Guia de Roma
4 passeios diferentes em Roma: bairros fora do centro histórico (por Andre L.)
Muita gente pergunta por passeios diferentes em Roma. O que vale a pena ver em Roma fora do centro histórico? O Andre L., que sempre traz colaborações incríveis aqui para o blog (já leu este post? e este?), desta vez nos presenteia com os caminhos menos percorridos da Cidade Eterna. Observando a arquitetura e a vida das ruas, o Andre revela uma Roma desconhecida da imensa maioria de seus visitantes.
E fique ligado, que essa viagem ainda vai render mais dois posts. Grazie, Andre!
Texto e fotos | Andre L.
Roma além do centro histórico
Recentemente, fiz uma viagem de uma semana a Roma. Foi uma visita diferente, com tempo para explorar além dos lerês que já tinha feito antes. A Itália é possivelmente o país da Europa onde a vida social das pessoas acontece mais fora dos confins da sua própria casa, seja na passegiata do fim do dia, seja nas muitas interações diárias pessoais que acontecem em mercados, na rua, em praças. Além disso, venho desenvolvendo há uns anos um interesse/hobby por questões urbanísticas em geral, e foi com esse olhar que aproveitei pra explorar a cidade.
Sem me iludir com a pretensão de ‘viver como um local‘ (quem viaja a turismo por curto período não está em uma rotina normal de morador), expandi um pouco meio raio de ação. E fiquei muito satisfeito com o que vi, senti, ouvi e comi.
Saber o básico da língua italiana ajuda, mas isso não deve ser obstáculo para ninguém que queira se aventurar por esses lados. São quatro áreas bem diferentes entre si, cada uma com um astral, proposta e demografia bem diferentes uma da outra. Tudo serviu como um ótimo complemento às minhas visitas a sítios arqueológicos e atrações mais conhecidas (falarei de duas delas em outros posts em breve).
Roma: centro histórico x bairros fora das muralhas
Roma é a maior metrópole da Itália, e seu footprint se estende além daquele centro turístico definido entre a Piazza del Poppolo, Fontana di Trevi, Coliseu, e Castelo Sant’Angelo (com o Vaticano já sendo um lugar ‘distante’ do miolo).
Vamos já deixar claro que eu não estou menosprezando as atrações arqueológicas, culturais, históricas desse miolo central em Roma — é sem dúvida, sem pestanejar, a maior concentração desses artefatos culturais relevantes para toda a civilização ocidental. Ao invés disso, penso através de uma analogia gastronômica: combinar um antipasto com secondo e dolce pode ser mais interessante que experimentar uma seleção de 15 tipos de pasta num único jantar (rodízio da pasta, alguém?)
A Itália só passou a existir como país unificado em 1861. Roma era não só a sede religiosa da Igreja Católica, mas também a sede secular do Estado Pontifício, um naco da península italiana cujo governo civil era controlado pela Igreja diretamente. Pense num Vaticano com território do tamanho de Portugal. Isso fez com que a revolução industrial chegasse atrasada a Roma (comparada a Milão ou Turim), o que paradoxalmente evitou que a área central da cidade fosse demolida e reorganizada como em Paris (por exemplo), e ajudou a preservar muito do que hoje admiramos.
Finalmente, em 1870, tropas italianas desmantelaram o Estado Papal e incorporaram a cidade à recém-unificada Itália. Foi então que a cidade se expandiu fortemente além da sua área mais tradicional dentro das muralhas aurelianas, para os bairros que destaco neste post.
Promoções para sua viagem
Passagens promocionais para Roma e outros destinos na Europa
Transporte: como explorar a Roma além das muralhas
De maneira geral, encontrei o transporte público mais limpo, menos pichado e mais organizado do que na minha última visita. Metrôs e trens suburbanos funcionam bem, o tram (bonde) funciona adequadamente e os ônibus — bem, esses tendem a atrasar, ficar presos no trânsito etc.
Passagens e passes são vendidos em lojinhas de conveniência (tabacchi) e bancas de jornal autorizadas. Não dá para comprar passagem dentro dos ônibus e dos bondes, e só as estações de metrô têm máquinas de bilhetes.
