerto Williams, na Isla Navarino, a meio caminho pro Cabo Horn.
Além disso, a DAP oferece voos charter com direito a sobrevoo das cidades, águas e montanhas, como os que nós fizemos.
E se você sonha em colocar seus pezinhos na Antártica, sem chacoalhar pelos mares perigosos do sul, a companhia oferece também pacotes aéreos com tudo incluído pra você realizar seu sonho.
Todos os serviços da DAP, inclusive os voos regulares, devem ser combinados por e-mail (há um formulário no site), já que eles não estão vinculados aos buscadores e agregadores turísticos.
Mala de bordo nas medidas certas
Pra terminar
Você, que leu todo esse relato, da terra ao fogo, passando pela água e pelo ar, deve estar agora pensando com seus botões: “Eita roteiro difícil de organizar! Ter que reservar cada item por e-mail, esperar respostas, encaixar datas… Isso não é pra mim”.
Que nada! Veja só o “pulo do gato”: um grupo de empresários regionais, alguns deles citados aqui nesses posts, se reuniu na modalidade joint venture para criar o programa “Terra do Fogo – A Última Fronteira”.
O objetivo do programa é proporcionar ao viajante uma experiência completa, com programas de 4, 5 e 7 noites, incluindo trânsfer, guias, atividades, refeições e hospedagens. Tá tudo lá no site.
E mais… toda essa epopéia só é possível com tempo bom e estradas desimpedidas. Já imaginou voar debaixo de uma tempestade de neve, pescar num lago congelado ou navegar com temperaturas negativas?
Então nota aí: todos esses programas só estão disponíveis entre outubro e abril. No restante do ano, a Terra do Fogo se transforma em Terra da Neve e aí, adeus paraíso outdoor.
Carmem Almeida viajou a convite da SERNATUR.
Leia mais:
- Terra do Fogo chilena, parte I: terra e fogo
- Hotéis na Patagônia e Lagos Andinos: os relatos dos leitores
- Patagônia: como se deslocar entre os destinos (de avião, ônibus e barco)
- Todas de Punta Arenas no Viaje na Viagem
- Todas da Patagônia no Viaje na Viagem
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13 comentários
Olá, eu e meu marido vamos para patagônia chilena em agosto de 2014.
Vamos fazer Puerto Montt- Punta Arenas de avião, de lá gostaríamos de seguir de carro para Puerto Natales, depois Torres Del Paine e El Calafate. Estamos em dúvida se é seguro fazer esse trajeto de carro nessa época do ano (26/08 a 03/09)?
Nossa outra dúvida é se vale a pena passar mais de 1 dia em Punta Arenas e 1 dia em Puerto Natales, pois até agora vimos que Torres del Paine e El Calafate apresentam mais opções de passeio e passaremos 2 dias em cada.
Obrigada
Natalia
Olá, Natalia! A Patagônia é tão longe, as distâncias são tão grandes, que não vale a pena fazer tão rápido. Você não terá tempo sequer de descansar dos trajetos. E fazendo de carro, vai se cansar mais ainda — o trajeto é monótono, a imigração/alfândega é complicada, o abastecimento de gasolina na Argentina é errático, e você teria que voltar todo o trajeto para devolver o carro.
Além disso, agosto não é uma época boa para fazer essa viagem — estará frio demais e muitos passeios não estarão operando. Nossa recomendação: aproveite os Lagos Andinos; se quiser seguir viagem, atravesse a Bariloche.
Olá, Carmem! Tudo bem?
Vc saberia me dizer se é possível comprar (sem perder muito tempo procurando) casaco, gorro, luvas empermeáveis em Ushuaia? Ah, vou fazer o cruzeiro de Ushuaia a Punta Arenas. Então será q vou ver Pinguins? Vou dia 22/03/14.
Abraço
Rosa
Desculpe, Rosa! Estava na estrada e descuidei dos comentários por aqui. Espero que sua viagem tenha sido boa. Viu pinguins? Conta pra gente!
Carmem,
Li o seu post e realmente me convenci ainda mais que você foi a enviada especial, escolhida a dedo.
Gostei do seu relato e das fotos que o ilustram, através de lagos, ilhas e canais.
Parabéns!
Obrigada!
Acho que essa “competência” para viagens é hereditária. 🙂
Fantástico: relato e viagem!
Que delicia de viagem … sou doida para conhecer a Patagonia!!! Quem sabe um dia da certo.
Nesse meio tempo vou paquerando as fotos, lendo os relatos e sonhando com o dia que estivermos lá 🙂
É isso Mirella… vai chegar o dia! E você vai curtir muito, certeza!
Ameeei!
Na Patagônia Chile visitei o Parque Nacional Torres del Paine. São simplesmente fantásticas as paisagens com que se depara, parece que se está olhando para um quadro. Lagos, cumes cobertos de neve, hotelaria impecável; dentro do parque também há geleiras gigantescas que pode-se chegar bem pertinho para apreciá-las.
Que gostoso ler seu relato. A parte agua foi uma linda recordação da viagem que fizemos há 18 anos atrás no Terra Australis. Na época não passava pelo cabo Horn. Meu marido sempre fala em irmos novamente. Agora com seu relato to ficando animada. Eu amo o Chile.
Vão, sim, Flora. E vamos cruzar os dedos pra vocês poderem colocar os pés no Cabo Cabo Horn.