#VnVBrasil | Goiânia: um passeio pelo circuito art-déco
Assim como Belo Horizonte e Brasília, Goiânia é uma cidade projetada; nasceu nos anos 30. O autor do projeto inicial, Attilio Corrêa Lima, foi simultaneamente o Lúcio Costa e o Oscar Niemeyer do lugar, porque não se limitou ao urbanismo: desenhou também os prédios mais emblemáticos da cidade. Desta maneira, pôde juntar dois conceitos em voga na época: no urbanismo, a cidade-jardim; na arquitetura, o art-déco (diga: ardecô).
Depois de um ano sem receber salário, Corrêa Lima desligou-se do projeto, tendo desenhado apenas os setores Central e Norte. Foi substituído pelos engenheiros Jerônimo e Abelardo Coimbra Bueno, que projetaram os demais setores (bairros) da cidade. Ironicamente, foi para essas novas bandas que a cidade se desenvolveu, meio que dando as costas para o Setor Central histórico e para os prédios de Corrêa Lima. A maior parte do acervo de arquitetura art-déco da cidade acabou desfigurada ou escondida sob letreiros e tapumes de lojas populares.
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Quem vem a Goiânia a trabalho talvez nem passe perto da zona art-déco — já que provavelmente vai ficar hospedado em algum dos bons hotéis do Setor Oeste e se divertir nos setores Marista e Bueno, zonas supernobres da cidade. Existem, porém, alguns prédios que valem a pena ser vistos, num passeio que não toma mais do que uma manhã — e serve para revelar um pequeno tesouro que passaria despercebido pelo visitante.
Museu Pedro Ludovico
Vindo do Setor Oeste, onde acredito que esteja o seu hotel, sua primeira parada deve ser no Museu Pedro Ludovico, que é onde o governador que construiu Goiânia foi morar (bem depois de deixar o governo). Fica na rua Dona Gercina Borges Teixeira, a meia quadra do Parque dos Buritis. Vale pelo exterior. Dentro da casa os aposentos foram mantidos como eram — o que é historicamente correto. Mas que ficaria mais bacana se virasse um museu de mobiliário déco, ficaria… De todo modo, a visita é gratuita.
Ande duas quadras e você chega à…
Praça Cívica
É o coração déco de Goiânia, e onde os prédios estão mais bem conservados. Mas mesmo aqui o art-déco está escondido: primeiro, pelo Palácio Pedro Ludovico, um prédio provavelmente dos anos 60 (não consegui descobrir a data de construção) postado exatamente atrás do Palácio das Esmeraldas (que deveria ter seu “espaço aéreo” intocado). Em segundo lugar, por três bandeiras fora de proporção que acabam virando o ponto focal (mas que, de certa maneira, ornam com o nome “Praça Cívica”). E finalmente, pelo Monumento às Três Raças, que é de 1968 e é muito mais conhecido do que qualquer jóia déco da cidade (~pausa para bocejo~).
Mas chega de mimimi. Adentre a praça e venha ver de perto que lindeza são esses predinhos.
O Palácio das Esmeraldas, construído para ser a sede do governo estadual, ocupa o centro geográfico da praça.
A partir dele, irradiam-se, simetricamente, os outros prédios, quase todos ocupados pela administração pública goiana (tribunal eleitoral, tribunal de contas, essas coisas).
O mais bonito é o que está aberto ao público: o Museu Goiano Zoroastro Artiaga. Ainda não visitei por dentro (volto lá neste domingo para isso), mas por fora é um encanto.
Talvez esteja na hora de uma pausa para um lanchinho típico:
Pamonha da Vovó
Não, não tem nada a ver com art-déco. Mas nos fundos da praça, bem na esquina da avenida 83, está uma das pamonharias mais tradicionais de Goiânia — perfeita para você ser apresentado à mais goiana das iguarias, a pamonha de sal. Sim, em Goiás come-se pamonha salgada, recheada com queijo, às vezes com lingüiça, às vezes com queijo, lingüiça e pimenta (é a chamada “pamonha à moda”).
Na Vovó as pamonhas fresquinhas são mantidas em bolsas térmicas; você escolhe pelo sabor, pega a sua, leva à mesa e pede a bebida ao atendente, que então anota seus gastos numa ficha. Depois é só pagar no caixa.
Peguei uma pamonha à moda da Vovó, com queijo, lingüiça e guariroba, um palmito amargo. Exxxxceelente.
Vamos continuar?
Avenida Goiás
Seria a Champs-Elysées desta Goiânia déco, caso as fachadas não estivessem tão escondidas. Os dois maiores destaques estão no início da avenida, junto à praça: o Coreto, que está na bordinha da praça (pena a pichações), e a Torre do Relógio.
O canteiro central de toda a avenida está muito bem cuidado (e serve também para um corredor de ônibus). Caso você queira continuar o passeio ao longo da avenida, preste atenção especial na esquina da Rua 3, à direita de quem desce. Ali está o Grande Hotel, que não teve sua fachada desfigurada mas precisa de uma restauração.
Continuando a pé, ao chegar à Avenida Anhangüera vire à esquerda: em uma quadra você chega ao Goiânia Palace Hotel, cuja fachada lateral (na Rua 8) não tem letreiros intrusos. É um hotel de verdade: continua funcionando e se apresenta, legitimamente, como o hotel déco de Goiânia.
No outro extremo da avenida Goiás — vá de ônibus (compre um bilhete SitPass numa banca de jornal antes de embarcar) — está o belíssimo prédio da Estação Ferroviária.