O bilhete avulso permite viajar por 100 minutos pela rede de metrô, ônibus e tram. A cada embarque é preciso validar o bilhete num totem (na plataforma do metrô ou dentro do ônibus ou do tram). Para não precisar procurar um tabacchi a todo momento, o ideal é já comprar um passe diário ou de múltiplos dias da ATAC. Dessa maneira, fica fácil se locomover à vontade, sem se preocupar se o bilhete está dentro do horário de validade.
Coincidentemente, os quatro bairros deste post podem ser explorados pela linha B do metrô. Para os bairros do norte (Salario e San Lorenzo) é preciso combinar o metrô com o tram (linha 3 ou 19).
ATAC: bilhetes e passes de transporte público
- Bilhete avulso (100 minutos): 1,50 euro
- Passes:
- 24 horas corridas: 7 euros
- 48 horas corridas: 12,50 euros
- 72 horas corridas: 18 euros
- 7 dias (até a meia-noite do 7º dia): 24 euros
Passeios diferentes em Roma: Salario e Coppedè
Essa área, localizada ao norte do centro de Roma, e próxima da Villa Borghese, foi a que me proporcionou algumas das experiências mais agradáveis de andanças diurnas em Roma.
A parte mais ao norte do Quartiere Salario, entre a Villa Borghese, Viale Regina Margherita e a área do parque de Villa Albani, apresenta um mix interessante de predinhos em estilo neo-renascentista do séc. XIX. É aquele estilo com janelas duplas curvas de madeira, marquises elevadas e balcões elegantemente decorados. Seus atributos são frequentemente (mal) reproduzidos por construtoras brasileiras erguendo blocões de 20 andares e chamando de ‘estilo italiano’.
Por lá vivem famílias de classe média e média-alta, e funcionam vários escritórios de consultorias, private equity e afins, com uma ‘street life’ bem interessante ao redor. As lojas são quase todas voltadas ao público que reside na cidade. Há uma profusão de restaurantes que ficam naquela faixa interessante, e tão difícil de encontrar nas áreas turísticas, entre a experiência gourmet que você precisa reservar com antecedência e a comida mediana sem graça à la carte. Alguns locais são bem transadinhos.
A demografia de negócios e moradores que ali habitam explicam a vibe do local: esse público dos bancos, fundações, empresas de auditoria cria uma demanda por almoços rápidos mas com qualidade. Há ‘piatti del giorno’ bem preparados e servidos sem muita demora, e esses mesmos restaurantes tem a possibilidade de também atrair um público legal para o happy hour e depois ainda moradores decidindo comer fora no jantar sem planejamento prévio e sem reserva antecipada.
O aspecto positivo dessa dinâmica é que restaurantes com custo-benefício ruim, ou dissumulados, não têm muito como prosperar: o público que movimenta os estabelecimentnos volta com frequência, e o boca-a-boca nos locais de trabalho e entre moradores dá conta de fazer seu próprio controle de qualidade. Dessa forma, é uma área interessante para andar e examinar cardápios postados na rua, e decidir onde comer, sem aquele risco de cair em um restaurante pega-turista servindo comida medíocre enquanto paga um aluguel caríssimo com necessidade de girar rápido as mesas.
Além disso, há uma cena interessante de pequeno comércio local, seja de alimentos mais elaborados, decoração, roupas de grifes independentes, para observar e quiçá comprar algo. Há um mercado de rua (próximo à Via Salaria) onde você pode andar e observar o movimento (sem ser acossado por vendedores insistentes gritando e arrastando você para os stands).
A área parece bem cotidiana, o que me fez gostar bastante dali. É um lugar pra tomar um ar, comer, e observar a vida urbana de gente que pode ter profissões e uma rotina diária parecidas com a sua, o que torna a experiência interessante para mim — é fácil eu me enxergar nas pessoas a quem observo. Não vi nenhum grupo seguindo guia turístico com bandeirinha…
A Viale Regina Margherita é a principal avenida de comércio da região, onde dá pra encontrar lojas maiores, e várias grifes e redes de varejo mais conhecidas. Do outro lado, partindo da Piazza Buenos Aires (o epicentro do bairro) pela Via Tagliamento e suas transversais próximas, fica um pedacinho de cidade informalmente chamado de Quartiere Coppedè, em alusão ao arquiteto Gino Coppedè.
