Japonês é tudo diferente, né?

Meninas fazendo cosplay em Harajuku

29 de janeiro de 2005. Normalmente, andar de metrô tem vantagens e desvantagens. Você chega mais rápido, mas acaba deixando de ver a paisagem. Em Tóquio, não. Em Tóquio você não perde nada viajando de metrô. Pelo contrário: não há melhor lugar para observar os japas em seu estado natural.

Não digo que seja elegante ficar observando os nativos – com exceção de um ou outro grupo de adolescentes, que também acham graça em observar gaijin, o japonês médio fica totalmente na dele o tempo todo. É como se os outros não existissem. Ou melhor: é como se ele não existisse. Quando não está com o olhar ocupado – num livro, num jornal, ou mais freqüentemente na tela de um celular, jogando ou trocando torpedos –, o passageiro do metrô de Tóquio simplesmente fecha os olhos e tenta, ou finge, tirar um cochilo.

É no metrô que você vai perceber que japonês é tudo diferente. Os ingleses podem ser todos iguais, mas japonês é tudo diferente. Os irlandeses são xerox uns dos outros, os escandinavos são feitos em série, os turcos são clonados, mas japonês é tudo diferente. Tem japonês pálido, tem japonês moreno, tem japonês bolachudo, tem japonês de rosto comprido, tem japonês com cara de esquimó, tem japonês com cara de índio, tem japonês até com cara de japonês. Só não tem japonês gordo nem japonês mal-vestido. Quer dizer: ter, tem – mas minha pesquisa de campo no metrô de Tóquio indica que são estatisticamente irrevelantes. Em Tóquio ao menos, japonês é tudo diferente. E os gordos e mal-vestidos se limitam à margem de erro.

Algumas estações são tão grandes que você pode demorar dez ou quinze minutos até alcançar a saída. Mas nesse caso você nem sequer precisa achar a saída: as estações maiores são verdadeiras cidades auto-suficientes, com galerias e mais galerias conectadas diretamente a shoppings, lojas de departamento e edifícios comerciais. (Anote aí: se você quiser que seu negócio dê certo em Tóquio, construa uma ligação direta com alguma grande estação. Não, eu não vou cobrar pela consultoria.)

Querendo andar de metrô e ver a paisagem de Tóquio ao mesmo tempo, basta pegar a Linha Yamanote – um trem de superfície que percorre um circuito oval, abraçando a (imensa) área central de Tóquio e passando por praticamente todas as grandes estações. Viajar na Yamanote à noite – ou, melhor ainda, ao entardecer – é o city-tour mais bacana que você pode fazer. Só quando você está a bordo do trem de superfície é que Tóquio se revela por inteiro: um deserto de concreto sem-graça com oásis de néon salpicados aqui e ali (em torno das maiores estações). Entre uma grande estação e outra, quando você se cansar da monotonia cinza da cidade apagada, basta olhar para dentro do vagão – você vai ver japoneses lendo, teclando no celular ou fingindo tirar um cochilo. Mas garanto que você não vai encontrar nenhum japonês igual ao outro.

Estou republicando a blogagem ao vivo de minha volta ao mundo de 2005. Os posts vão ar exatamente nas datas em que foram originalmente publicados. Para ler todos, clique aqui.

12 comentários

Bom, eu sou supeita pra falar, porque um dos meus sonhos de viagem é conhecer o Japão!

E japonês é tudo diferente mesmo, só ver pelo estilo: as kogals, as yamambo, as fruits.. Aqui no Brasil (mesmo em SP, que ´pe uma cidade grande), se vc usar roupas como essas da foto você não é diferente – é estranho.

Agora, preciso ir economicametne preparada… Além de Tokyo ser uma cidade cara, ainda exarceba meu espírito consumista, e ai quero ver eu me controlar… ahahha

O primeiro susto que eu tive no Japão, logo na chegada, foi justamente esse. Tive que embarcar no Yamanote na hora do rush e constatei que japonês não é tudo igual, não. Você fotografou bem as fisionomias. Tem japonês moreno e de cabelo enroladinho…

Acho que da próxima vez que você vier já vai estar escolado para um outro desafio: tentar diferenciar um chinês, um coreano e um japonês só no olhar. Eu já fiquei craque. Nos últimos anos, em qualquer ponto turístico do Japão também se vê muitos asiáticos.
Parece tudo igual, mas tem diferenças. A variedade de olhinhos puxados aumentou ainda mais aqui no arquipélago nipônico.

Riq,
estou tentando seguir a sua cartilha (entrar e sair por uma cidade amiga), já assimilei o postulado de Tóquio (o único endereço que eu vou tentar encontrar é o do Hotel), só falta mesmo eu conseguir concretizar alguma reserva em Kyoto (BBBB – Bom, Bonito, Barato e Bem localizado) e estou levando um verdadeiro baile de maikos.

Realmente concordo com vc Marina! Dá vontade de comprar tudo.
Deve ser muito bom voltar lá com muito $$$…rs
Quanto à observação, achei as estações de Ueno , Shinjuku e Shibuya ótimas para isso (hihi..). O que eu achava mais legal era vc poder ver quase que simultaneamente uma senhorinha usando um lindo yukata, um salaryman correndo para o trabalho ou com uma cara super-cansada das horas exaustivas de trabalho ou então aquelas moçoilas “made in” Harajuku…e fora os cortes e colorações de cabelo que vc não imagina!

Muito legal mesmo!

Cristiane

Hauahuahauahua…não somos iguais nem no Japão, nem no Brasil, hehehe…Bacana saber que vcs tbm constataram isso.
Estive lá em 1984; gostaria muito de retornar algum dia…mas prometi a mim mesma que só retornaria com muito $$$. Dá vontade de comprar tudo!Tudo é lindo, bem acabado e funciona!

Parabéns pelo post Riq!

abraços…Marina Ushiro.

E eu to louca pra poder observar os japoneses – e tambem constatar que nao sao todos iguais – ao vivo e a cores 😉

Também estou adorando estes posts sobre o Japão. Estive lá em 2007 e 2009 e tive esta mesma constatação. O engraçado é que com algumas pesssoas que eu falo isso aqui no Brasil, elas não acreditam!
Realmente dá pra passar um tempo observando as pessoas e vc já vai ter uma boa ideia do que o JP. Gosto muito daquele país e da experiência diferente que proporciona a um gaijin…
Valeu pelo post!
Cristiane

=)
Riq, esse foi o mote durante toda a nossa viagem ao Japão: japonês é tudo diferente, né? (gesticulando em japonês, com intonação e fazendo reverência, né?) Arigatô gossaimas!

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