Marrocos: um roteiro pelo sul do país, incluindo Marrakech e o deserto
Texto e fotos | Denise Mustafa
Flautas que fazem cobras dançar, mercados transbordando de gente, os temperos inebriantes apresentados como pirâmides multicoloridas, as infinitas variações das cores de terra na arquitetura das cidades, o burburinho do chamado diário à oração, aldeias de barro perdidas no deserto, os dromedários em fila, as dunas sem fim.
O Marrocos sai do universo de Aladim e se materializa diante de seus olhos, ouvidos e narinas, sem esforço, já na primeira viagem.
Nessa pequena travessia exploramos o deserto do Saara, dormimos debaixo das estrelas, vivenciamos as ruelas das medinas e a vida na grande Marrakech.
A convite da Delegação Oficial de Turismo do Marrocos em Portugal e da Royal Air Maroc Brasil, passamos 6 noites no país.
Com alguns dias a mais em Marrakech e uma extensão a Essaouira, na costa, você tem o itinerário-base para uma viagem inesquecível ao sul do Marrocos.
De Casablanca ao deserto, via Errachidia
A Royal Air Maroc voa direto de São Paulo a Casablanca. A cia. também tem tarifas interessantes para a Europa, o que pode levar você a fazer uma conexão na cidade. Comparada a outras cidades do Marrocos, Casablanca, a grande metrópole do país, tem pouco a mostrar. No entanto, se você tiver um tempinho livre, vale uma ida a Hassan II, a maior mesquita do Marrocos e uma das maiores do mundo.
A imensidão do lugar e sua construção já valem uma espiada. Fica aos pés do mar e, para um primeiro momento de chegada ao país, o impacto com a cultura já bate ali. Inaugurada em 1993, a mesquita tem uma sala de orações de 20 mil m², e capacidade para 25 mil fiéis.
Assim como acontece no roteiro da maioria dos viajantes, para nós Casablanca foi realmente só uma passagem: nosso destino era o deserto. Para isso, pegamos um voo até Errachidia. De lá começou a nossa aventura. Dormimos na cidade, e pela manhã, partimos até Arfoud de carro e começamos nossa peregrinação pelo Saara.
Hotéis que valem a viagem
Dois dias no deserto do Saara
O dia do deserto já começa com a preparação: a roupa é antes de tudo sua proteção — principalmente, na cabeça. Apesar de a temperatura estar amena, o sol é forte e a vestimenta ajuda a atravessar o dia.
O deserto do Saara tem mais de 9 milhões de km² de extensão. Ali é de onde veio o povo berbere e de onde descende a grande maioria dos marroquinos. É uma nação nômade. Para se adaptar ao clima do deserto, se tornaram transportadores, seguindo em caravanas e fazendo comércio de pedras, peles, tecidos e especiarias.
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Rali e noite no deserto do Saara
No primeiro dia dedicado ao Saara, passamos pelas ‘pistas’ do rali Dakar tendo a mesma experiência de passageiros dentro de uma 4×4. Famílias nômades, por volta de quatrocentas, ainda vivem por lá como se fossem de outra época. As casas são montadas com uma espécie de bambu. Há também casas de barro, que estão lá há mais tempo do que podemos imaginar, servindo de teto para esses que não conseguem se estabelecer num só lugar. O deserto é a casa, a dormida é o tempo que vai dizer.
Em meio àquele lugar de uma cor só, os dromedários se destacam no cenário. Partimos para a área de Merzouga para experimentar o meio de transporte do povo nômade. Montados em dromedários, subimos as dunas do grande Erg Chebbi e vimos o pôr do sol que só o deserto proporciona. (Ergues são conjuntos de dunas, e o Chebbi é um dos dois maiores do Saara.)
O passeio não termina com o poente. Se você quiser, ainda pode ter um pouco da experiência desse povo e dormir num acampamento. No meio das dunas de areia é possível ter uma noite aconchegante, ao som de música norte-africana e do crepitar da fogueira e, claro, sob céu mais estrelado que o deserto pode exibir.