Como muitos dos seus contemporâneos no começo do século XX, Coppedè adotou uma variante própria do Art Nouveau, um estilo exagerado, divertido até. Ele projetou vários prédios construídos no bairro, e uma das fontes mais bonitas de Roma — a Fontana delle Rane, que precisa de um restauro.
A arquitetura de Coppedè deixa as linhas mais delicadas do estilo neo-renascentista do outro lado da avenida, e descarrega uma profusão de caras e bocas mitológicas, contornos, frisos e painéis pintados em prédios que parecem falar com os pedestres passando por ali. Ele foi um arquiteto controverso. Alguns críticos de arquitetura descrevem a arquitetura ali como ‘bizarra’, ou ‘exótica’: certamente é algo bem diferente daquela imagem normalmente associada a prédios típicos de Roma.
Até mesmo por isso, o contraponto do Coppedè com a elegância do Quartiere Salario é uma experiência visualmente estimulante. Os detalhes das fachadas são muito intricados, e, como disse, visualmente exagerados, demandando atenção de quem passa e se interessa — ao invés da elegância harmoniosa neo-renascentista que flui junto com o pedestre. Por ali, os moradores parecem ser mais endinheirados que do outro lado da avenida, e há algumas outras mansões e sedes de embaixadas. Descendo um pouco mais, chega-se à Via Chiana, com comércio local mais comum.
Salario e Coppedè: dicas práticas
- Como chegar:
- Pegue o metrô linha B (direção Rebibbia ou Jonio), salte na estação Policlinico
- Da estação Policlínico, siga com o tram 3 (direção Valle Giulia) ou tram 19 (direção Risorgimento/San Pietro) e salte na parada Piazza Buenos Aires
- Modo de usar:
- Vá de manhã para fazer o footing e almoçar no bairro
- À tarde, escolha um museu para visitar: a Galleria Borghese (10 minutos a pé, visita obrigatoriamente pré-agendada), Macro (Museu de Arte Contemporânea de Roma, também 10 minutos a pé) ou Villa Torlonia (20 minutos a pé, ou então tram 3 ou 19 na direção oposta à vinda; salte na parada Regina Margherita/Galeno).
- Pegadinha:
- A região segue o ritmo típico das cidades italianas: muitas lojas e resturantes fecham no meio da tarde para a sesta.
Passeios diferentes em Roma: San Lorenzo
Perto do gigantesco campus universitário La Sapienza fica o quartiere San Lorenzo. É uma área bem alternativa, que não vai agradar a todos, mas que está naqueles primeiros estágios de gentrificação. O bairro foi um núcleo de atividades de guerrilha e resistência durante a 2ª Guerra Mundial. Muitas famílias foram deportadas dali para campos de extermínio nazistas — placas no chão à porta das casas de onde ex-moradores foram deportados mantêm sua memória viva. A região também foi foco de vários protestos políticos nos anos 70.
A vibe da região é na linha contracultura, e a média de idade menor que no restante da cidade (com muitas repúblicas de estudantes). Quase todos os prédios que não têm graffiti têm pichações. Há vários bares e pubs para serem explorados pelos mais descolados-despretensiosos, em modo low-key, além de uns espaços semi-oficiais multiuso (pode ser um pub/pocket theater, ou um espaço pop-up com venda de alguma coisa artesanal).
Você precisa descobrir por conta própria o que está na agenda por lá — quando e onde. Se você entender o básico de italiano, sua visita fica mais fácil (a cena cultural mais indie anda usando muito divulgação via eventos no Facebook).
Vale uma visita se você estiver nesse espírito ou simpatizar com ele (não é um lugar arrumadinho e charmoso como o Salario/Coppedè, e se prédios antigos descascados e pichados te assustam, talvez a área não seja pra você). É uma área legal, também, para os solteiros avulsos na faixa dos 20-35.
