Chitabe Camp, Botswana: uma experiência de luxo no Delta do Okavango
Enviado especial | Hugo Medeiros
Quando vi aquela diminuta aeronave, me assustei. Confesso que sempre me fascino com o fato de um avião conseguir sair do chão. Mas eles têm turbinas, o que para mim já é algo muito significativo.
Acontece que o nosso avião tinha pouco mais do que um ventilador na ponta. E eu não me lembro de já ter visto um ventilador voando por aí. Mas não existia outra opção. Era voar ou ficar. Por isso embarquei e lá fomos nós.
Após uma rajada de vento, seguida de uma bela turbulência, já comecei a me acostumar. Sim, o avião balança. E sim, como tudo na vida nós nos adaptamos muito fácil.
O avião pousou na pista do Chitabe Camp, que fica em uma ilha a sudeste do Delta do Okavango. Já estávamos sendo aguardados por dois veículos.
Durante o trajeto até o lodge encontramos diversos animais, e um imenso baobá. Seu tronco estava repleto de marcas das presas de elefantes, pois esses enormes animais apreciam as cascas, frutos, folhas e a polpa desta gigantesca árvore. Uma verdadeira luta de titãs.
De repente surgem algumas zebras. As primeiras que vimos durante a viagem. Logo em seguida, girafas desfilavam calmamente. Mas o ponto alto do dia estava nos aguardando mais adiante.
Um exuberante leão nos aguardava. Tudo bem que a juba não era aquela tipo “O Rei Leão”, mas mesmo assim ele era magnífico.
A emoção de estar ali, tão perto de um animal em seu habitat natural, é enorme. Seguro de si, e certo de que ali é a sua casa e nós simples convidados, não se importou com a nossa presença. Preguiçosamente se dirigiu para uma região sombreada, para desespero dos fotógrafos de plantão, que prefeririam registrar sua imagem sob a luz do sol.
Impossível não se maravilhar com uma cena dessas. Muito próximo dali, uma zebra havia sido morta. Vimos a descobrir que não havia sido o leão o responsável por sua morte. A cena era forte, demonstrando a realidade da selva. Vida que surge, vida que que se encerra, vida que prossegue.
Para tornar nossa chegada ainda mais especial, fomos recebidos na beira de um lago, para degustarmos vinho, comer alguns aperitivos e apreciar o belo pôr do sol cercado de vida selvagem por todos os lados.
As diárias do Chitabe Camp começam em US$ 900 por pessoa, incluindo alimentação, passeios, bebidas e até mesmo lavanderia. São apenas oito tendas — charmosas, espaçosas e elegantes. Mesmo tão distante de qualquer cidade, os hóspedes têm à sua disposição todos os itens de conforto necessários para uma excelente estadia.
Uma característica marcante dos lodge camp é a oportunidade que proporcionam para a confraternização entre os visitantes. Isso possibilita a troca de experiências e um maior aprendizado sobre o local. Exatamente por isso as mesas são coletivas, acomodando todos os hóspedes durante as refeições.
Após um dia intenso e gratificante fomos repousar, e nos prepararmos para as aventuras que ainda estavam por vir.
Durante a noite um funcionário do hotel nos leva até o quarto. Depois disso não devemos mais sair, sendo expressamente proibido transitarmos sem companhia, pois a qualquer momento podemos deparar com animais no caminho, e alguns deles podem se assustar com nossa presença, vindo a atacar.
Por causa disso que em cada quarto existe uma buzina, para ser acionada caso necessitemos de assistência – no caso de uma emergência médica, por exemplo. Os animais não entram no quartos, pois tudo que veem é um enorme prédio, e nem mesmo o gigantesco elefante ou o destemido leão estão dispostos a interagir com algo muito maior do que eles.
Acordar às 5h é regra no safári. Os carros costumam sair às 6h, pois nesse horário temos boa luminosidade, e o clima agradável ainda não afugentou os animais para os seus abrigos.
Nossa primeira aventura foi em um safári a pé. Importante esclarecer que o objetivo deste passeio não é ver animais, mas sim observar o seu habitat. De qualquer forma fomos acompanhados por dois guias armados, capacitados a manter a segurança do grupo.
Nesse momento foi possível analisar de perto as plantas, árvores, trilhas e rastros dos animais. Na minha opinião, esse tipo de safári é recomendado para aqueles que já observaram todos os animais que queriam, e então pretendem fazer algo diferente.
Quando do nosso retorno ao lodge, vivenciamos um daqueles momentos únicos. Duas girafas-macho estavam lado a lado testando suas forças. Não era uma luta, mas sim o preparativo de algo que, um dia, poderia vir a ser uma disputa pela liderança do grupo.
Os movimentos coordenados pareciam ter sido ensaiados por longos anos. Impossível não ficar impressionado com tal cena. Por vários minutos ficamos admirando o balé.
De volta ao lodge, depois de um delicioso almoço, fui em direção à minha tenda quando, de repente, ao lado do corredor suspenso em palafita, vi que um enorme elefante me observava. Com seus quase 5 metros de altura, enormes presas, e olhar marcante, tudo era impressionante e assustador ao mesmo tempo.
Eu estava lá, sozinho, admirando aquele belíssimo animal selvagem, que tranquilamente se alimentava. Uma cena que jamais irei esquecer.
Mais do que nunca, vimos que somos apenas hóspedes nesse lugar. Os verdadeiros proprietários são os animais, que muitas vezes vêm conferir se tudo está realmente certo. Passado o susto inicial, e tiradas algumas dezenas de fotos, chamei as outras pessoas, e em pouco tempo um pequeno grupo se formou.
No meio da agitação, um movimento brusco irritou o dono do lugar, que levantou a tromba, fez um enorme barulho e mostrou que ali é um santuário de tranquilidade e observação. Não houve perigo, somente um alerta para controlarmos nossos ânimos.
Grandes emoções e passeios memoráveis. Botswana, até agora, tem tudo que um viajante poderia querer, e estamos apenas começando.
Já é hora de reunir a bagagem, entrar no avião e ir em direção ao paraíso.
Nossa próxima parada, o fabuloso Jao Camp.
Hugo Medeiros viajou a convite do Botswana Tourism.
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3 comentários
Renato e Carla, o país é muito bonito mesmo, e vale a pena ser conhecido. Daqui a pouco tem mais posts vindo aí.
Nunca me imaginei viajando para conhecer os animais selvagens (ou devo dizer animais maravilhosos), pois depois dessa narrativa a minha vontade era arrumar as malas e sair correndo para o aeroporto e pegar o primeiro avião e seguir o destino que o Hugo descreveu. Narrativa que faz com que nossa imaginação viaje junto com o que ele fala. Sem contar lógico com as fotos incríveis.Aguardo a continuação dessa viagem que pelo visto foi linda.
Hugo Medeiros,
Sua narrativa e tão agradável que acredito que a viagem a Botswana também deve ser, deparar com animais em seu habitat madural e fazer parte disso, realmente é surpriendente.