Um fim de semana em Hamburgo
A gente tende a achar que a “São Paulo” da Alemanha seja Frankfurt, a capital financeira do país. Mas talvez o equivalente mais próximo seja Hamburgo, a capital comercial dos alemães.
Assim como São Paulo, Hamburgo é um destino superprocurado por turistas domésticos. Alemães de todos os quadrantes viajam à rica cidade do norte para assistir às versões locais para produções da Broadway, visitar o porto e aproveitar a noite, que é animadíssima. O resto do planeta, porém, ainda não colocou Hamburgo no seu mapa de viagens. Vai-se a Hamburgo mais por motivos de trabalho ou para embarcar num dos muitos cruzeiros que vão para o Mar do Norte.
Isso deve mudar em 2017, quando inaugura a Elbphilharmonie. Projetado pelos arquitetos Jacques Herzog e Pierre de Meuron, o edifício parece desenhado a quatro mãos por Frank Ghery e Gaudí. Mesmo ainda em construção, já domina o skyline à beira do rio Elba.
Concebido em 2007 para ser inaugurado em 2010 a um custo de 250 milhões de euros, o complexo vai acabar custando o triplo (750 milhões de euros) e levando o quádruplo de tempo estimado de construção.
Os números enfurecem o contribuinte hamburguês. Mas quando estiver funcionando com suas três salas de espetáculo, dois hotéis, lojas, restaurantes e uma praça pública no vão entre a base (um galpão reaproveitado) e o topo envidraçado, a Elbphilharmonie vai provocar o Efeito Bilbao. Todo mundo vai querer passar por Hamburgo.
Mas não é preciso esperar pela faraônica filarmônica para curtir Hamburgo. Programando pelo menos um pernoite, a cidade pode ser visitada no caminho entre Amsterdã (a 5h15 de trem) e Berlim (1h45), Amsterdã (5h15) e Copenhague (4h45) ou Berlim (1h45) e Copenhague (4h45). Hamburgo rende até um bate-volta desde Berlim, sem pernoite — mas neste caso você perderia duas de suas atrações, o Fischmarkt do domingo de manhã (acaba às 9h30, não dá para chegar a tempo) e a noite na Reeperbahn, que só pega fogo muito tarde, em horários ibéricos.
Para aproveitar o melhor da cidade, programe sua vinda num fim de semana.
Sábado
Chegue e deixe as malas no guarda-volumes da Estação Central. Hamburgo é das poucas cidades alemãs onde não vale a pena se hospedar nos arredores da Hauptbahnhof. Os bairros bacanas para sair à noite (a notória Reeperbahn e os descolados Schanzen e Karolinenviertel) ficam fora de mão para quem se hospeda por lá. Compre um Hamburg Card, que dá direito a transporte público e descontos em museus e atrações (€ 9,50 o cartão de 1 dia, € 22 o de 3 dias).
Saia caminhando pelo calçadão da Spitallerstrasse até o cais turístico do centro da cidade, o Jungfernstieg (dá uns 15 minutos; se não quiser caminhar, tome o metrô U2, direção Niendorf Nord, e desça em Jungfernstieg). Entre fim de março e início de outubro partem dali passeios de barco que percorrem o lago Alster. O Alster é um lago construído pelo represamento do rio do mesmo nome.
No seu entorno você vai contemplar a Hamburgo mais burguesa: casas e palacetes de fachada quase sempre branca. (Ali fica o hotel mais aristocrático da cidade, o Atlantic, hoje na rede Kempinski. Mas do ladinho tem um Ibis que cabe no bolso de todo mundo.)
Na volta, atravesse a pé a galeria Europa Passage até a Gehrart-Hauptmann Platz. Pegue o ônibus 6, direção Auf dem Sande, e em 8 minutos você chega ao fim da linha, pertinho do Miniatur Wonderland, o mais fofo dos minimundos deste nosso pequeno planeta. A atração fica no bairro restaurado dos armazéns, a Speicherstadt. Caso você dispense o passeio de barco pelo Alster, pode usar o tempo extra para caminhar pelos canais, que lembram uma Amsterdã, só que com prédios mais altos. O Museu Marítimo é outra estrela do bairro: nove andares (eles preferem “decks”) que expõem a maior coleção privada de objetos náuticos do mundo.