Pela localização e pelo que andei observando, deve ser um desses lugares que vai mudar muito nos próximos anos, talvez atraindo para ficar ali quem hoje estuda e daqui uns anos vai estar trabalhando mas ainda querendo viver em um lugar mais alternativo antes de chegarem filhos etc. Por ali tem comida simples e honesta: pizza al taglio (por pedaço), itens de fritteria (frituras) e por aí vai. Na Via dei Sabelli, mais próxima às muralhas, você vai encontar um núcleo de opções com um upgrade.
Por perto, ficam alguns dos muitos fragmentos das muralhas aurelianas, Porta Tiburtina, Porta Maggiore e a Basílica de San Lorenzo Fora-dos-Muros.
San Lorenzo: dicas práticas
- Como chegar:
- Pegue o metrô linha B (direção Rebibbia ou Jonio), salte na estação Policlinico
- Da estação Policlinico, siga com o tram 3 (direção Gerani) ou tram 19 (direção Stazione Trastevere FS) e salte na parada Reti ou Verano/De Lollis
- Modo de usar:
- San Lorenzo fica imprensando entre áreas ferroviárias, o principal cemitério da cidade, o campus (cercado) de La Sapienza e uma via expressa. Vá de dia para se habituar à geografia. Se você gostar, pode se animar para voltar uma noite.
- Pegadinha:
- No mapa, San Lorenzo parece próximo da estação de Roma Termini. Mas a caminhada de uns 2km da entrada da estação até o bairro é feiosa e desconfortável, feita por calçadas estreitas e túneis um pouco escuros margeando prédios industriais abandonados ou fechados. Não é necessariamente perigoso, porém em padrões brasileiros gera aquela sensação de insegurança. As paradas de tram sugeridas te deixam já no miolo do bairro.
- Roma: onde se hospedar
- Itália: roteiros práticos de 8 e 14 dias
- De Roma a Florença, com pit stop em Assis
Passeios diferentes em Roma: Ostiense
No sul de Roma, se estendendo ao longo da margem esquerda do Tibre, Ostiense é um distrito que já teve grande concentração de estabelecimentos industriais, e uma presença residencial forte de italianos que se mudaram para lá após a II Guerra. É uma área que está mudando bastante, e hoje hospeda uma vida cultural animada, além de atrações relativamente (ênfase no advérbio) novas na cidade.
Ostiense atrai por três fatores: antigas instalações industriais convertidas para uso cultural, murais de graffiti espalhados pelo bairro, e uma cena gastronômica rejuvenescida e relativamente despojada. É também um polo que atrai muitos residentes na cidade para seus vários espaços culturais de vários tipos, tamanhos e gostos. É um bairro grande, que passou e passa por grandes transformações no processo de dar vida nova à esse que já foi o principal distrito industrial da Roma moderna.
No começo do bairro, entre a Via Ostiense e o rio Tibre (e a uma caminhada curta do Testaccio), fica uma extensão dos Museus Capitolini na antiga usina elétrica da Centrale Montemartini (aceita Roma Pass).
Seguro Viagem Bradesco: sua tranquilidade em viagens internacionais.
Usar antigos prédios industriais como espaços pra exibitir artes plásticas não é algo novo, mas o que chama a atenção ali foi a preservação extensa dos artefatos e equipamentos da vida pregressa da construção como usina, misturadas com uma iluminação diferente da usual com estátuas e esculturas (predominantemente). É um efeito interessante, porque o passado do prédio fica bem evidente, não apenas como uma referência arquitetônica aqui e ali. As obras de arte são muito mais antigas que a usina, mas as instalações da usina dão o tom do espaço – eu gostei dessa dissonância conceitual.
Atrás da Centrale Montemartini ficam o antigo gasômetro (que também será convertido em espaço cultural) e Ponte della Scienza, aberta há alguns anos (somente para pedestres), e que liga esse novo pólo cultural em formação em Ostiense com o distrito de Portuense, do outro lado do rio. Há varios outros prédios de antigo uso industrial que vão ser futuramente reformados, ou que já estão nesse processo.