Não bastasse o deslumbre com a noite estrelada, aqui é indicado acordar cedo: o nascer do sol consegue ser ainda mais bonito. O contraste da areia ocre com o céu cor de rosa fazem o dia começar mais luminoso nesse lugar.
Souk e ksars
No dia seguinte, a viagem continua pelo deserto, passando por uma aldeia abandonada em Merdani. A aldeia é utilizada pelos nômades que por ali passam, com tempo contado para seguir viagem. Uma parada rápida para ouvir a música dos sudaneses de Khamliya. Eles chegaram ao Marrocos vindos da África central, e ali montaram uma morada. A sonoridade africana lembra a nossa e o chá é uma delicadeza desse povo, por onde quer que passemos.
Seguimos a Rissani, o nosso primeiro contato com um mercado marroquino. Segundo nosso motorista-guia, a cidade inteira já foi considerada o maior mercado do Marrocos. Dali saíam escravos de toda a África, além de especiarias, para o restante do mundo. Agora é uma cidade onde a religiosidade se vê claramente nos trajes de homens e mulheres. Em nosso percuro, aqui foi onde começamos a sentir o impacto da burca quase completa, somente com os olhos de fora.
Diferente do souk (mercado) de Marrakech que conheceríamos dali a alguns dias, o mercado de Rissani não tem ostentação. Vende-se de jumento a carne, passando pelas especiarias de cores gritantes, pedaços de carro e bicicleta, cortes de cabelos e tudo o mais que seja necessário para viver. É, realmente, uma experiência.
O restante da viagem do dia é de grandes paisagens. Fizemos duas paradas ao longo do caminho do Alto Atlas (a cadeia de montanhas do sul do Marrocos), para ver as antigas cidades berberes de Tinejdad e Tinghir. Grande parte dos povoados da região foram construídos em barro. São os ksars, hoje desabitados e em ruínas. A estrada segue até o grande Vale de Todgha, que se parece com grandes gargantas, tamanha é a grandeza de suas rochas.
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Ouarzazate, a cidade do cinema
Dizer que o sul do Marrocos parece cenário de cinema é dizer mais do mesmo: a cidade de Ouarzazate tem o maior estúdio de cinema do Marrocos. Considerada a Hollywood local, Ouarzazate também tem um Museu do Cinema, onde você descobre que aconterecem ali as gravações de Asterix & Obelix, A Jóia do Nilo, Gladiador e, mais recentemente, Game of Thrones.
Entre o deserto e Marrakech, a cidade merece uma visita. Além do cenário de filme, a sugestão é um passeio pela Kasbah Taourirt, onde viveu uma grande família rica, para conhecer sua tradicional arquitetura marroquina berbere. Na sequência, é imperdível ir ao ksar Ait-Ben-Haddou, um Patrimônio da Humanidade certificado pela Unesco.
O ksar é uma cidade fortificada que ficava na antiga rota das caravanas entre o deserto do Saara e Marrakech. Hoje, o lugar abriga um pequeno mercado, com vendedores que vivem por ali mesmo. Caminhando pelas ruelas da antiga cidade você tem uma vista contrastante da arquitetura mais nova.
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Marrakech
No final da nossa travessia pelo sul marroquino, Marrakech merecia mais tempo do que o dia e meio que passamos no meio do furor que é a cidade. Aqui, o tom ocre das construções une-se ainda mais ao colorido do artesanato. Os trajes religiosos se confundem com os mais modernos, vindos de turistas ou de uma população com a cabeça mais jovem e aberta.
Azul e St. Laurent
Entre as atrações da cidade que tive a oportunidade de visitar, a primeira delas certamente é o Le Jardin Majorelle, inspirado nos jardins islâmicos e criado pelo pintor francês Jacques Majorelle na década de 30. As formas da arquitetura marroquina se unem a um azul que parece o céu para quem passou dias vendo apenas uma arquitetura monocor, depois chamado de “azul majorelle”.
O lugar é composto de plantas exóticas em meio a espécies raras vindas de todo mundo e foi comprado pelo estilista Yves Saint Laurent e por Pierre Bergé em 1980. No lugar, ainda pode-se visitar o Museu Berbere. Numa casa quase anexa está o Museu Yves Saint Laurent de Marrakech, recém-inaugurado, onde se pode ver de perto seus figurinos e desenhos.