Gostando de bater perna, você pode chegar até os limites da HafenCity — que é como toda esta área em renovação é chamada — e fazer um lanche no hypadíssimo hotel 25 Hours HafenCity (perfeito para uma hospedagem com em modo hipster).
No caminho de volta à estação, passe pela Chile Haus, um edifício dos anos 20 que foi um dos primeiros arranha-céus da Alemanha. É o “Martinelli” de Hamburgo — e, assim como o bairro dos armazéns, deve virar patrimônio da Unesco nos próximos meses.
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Ao hotel!
Pegue as malas no guarda-volumes e instale-se num hotel próximo à vida noturna. Use o site do trânsito de Hamburgo, o HVV.de/en, para ver a melhor maneira de chegar ao seu hotel. Em Hamburgo o ônibus costuma ser mais eficiente do que o metrô.
O Motel One am Michel (uma espécie de Ibis alemão) e o quatro-estrelas Arcotel Onyx deixam você perto da muvuca da Reeperbahn, mas a uma distância segura da bagunça (o Arcotel Onyx está exatamente a meio caminho entre a Reeperbahn e o porto, 5 minutos de caminhada para cada lado.) Preferindo ficar no fervo, considere os básicos-econômicos Cityhotel Monopol e North by Centro. Atrás da Reeperbahn, na direção oposta ao porto, há outro pólo de bons hotéis, onde você encontra os convencionais Holiday Inn Express e Ibis St. Pauli Messse, e o moderninho-luxuoso east (assim, em minúsculas mesmo).
Também é possível se hospedar junto aos cafés e brechós do Karolinenviertel (tem o NH Hamburg City pertinho) ou no meio da boemia mais charmosa do Schanzenviertel (fique no Fritzhotel ou cacife o luxuoso Mövenpick Hamburg).
Querendo ficar na região da noite GLS de Hamburgo — que fica ao longo da rua Lange Reihe, entre a estação central e o lago — o Wedina é uma ótima opção econômica e o The George, a mais estilosa.
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Sábado à noite
A Reeperbahn é o equivalente hamburguês do Bairro da Luz Vermelha de Amsterdã. A proximidade ao porto garantia o fluxo de marinheiros que faziam florescer a prostituição. Hoje a prostituição não é mais significativa na Reeperbahn (“a automatização dos portos diminuiu o número de marinheiros, e agora todos são filipinos e mandam dinheiro para suas casas”, foi uma explicação que me deram), mas contribui para o astral vale-tudo da região.
Bares, clubes e restaurantes ~convencionais~ se misturam a inferninhos de strip-tease e sex shops. Nas noites de sexta e sábado as ruas ficam entupidas de turmas fazendo a ronda dos bares e clubes, ou mesmo bebendo nas ruas.
Os Beatles começaram sua carreira tocando aqui, e proporcionam dois locais de peregrinação. O primeiro é o número 36 da rua Grosse Freiheit, onde se localizava o clube Kaiserkeller, tido como a primeira casa em que John, Paul, George e Ringo atuaram. (O lugar continua existindo como um clube de rock, o Grosse Freiheit 36.) Em 2008, na esquina da rua com a Reeperbahn foi criada a Beatles Platz, onde os quatro de Liverpool estão representados por silhuetas de aço escovado.
Outro ponto turístico da Reeperbahn é a Herbertstrasse, a minúscula ruela que mantém as características de bairro da luz vermelha, com as trabalhadoras do sexo expostas em vitrines (normalmente entretidas com um livro). A entrada é tapumada e há um aviso proibindo a entrada de menores e desaconselhando a passagem de mulheres.
