Maraú e Boipeba: minha introdução ao zen-baianismo :-)
Esperávamos o vôo de volta para casa, no pequeno aeroporto de Ilhéus. Levantei para espiar o painel de decolagens, o chinelo meio descalçado, o cabelo, uma bagunça, e a Carolina não conteve o riso. “Olha pra você!”.
Nunca estive tão à vontade.
Foi uma viagem de férias de duas semanas na Península de Maraú e na Ilha de Boipeba, entre Barra Grande, Taipu de Fora e Moreré. Cada vilarejo mais deliciosamente ermo do que o outro.
Uma semana antes da data, liguei para o Luciano (73/9993-8383), motorista, para contratar o trânsfer entre Ilhéus e Camamu, de onde sai a lancha para Barra Grande. Estava preocupada com a pouca antecedência, mas Luciano pediu para combinarmos tudo na véspera, por SMS. “E se você não puder me buscar?”, perguntei, aflita. “Eu vou, mas se não puder, vai meu pai, e se ele não puder, vai meu tio”. Não me contive e disse que mandaria uma mensagem com o dia e horário logo depois de desligar: “É só pra garantir!”. Luciano riu e falou “Pronto”, de um jeito calmo e relaxado, se alongando o bastante na primeira sílaba para que eu acreditasse que tudo daria certo.
Prooonto.
(Mais tarde, Luciano acabou nos contando que tem 14 irmãos, ou seja, a probabilidade de arranjar alguém para buscar a gente no aeroporto era mesmo grande.)
No dia da nossa chegada, a conexão em Salvador sofreu um atraso tremendo, e não havia jeito de pegarmos a última lancha que saía de Camamu. Eis que Luciano triangulou uma negociação entre marinheiros concorrentes, que toparam nos esperar além do expediente regulamentar. Fomos com o que concordou cobrar os mesmos R$ 30 por pessoa do horário normal, e acabamos tendo a incrível sorte de navegar pela baía de Camamu em direção a Barra Grande durante o pôr do sol.
Nesse momento eu me converti ao zen-baianismo, a crença de que não vale esquentar a cabeça com nada nas férias, porque, no fim das contas, tudo acaba dando certo. Quando não tinha picolé de graviola, tinha de umbu; para as manhãs de chuva, havia rede na varanda. Os imprevistos de verdade foram poucos, e resolvidos sempre com toda gentileza.
Depois de alguns dias sem calçar sapatos, sem entrar em filas ou escutar buzinas, desaceleramos. A viagem foi ficando cada vez melhor.
Acabamos por nos habituar a acordar mais cedo do que nos dias úteis da cidade grande, mesmo quando a principal atividade da manhã fosse apenas escolher em qual trecho da praia estender a canga.
Trocamos os restaurantes pelos PFs e pequenas portinhas, de onde saíam maravilhas tão genuínas como lagosta com feijão e farofa.
Fizemos amigos, entre turistas, nativos e cachorros vira-latas.
Descobrimos que tudo fica mais saboroso se acompanhado por banana-da-terra.
Em Moreré, ainda assistimos às emoções do futebol.
Entre os três vilarejos que conhecemos, Moreré nos pareceu o mais autêntico. Ainda se conserva como uma vila de pescadores, com um comércio que pertence essencialmente aos nativos.
Ficamos na linda e sossegada pousada A Mangueira, instalada bem no centrinho, a poucos metros do mar. Lá foi bonito de ver o apreço dos proprietários e companheiros Gary, sul-africano, e Juan Carlos, espanhol, à comunidade onde decidiram se estabelecer. Enquanto Juan Carlos trata com carinho os ingredientes do local, no comando da cozinha da pousada, Gary capricha nas boas-vindas, apresentando a vizinhança e os vizinhos, recomendando passeios e fazendo com que seus hóspedes descubram no Moreré uma segunda casa.
E é uma casa que deixa saudades.
Mas eis as vantagens de se tirar férias pelo Brasil — não precisar de passaporte, câmbio ou visto; não se enrolar com o idioma; não sofrer jetlag; dispor do café da manhã de que se gosta, acrescido de gostosuras típicas; fazer amigos com mais facilidade… e poder sempre voltar.
Prooonto.
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57 comentários
Lindo, Merél!
Tem coisas que só a Bahia faz por você e essa parte é realmente especial! Ainda falta conhecer Maraú e Barra Grande, mas por Boipeba, mesmo que se for só para ficar largado na praia, não dá para se cansar daquele lugar 🙂
Quero muitooooooo voltar a Moreré!!! Fui uma vez, mas só para passar o dia.. q Paraíso! Esse post me deixou com gostinho de quero mais… quero mais é por minha havaiana no pé e ter como única preocupação o lugar onde vou estender a minha canga <3
Adorei o texto! Estou fazendo um estudo turístico e gostaria de conversar com alguém que escreva para o site. Para Para onde posso mandar um email?
Olá, Rayssa! Nosso endereço é redacao arroba viajenaviagem ponto com!
Bacanérrimo o texto!
Gosto muito de Boipeba: sempre fico na Pousada Santa Clara, onde o dono, Charles, nos faz sentir em casa. E o restaurante é ótimo! Ano que vem gostaria de estender minha temporada na Bahia, indo também para Barra Grande. Alguma dica de hospedagem?
Olá, Carol! Temos algumas dicas da região aqui – https://www.viajenaviagem.com/destino/barra-grande
Que belo texto. Barra Grande é um lugar extremamente particular. O trecho da viagem de Camamu para a Ilha de Barra Grande, a lancha rápida, é ENCANTADOR!. Em março conhecerei, junto ao meu noivo e mais um casal de amigos, a Ilha de Boipeba /
Ô minhas duas próximas semanas de férias…
🙂
Isso parece maravilhoso! Quero ir lá e não demora, viu? Prooonto!
Prooonto, me encantei pela viagem, pelas fotos e pelo texto.
Já fiquei babaaaaaaando! Adoro a Bahia, os baianos e seu jeito de resolver e falar! Muito legal deve ter sido! bjs, valeu!! chica