No outro lado da Via Ostiense, numa área já mais consolidada e um pouco ao leste, está instalado o famoso Eataly Ostiense (nas antigas instalações do Air Terminal).
Seguindo rumo sul adiante pela Via Ostiense, fica o campus da universidade Roma Tre. Por trás dele, uma área com alguns clubes e pubs descolados e — mantendo a linha do bairro — despojados, além de ateliês e estúdios artísticos escondidos nas vielas. Algumas construções têm arte externa nas paredes bem legais. Infelizmente, o campus em si não tem nada de muito interessante e, como acontece em La Sapienza, é também em sua maior parte cercado.
Seguindo um pouco mais pela avenida principal, chega-se ao interessante Parque Schuster e à Basílica de São Paulo Fora-dos-Muros. No passado, a basílica talvez fosse a única atração a fazer o visitante se abalar àquela região — e continua lá, impressionando pelo tamanho, pela disposição peculiar das colunas e pela iluminação natural também peculiar.
A basílica serve também como um ponto de referência para o setor que mais gostei em Ostiente. No trecho da Via Ostiense entre a basílica e a Faculdade de Filosofia, e nas vias paralelas do outro lado da ferrovia, ficam muitos murais de rua, lojas pequenas (algumas) que vendem de muffins artesanais orgânicos a artesanato em vidros coloridos, intercaladas com as (muitas) lojas de comércio local que servem à população que mora por ali.
Por fim, na esquina do Valco di San Paolo e Via Ostiense, comi uma excelente pizza da minha viagem (essa ali do mosaico) no Il Ponticello, que tem um wine bar interessante lhe fazendo companhia (e concorrência) do outro lado da rua. Vi também uns outros dois bistrôs afinados com a vibe do bairro em construção nas proximidades. Quero voltar lá em outra oportunidade e conferir!
O astral da região é bem diferente de Salario e Coppedè, que relatei anteriormente: Ostiense é bairro classe média-média mesmo. Há uma distinção, evidente e clara, que vai se formando entre aquelas lojas pensadas nos recém-chegados para morar ali ou que visitam o bairro de outras partes de Roma; e aquelas outras tantas que ainda são mais voltadas para o perfil da população que vive ali há décadas. Esse contraste do que a região virá a ser e o que é hoje fica bem aparente, é legal ser um discreto observador dessa dinâmica de transformação urbana.
Ostiense: dicas práticas
- Como chegar:
- Pegue o metrô linha B (direção Laurentina), salte na estação Piramide (se quiser ir à Eataly) ou Garbatella. Volte pela estação Basilica San Paolo (pegue a mesma linha B, direção Rebibbia ou Jonio)
- Modo de usar:
- A ideia aqui é caminhar pela Via Ostiense, que corta o bairro em sentido longitudinal a partir da Pirâmide de Caio Cestio e permite explorar as atrações adjacentes
- Pegadinha:
- Com desvios, a caminhada será longa. Nada impede de usar a linha de metrô ao longo do bairro para facilitar o passeio.
Passeios diferentes em Roma: E.U.R.
O quartiere E.U.R. evoca, de forma imediata, as lembranças visuais de quem já morou, trabalhou ou visitou o Plano Piloto em Brasília: avenidas largas e curvilíneas, espelho d’água, prédios modernistas, órgãos estatais conhecidos e obscuros, e uma sensação de que as distâncias no chão são muito maiores do que no mapa devido aos truques visuais pregados nos pedestres pela arquitetura monumental.
Concebido por Mussolini para hospedar uma exposição universal em 1942 — que nunca ocorreu por conta da 2ª Guerra –, o distrito tem alguns atrativos que podem justificar um pulo por lá. E.U.R. é o bairro que mais parece ‘fora do lugar’ em Roma. Sua forma urbana destoa completamente do restante da cidade, o que também pode satisfazer aquela curiosidade de quem pensa “existe alguma área em Roma com prédios com menos de 150 anos?”