Você pode inserir duas verdadeiras instituições locais na sua noitada. Jante no tradicionalíssimo alemão Freudenhaus (Hein-Hoyer-Straße 7) e tome uma Astra (a cerveja local de garrafa bojudinha que é a preferida do povão) de saideira no Zum Silbersack (Silbersackstr. 9).
Como alternativa (ou como esquenta) à Reeperbahn, você pode ir à noite ao Karolinenviertel, que tem bares e bistrôs com charme alternativo (desça na estação Feldstrasse do metrô, siga uma quadra pela Marktstrasse e voilà, você chegou), ou ao Schanzenviertel, que tem uma cena gastronômica já estabelecida. Pegue a S-Bahn e desça na estação Hamburg-Sternschanze. A Schanzenstrasse, a Susannenstrasse e a Schulterblatt têm muitos restaurantes. Os destaques estão na Lagerstrasse: o celebrado Bullerei, do “Jamie Oliver” alemão, e a cervejaria Altes Mädchen.
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Domingo
Deixe as malas no depósito do hotel e vá direto, sem café da manhã, ao Fischmarkt (o ônibus 112 deixa pertinho), onde das 5h às 9h30 acontece um mercado de peixes na área externa. Além dos trailers das peixarias há também trailers que servem comida pronta — aproveite para experimentar seu primeiro sanduíche de arenque de café da manhã. (Há também trailers que vendem comidas mais convencionais — salsichas, pães doces.)
Muita gente vem direto da Reeperbahn para cá; você não sabe se estão tomando a primeira cerveja do dia ou a última da noite. Às 9h30 impreterivelmente o mercado termina — é uma tradição que vem da Idade Média, quando os pescadores e a igreja chegaram a um acordo para que se pudesse trabalhar no dia santo. Depois das 9h30, porém, o fuzuê continua dentro do Mercado, um galpão belíssimo, hoje desativado como mercado, que nas manhãs de domingo vira um biergarten coberto, com dois palcos em que se revezam bandas de rock cover (ou seja, uma música mais para continuação da Reeperbahn do que para primeiros acordes matinais). Um restaurante funciona no segundo andar servindo um brunch por € 18.
Depois do mercado, vá andando (ou tome o 112) até o porto, de onde saem passeios de barcaça que dão a volta em toda a área portuária, passando em frente à Elbphilarmonie.
Talvez nunca tenha passado pela sua cabeça fazer tour de porto, mas saiba que esta é a atração número 1 de Hamburgo. E olhe, é bastante interessante: tanto pela mistura de galpões antigos e prédios moderníssimos à beira-rio, quanto por poder percorrer as entranhas do porto e ver como chegam os containers que abastecem o planeta de quinquilharias chinesas…
Depois do passeio, pegue a S-Bahn na estação Landungsbrücken e desça em Sternschanzen: passeie pelo bairro de Schanze e almoce no Bullerei (Lagerstrasse 34b), na cervejaria Altes Mädchen (Lagerstrasse 28b) ou no asiático Bok (Schulterblatt 3).
Passe no hotel para pegar as malas, siga à estação e boa continuação de viagem — a Amsterdã, Copenhagen ou Berlim.
E você? Tem dicas de Hamburgo pra dar? Compartilhe com a gente, danke!
Viagem feita a convite do Turismo da Alemanha
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30 comentários
Excelente
Seu site é um dos principais que utilizo quando vou para algum lugar e quero saber mais e ter dicas. Sempre preciso e com ótimas dicas!
Sobre Hamburgo, tudo o que disse aqui, valeu muito para o meu passeio naquela agradável cidade, mas gostaria de indicar um passeio MUITO interessante: o Alter Elbtunnel. Um tunel (de 1.911) que atravessa o rio Elba, para pedestres e ciclistas (mas vi passando um carro também). O acesso é por St. Pauli Landungsbrücken (ali onde pega as barcas para passeios e também, os ônibus city tour), e no outro lado do rio, tem uma vista muito bonita da cidade. Fiz o passeio de ida e volta (parando do outro lado para fotos) em, mais ou menos, 1 hora.