Na medina
Seguindo o passeio, a medina de Marrakech, como é chamada a parte antiga da cidade, é um mundo em si. O Palais Bahia, um palácio construído no final do século XIX, retrata a arquitetura árabe-andaluz. Um jardim que ocupa uma área de 8.000 m², com mais de cem divisões, faz os olhos não terem um lugar fixo para mirar, tamanha a beleza e a quantidade dos detalhes em cada pedacinho.
O passeio, obviamente, continua pelo souk de Marrakech, o lugar mais esperado: todo o artesanato marroquino está ali para ser negociado. E nem tente não fazer isso. Os comerciantes anseiam pela negociação, que pode chegar a um desconto de 50% do primeiro preço dado, ou mais.
Mesmo numa passagem tão rápida, Marrakech conseguiu entregar o que eu imaginava dela pelas histórias e lendas. Najas no meio da praça Jemaa el-Fna, a confusão de pessoas, a diversidade de seu povo que vem de diversos lugares da África, o pôr do sol alaranjado, a simpatia, os ritos diários, a simplicidade. As cores vieram nas fotos. Os cheiros continuam na memória.
Marrocos: mais dicas
O Marrocos é perigoso?
Eu não achei. A religião é dominante, mas em nenhum momento senti medo de andar nas ruas.
Mulher pode ir sozinha ao Marrocos?
Pensando nas cidades maiores como Marrakech e Casablanca, sim. Já para o interior e deserto, faço a mesma recomendação para homens e mulheres: ir em um grupo contratado pode ser a melhor opção. Para o deserto será preciso um carro 4×4 e saber se locomover por ali pode ser um tanto difícil.
A empresa Xaluca, que nos levou, tem hotéis em praticamente toda a área em volta do Saara, incluindo acampamento no próprio deserto. Nessa região do sul do Marrocos não existe transporte de ônibus ou trem entre as cidades. Inclusive, por isso, recomendo os passeios fechados.
Que moeda levar para o Marrocos?
Leve dólar ou euro e troque por lá mesmo. Nas cidades maiores, os vendedores aceitam essas moedas também. No entanto, na hora da negociação, você pode sair perdendo no troco: eles fazem a conta, te dão um valor e só depois você pode perceber que foi enganado. Minha recomendação é trocar no aeroporto mesmo, ou nas casas de câmbio. Em novembro, quando fui, 1 dólar valia cerca de 9,20 dirhams.
Consigo chip no Marrocos?
No aeroporto em Casablanca eles dão um chip 3G, com um pouco de crédito. Se quiser mais, basta pagar ali na hora mesmo.
Que roupas levar para Marrocos?
O islamismo lá não é fundamentalista. Mesmo as muçulmanas poderiam sair sem o lenço no cabelo, mas usam o véu por questão de respeito. Vale o mesmo bom senso aos turistas.
Como se comunicar no Marrocos?
Os marroquinos falam árabe e berbere, dialeto da cultura do norte da África. A grande maioria fala também francês, e facilmente se acha quem fale espanhol e inglês.
Denise Mustafa viajou a convite da Delegação Oficial de Turismo de Marrocos em Portugal e da Royal Air Maroc Brasil.
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57 comentários
Gostaria de informações sobre Fez.
Vale a pena? Pretendemos viajar em setembro/2025 e essa parte que Denise fez já estará no nosso roteiro!
Olá, Romilda! Fes é linda. Infelizmente não dispomos de conteúdo aprofundado sobre a cidade.
Olá! Gostaria de informacões de empresa que fazem pacotes para o deserto, saindo de
Marrakech.Empresa com CNPJ no Brasil, de preferência, ou muito confiável no Marrocos.
Obrigada
Olá, Janice! Infelizmente não temos como fazer indicações.
A Xaluca Tours é confiável? Eles tem algum representante ou agência de viagem no Brasil?
Olá, Rodrigo! Não conhecemos.