A principal atração arquitetônica do E.U.R. é o Palazzo della Civiltà Italiana, que recebe a alcunha de Colosseo Quadrato (Coliseu Quadrado). Foi uma obra faraônica de Benito Mussolini, pensada para ser uma obra-prima do estilo arquitetônico prevalecente no fascismo, a fim de evocar as supostas virtudes estéticas defendidas pelo regime ditatorial fascista de então.
O prédio inspira-se nas arcadas do Coliseu, mas tem quatro faces, situado sobre um alto pedestal com escadas circundando todos os lados e estátuas austeras postadas sob várias arcadas no térreo.
Mala de bordo nas medidas certas
Visto de longe, o prédio impressiona pelas linhas harmoniosas e imponentes, limpas, sem nada do rebuscamento que marcou os estilos da época anterior (como aqueles que se vê no Coppedè). Visto de perto, o prédio parece maior do que realmente é, e gera ilusões e ótica interessantes para quem anda ao redor do mesmo observando as arcadas nos níveis superiores.
O prédio nunca chegou a ser usado para os fins pensados por Mussolini, ficou em desuso por tempo, e desde 2015 abriga a sede da grife Fendi. É livre a entrada nas escadarias e na área externa, e também há uma pequena exposição (gratuita) lá dentro. A chegada mais imponente é caminhando em direção ao prédio pelos jardins do Viale della Civilità del Lavoro.
Na vizinhança, se encontram vários prédios em estilo racionalista, e alguns deles abrigam um núcleo de museus que se foi reunido sob a égide do Museu das Civilizações (não confundir com o palácio acima; aceita Roma Pass).
O museu é um complexo interessante e pouco muvucado de três museus etnográficos que cobrem tanto culturas proto-romanas, como também aquelas dos povos que habitaram diferentes regiões do que hoje se conhece como ‘Itália’, além de coleções de outros territórios como Egito, Extremo Oriente. Acho particularmente interessante o museu de artes de tradições populares italianas que fica abrigado lá. A visitação é fácil, sem multidões e filas, e não toma muito tempo.
Por fim, há um lago artificial (Laghetto dell’Eur) em cuja margem foi construída um bonito conjunto de fontes d’água modernas (Giardino delle Cascate). É uma reinterpretação contemporânea do conceito das fontes ornamentais barrocas que pontilham a cidade e são parte integral da sua identidade urbana. Há bastante sombra, espaço para piqueniques, casais passando o tempo, famílias andando com seus pets etc. Não é uma fonte mastodônica, mas elegante, é mais um projeto paisagístico ornamental modernista que uma tentativa de fazer frente à monumentalidade do tecido urbano, com o qual se integra bem.
E.U.R.: dicas práticas
- Como chegar:
- Pegue o metrô linha B (direção Laurentina), salte na estação EUR Magliana (para ir ao Colosseo Quadrato) ou EUR Fermi (para o Giardino delle Cascate)
- Modo de usar:
- O circuito Colosseo Quadrato + Museu das Civilizações + Giardino delle Cascate dá 40 minutos de caminhada (fora as paradas, claro).
- Pegadinha:
- O bairro é mais interessante em dias úteis.
15 comentários
Gostaria de saber a melhor opção Roma p puglia
Por favor roteiro
Olá, Hermelinda! Há trens de Roma pra Bari. De lá você pode ir de trem a Poligano, Monopoli e Lecce. Se alugar um carro, pode fazer um roteiro mais extenso. Infelizmente ainda não dispomos de roteiro organizado da Puglia. Esperamos ter para o próximo verão europeu.
Excelente post! Fiquei um mês hospedada na Via Salaria, bem próximo a Piazza Fiume. É exatamente como foi descrito. A região é uma boa opção de hospedagem.
Gostaria de saber sobre um roteiro de Portugal e Itália. Obrigada
Olá, Lúcia!
Veja:
https://www.viajenaviagem.com/2018/07/roteiros-portugal/
https://www.viajenaviagem.com/2018/04/roteiros-italia/
https://www.viajenaviagem.com/2012/01/passagens-internacionais-como-evitar-o-erro-mais-comum/