Teatro Goiânia
Poderia estar em South Beach… mas está no cruzamento das avenidas Anhangüera e Tocantins com Rua 23.
Lago das Rosas
Tem um trampolim bonitíssimo, e uma mureta interessante ao longo da avenida Anhangüera.
Caso você tenha ido ao Teatro Goiânia e queira continuar a pé, venha por dentro, pela Rua 3, que continua na Avenida B. Dá de 15 a 20 minutos de caminhada.
Leia mais:
- Pamonha (você é o que você come)
- Na capital brasileira da bóia
- #VnVBrasil | Goiás: à la recherche des images perdues
32 comentários
Olha só, um repórter do NY Times passou por Goiânia e teve impresões semelhantes às do Riq sobre o descaso de Goiânia com sua história arquitetônica: https://mobile.nytimes.com/2017/01/09/world/americas/the-fading-art-deco-dreams-of-brazils-heartland.html
(Só que as fotos do Riq valorizam as edificações, as fotos do NYT valorizam a degradação.)
Goiania tem uma gastronomia regional maravilhosa, uma arquitetura moderníssima, arrojada e muito bonita. A cidade vista de longe, com o sol do final da tarde batendo nela, vale mil fotos. Ela tem lá também sua pequena história de vida (que poucos goianienses conhecem!), mas ir até lá exclusivamente para conhece-la? Me perdoem, goianienses, também nasci aí, mas é um desperdício de tempo e dinheiro!
Eu viajaria para o Estado de Goiás de carro, combinaria entao Goiania com uma visita à Brasília, ao Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, ao Parque das Emas, a Goias Velho, a Pirinópolis, a Caldas Novas. Algumas dicas aqui:
https://www.tripadvisor.com.br/Attractions-g303323-Activities-State_of_Goias.html
Aliás, Goiás vale uma visita por sua natureza belíssima e suas cidades antigas (Goiania é jovem, só tem 81 aninhos) mas, como disse o Marcelo Lemos, o provincianismo das cabecas dos governantes e governados, nao preservam o passado e nao cuidam do futuro.
Infelizmente o coreto e o museu não estão mais tão bonitos.
Onde se hospedar em Goiania para uma semana de lazer
Gostaria de dicas de qual o melhor bairro e hoteis para passar uma semana a passeio em Goiania.
Olá, Kenia! O Setor Oeste está bem localizado para as atrações centrais e a noite no Setor Marista.
Hotéis bem localizados são o Vivence, o Blue Tree Towers, o Plaza Inn Executive e mesmo o Ibis.
Nossa muito legal mesmo este post sobre minha capital querida! Faltou você visitar o parque vaca brava, o parque flamboyant, parque areião, outras praças e até a fazenda santa branca que é um pouco pra lá da capital. 😉
Meu caro,
Achei impactante seu artigo e fotos. Digo isto porque trabalhei por vários anos na Avenida Goiás e sempre pensei como seria uma via realmente linda se a maioria das fachadas não fosse escondida por horrorosos cartazes publicitários e placas de lojas. A Av. Goiás tem uma riqueza arquitetônica esquecida atrás de equivocadas estratégias de vendas. Saio de bicicleta à noite, passo pela região e fico apenas lamentando. Sonho com o dia em que o poder público vai acordar e ver que a cidade tem potencial turístico por conta da arquitetura art-deco. Liberdade às fachadas.
Eu adoro a minha cidade, não troco ela por nenhuma!! Trabalho na Av. Goiás e toda vez que eu ando por ela me lembro da Av. Champs-Elysées, achei engraçado vc ter falado no post!
As ruas são arborizadas e limpas, temos vários parques, bares, restaurantes, boates, feiras e muita gente bonita!
E como disse o Benicio, aqui só falta uma praia pra fica perfeito!
Querido, Ric. Moro há 3 anos em Goiânia, no setor Bueno. Sinceramente acho que você se esmerou muito achando tantos elogios para a cidade. Goiânia tem um povo amável e acolhedor com um tranquilo sotaque caipira, mas o que mais me surpreendeu e me surpreende até hj é ver o quanto é suja e mal cuidada e nisso entram tb os parques. Lamentavelmente tanto a administração quanto as pessoas não parecem ter a menor preocupação com a conservação do espaço urbano, vejo pessoas jogando lixo pela janela do carro e nas calçadas com muita naturalidade. Também a cena cultural da cidade é praticamente inexistente, raríssimas peças de teatro, uma única e modestíssima feira de artesanato e museus mais acanhados ainda. O único programa das pessoas aqui são os barzinhos, espetáculos de dança, mostras culturais, exposições de arte, saraus, são raros. As pessoas dizem que Goiânia é uma fazenda asfaltada e acho que isso define com maestria a cidade, realmente não é uma cidade turística e não há beleza natural, o Jardim Japonês de Curitiba dá um banho em qquer parque daqui. A comida é simples, de fazenda, carne, pequi e feijão tropeiro, ótima para quem não se importa com colesterol nem dietas. Talvez por eu ser de Florianópolis, uma ilha de beleza exuberante e efervecente cena cultural, limpa e muito mais bem cuidada fique difícil aceitar que uma cidade com tanto potencial seja tão mal cuidada.
Não sou goiana, porém moro aqui ha algum tempo, creio que você deveria conhecer melhor a cidade, visitei a sua cidade que vc diz ser maravilhosa realmente é bonita mas deixa a desejar, ruas sujas, calçadas quebradas e com entulho, e olha que fiquei no que é considerado um dos melhores bairro (Jurerê Internacional) e o transito é horrível, na verdade creio ser a realidade de muitas cidades no Brasil.