Por acaso teriam como me passar um contato para a Denise Mustafa que escreveu esse artigo e que cita explicitamente o nome da Xaluca Tours?
Obrigado
Olá, Rodrigo! Não vi que tinha sido citado no texto. O lknk está no texto:
https://xaluca.com/
Sim, eu vi que o link para a empresa Xaluca está no texto, mas eu gostaria do contado da Denise Mustafa, que escreveu o texto para ter maiores informações sobre a empresa. Me parece que ela teve uma boa experiência, mas como é uma empresa no Marrocos, é sempre um risco maior e eu gostaria de conversar (e-mail, WhatsApp) com a Denise.
Olá, Rodrigo! A Denise era uma leitora do Viaje na Viagem que fez esta viagem oferecida pelo escritório de turismo do Marrocos em Portugal. Não temos autorização para dar o seu contato.
É raro que a gente faça viagens a convite (há muitos anos deixamos de fazer), mas sempre que fazemos, deixamos isso claro. Está no fim do texto
Denise Mustafa viajou a convite da Delegação Oficial de Turismo de Marrocos em Portugal e da Royal Air Maroc Brasil.
Não é a Denise que vai poder chancelar a agência de turismo para você. A agência foi chancelada pelo escritório de turismo do Marrocos em Portugal. Não acredito que eles envolveriam uma empresa inidônea.
Olá! Bóia, sabe se já dá para viajar para Casablanca? Obrigada e abs
Olá, Laura! O epicentro do terremoto foi perto de Marrakech. Casablanca não foi afetada.
Olá!!
Vi em algum comentário aqui que ir da Espanha até Tanger pode ser uma má ideia. Queria saber um pouco mais sobre isso. É perigoso? É feio? É difícil?
Obrigada pelas dicas.
Forte abraço!
Olá, SAmires! O Marrocos é uma lindeza. Merece a viagem quando você tiver tempo para fazer um roteiro minimamente decente. O bate-volta é atribulado, vai mostrar um pedacinho feio e ultraconfuso do país, vai ser um desperdício de tempo e dinheiro e você não vai “matar” o Marrocos da sua lista.
Boa tarde, Bóia,
Viajo para o Marrocos em dezembro. Gostaria de saber se tem alguma dica de guia de viagem do país, atualizado.
Obrigada,
Lea
Olá, Lea! Quem faz indicações são leitores, e não há relatos recentes do Marrocos, não.
Olá!
Vou agora em julho ao Marrocos, vou passar 5 dias e fazer o passeio com acampamento no deserto, sabe se tem infra no acampamento com banheiros? É seguro? Não há risco de roubo de bagagem?
Também contratei um free tour em Marrakesh, é seguro andar na cidade sozinha?
Olá, Flavia! Você não estará sozinha no free tour, estará no tour. Fora de tours, tome os mesmos cuidados que você tomaria no Brasil e evite usar roupas com braços, pernas ou colo à mostra.
Os acampamentos são seguros.
Olá! Esse blog que é sensacional! Já viajei para o Marrocos em abril de 2019 e por lá fiquei 10 dias incríveis! Vale muito a pena conhecer as belezas desse lugar, eu amei. Fui sozinha, sou mulher e passei muito bem!
Ola, Rosiane. Estou pretendendo ir sozinha ao Marrocos tb e gostaria muito de receber suas dicas de como se virou por la e indicações de agencias se vc ainda tiver. Obrigada,
Muito lindo
Procurando passagens mais em conta para Lisboa em julho deste ano – meu marido é professor – achei passagem pela Royal Air Maroc mais em conta, podendo ficar alguns dias no Marrocos. Vale a pena? O calor pode ser um empecilho? Podem dar referências sobre essa cia aérea??
Olá, Valéria! É uma boa cia. Vai estar bastante quente.
Oi.
Chego em Casablanca por volta das 22:00hs saindo de Roma em Abril e tenho meu voo sai as 16.50 do próximo dia.
Pensei em resevar hotel e fazer uma visita rápida a mesquita Hassan II.
Acredita que isso é viável?
Olá, Joel! Não só viável, como é o certo a fazer.