Desci pelas escadas, mas depois, só usei os elevadores (gratuítos).
Vale o passeio!
Muito legal o post ! Mas acho que Hamburgo merece muito mais dias. Cidade incrível e completa com mil opções de museus, passeios, restaurantes, parques, compras, não falta nada ! Cidade PERFEITA
morei um ano em Hamburgo,,,,linda cidade,os parques,os passeios a barco,onibus ou trem,,,tudo é maravilhoso,,, SINTO SAUDADES DE TUDO!!
Oi, sempre utilizo este blog para minhas viagens. Excelente. Gostaria de saber qual a melhor maneira de ir de Hamburgo a Kiel. Abraço
Olá, Rejane! Na Alemanha procure horários e compre passagens de trem em https://www.bahn.de/international .
Hamburgo vale muito a pena! Eu peguei muita chuva e acabei perdendo um pouco por isso, mas com certeza quero voltar. Visitei também um submarino soviético que fica bem pertinho do Fischmarkt e foi demais! A princípio fiquei com o pé atrás, achando que ia ser aquela típica atração “pega-turista”, mas valeu muito a pena!
Hamburgo tem também uma das maiores Companhias de Ballet do mundo: Hamburg Ballet. Os espetáculos são maravilhosos: as historias, cenários, figurinos, sem dizer que conta com bailarinas brasileiras em seu elenco. Para quem gosta de programas culturais, vai estar muito bem servido.
Olá, Bóia e Ricardo!
Estou em Hamburgo no Holiday Inn St. Pauli e após me aborrecer bastante devido ao calor no quarto de noite porque o ar não ligava resolvi pesquisar e descobri que isso é prática comum aqui. Tanto o Holiday Inn quanto a rede Accor desligam o ar central se a temperatura externa tiver baixa e você que frite no quarto. Descobri também que essas redes fazem isso não só aqui como em toda Europa. Se a temperatura externa tiver abaixo de 18 eles desligam. E nós temos que tentar dormir na temperatura alta que fica no quarto: o termostato marca uns 26,5 graus. E eles não declaram abertamente isso. Tentam primeiro dar a entender que você não sabe mexer no ar, verificam se está tudo ok e alguns funcionários falam de forma velada o que acontece.
Vocês têm conhecimento sobre esse problema? Alguma dica a respeito?
A dica que eu dou é pra que você seja mais consciente, nessa caso é extremamente desnecessário o uso de ar-condicionado em um país com essa temperatura, o mais ecologicamente correto seria abrir as janelas do quarto e aproveitar o ar fresco, fica a dica.
Muitas vezes as janelas dos quartos de hotéis não abrem, ou se abrem, o barulho da rua é alto. E realmente tem vezes que o aquecimento central (que não é ecológico) é muito forte, meio sufocante.
Se é para ser radical, e falar sobre o que é mais ecologicamente correto, seria não viajar por prazer e não queimar combustível de avião à toa…Só conhecer lugares que possam ser alcançados caminhando, por charrete ou bicicleta.
Abraço!
Boa Pablo. Seu comentário foi útil.
Olá, Boia e Ricardo.
Qual a melhor forma de ir do aeroporto para a cidade? Meu marido e eu ficaremos no Holiday Inn St. Pauli.
Obrigada!
Olá, Izabella1 Meia hora de S-Bahn até Hamburg Reeperbahn. A passagem simples custa 3,10 euros. O passe diário custa 7,50 euros por pessoa. O ticket diário para uso depois das 9h custa 6 euros por pessoa.
De táxi dá 30 euros (15 minutos de corrida).
Hamburgo é uma cidade simplesmente sensacional, que te surpreende e te deixa com vontade de voltar.
Acrescentaria nesse roteiro um tour pela Rathaus, a belíssima prefeitura da cidade.
À noite, vale a pena ir para jantar ou ficar na balada ao Zwick, que fica perto do Metro St. Pauli.