Guia de São Luis
Alcântara
Endereço da aristocracia rural do Maranhão nos séculos 18 e 19, quando mandava seus filhos estudarem em Coimbra, Alcântara viu sua sorte mudar com o fim do ciclo do algodão, a abolição da escravatura e a ascensão de São Luís.
Seus ricos empobreceram, e grandes edificações foram abandonadas no meio da construção. A decadência econômica manteve a cidade parada no tempo, mais ou menos como fez com Paraty.
Essa mistura de casario preservado com ruínas espetaculares criou um cenário único. Sem as ruínas, Alcântara seria uma cidade bonitinha e visitável, mas sem maiores tesouros. Com as ruínas, Alcântara se torna a mais dramática e misteriosa de nossas cidades históricas.
As ruínas parecem ter sido espalhadas pela cidade por um cenógrafo: aqui fica bem uma. Aqui nesse canto vamos pôr duas, meio que conversando. E ali na frente dessa igreja restaurada vamos colocar o esqueleto dessa casa, para contrastar.
De quebra, as ruínas ainda oferecem graciosamente suas portas e janelas vazadas como molduras ready-made para as fotos de quem passe. Não dá para imaginar que ficaram assim por descaso. Parecem mais vítimas de uma praga que acometeu umas construções e outras não.
Como chegar
As embarcações para Alcântara saem do cais da Praia Grande, junto ao centro histórico. A viagem leva 1h20 e custa R$ 20 por trecho (fevereiro/2022). O mar costuma bater muito, e é comum enjoar. É recomendável tomar Dramin meia hora antes da ida e da volta.
Há 4 ou 5 barcos diários entre São Luís e Alcântara — o número varia porque normalmente algum deles está em manutenção. Quase todos saem de manhã e voltam à tarde.
Como se informar sobre os horários
Os horários variam de acordo com a maré — já que, com maré muito baixa, não há condições de operação no cais. Pela manhã, o nível mais favorável da maré pode ocorrer entre 5h30 e 11h, e todas as embarcações vão acabar marcando as saídas para uma mesma faixa horária.
Se você der um pulinho no cais (é fácil, dá para começar seu passeio pelo Centro Histórico por ali), vai saber todas as embarcações que estarão operando nos dias seguintes e seus horários de saída — as informações estão em cartazes colados nos guichês.
O barco Luzitana é a única embarcação que informa seus horários pela internet (clique aqui).
Como comprar a passagem
Em São Luís, os guichês das embarcações no Cais da Praia Grande abrem uma hora antes do horário de partida. Em Alcântara, será possível comprar a volta logo no momento do desembarque.
Para garantir seu lugar, você pode reservar por WhatsApp:
Barcos para Alcântara
- Luzitana: (98) 98869-1062
- Bahia Star: (98) 98445-1699
- Lua Nova: (98) 99111-2657
- Bira Mar: (98) 99142-3915
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Alcântara de ferry-boat
Se você não puder embarcar no horário das lanchas, ou não conseguir lugar, ou ainda se não quiser ficar mareado na travessia, pode optar por atravessar por ferry boat. A travessia é feita em vários horários por dia, levando do cais da Ponta da Espera, a 12 km do centro histórico, a Cujupe, um porto a 60 km de Alcântara. De Cujupe você continua de van a Alcântara.
O trajeto acaba sendo bem longo — mais de meia hora para chegar até a Ponta da Espera, depois 1h30 de travessia a Cujuípe, então mais 1 hora de Cujupe a Alcântara. Com intervalos entre os transportes, a viagem acaba levando entre 3h30 e 4h. Para fazer num esquema bate-volta é cansativo demais.
As duas empresas que fazem a travessia são a ServiPorto e a Internacional Marítima (clique para ver horários). A travessia custa R$ 12 por trecho e as vans cobram em torno de R$ 6 por trecho.
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Bate-volta ou pernoite?
A imensa maioria dos visitantes vai e volta no mesmo dia. Não é o melhor esquema. Você passa o dia como um sem-teto, com sol inclemente na moleira, fotografando as belezas de Alcântara sob uma luz que embranquece as fotos. Provavelmente vai achar tudo lindo de todo jeito — mas voltará para São Luís pensando que Alcântara é uma cidade fantasma, já que praticamente não terá visto ninguém na rua.
O que os turistas que bate-voltam não sabem é que a cidade acorda depois que a lancha da tarde parte — não porque esteja querendo se ver livre dos turistas, mas porque é com o sol baixo que fica bom sair à rua. É quando você descobre que Alcântara não é uma cidade cenográfica. As crianças voltam da escola, as mulheres vão às compras, as motocas começam a zunir pelas ruas.
Enquanto os moradores saem às ruas, os guarás saem em revoada na praia, em outro espetáculo do entardecer.
Tarde da noite, quando a cidade se recolhe, as ruínas voltam a ficar tão solitárias quanto atravessaram o dia. Ficam lá, teatralmente iluminadas, prontas para brilhar no instagram de turistas que foram embora cedo demais.
Em resumo:
Se você só tem tempo para o bate-volta, faça. É melhor fazer o bate-volta do que não ir a Alcântara.
Mas se puder passar uma noite na cidade, o passeio vai ser ainda mais bacana.
Mala de bordo nas medidas certas
O que fazer
Brincar de encontrar os melhores ângulos para fotografar será a sua tarefa principal enquanto estiver em Alcântara.
Mas há uma série de paradas que, além de interessantes, proporcionam um bem-vindo refúgio do sol e do calor.
Depois de desembarcar no Porto do Jacaré, você sobe uma ladeira que termina na Praça das Mercês. (Se não quiser subir, pode pegar um mototáxi.)
No caminho você já pode comprar um doce de espécie, deliciosa queijadinha de coco vendida em algumas portinhas e que vai ser a melhor sobremesa (ou lanche da tarde) que você pode ter no Maranhão.
Na Praça das Mercês há uma pequena capela, a Capela das Mercês, construída no lugar onde existia um convento. Normalmente está fechada.
Seguindo em frente, no primeiro beco à direita você verá a Capela de Nossa Senhora do Desterro. Manda a tradição que o forasteiro deve tocar o sino que está junto à mureta e fazer um pedido. O restaurante Cantaria fica no mesmo beco e é um bom lugar para almoçar.
Uma quadra adiante você chegará à Praça da Matriz, primeiro grande momento uau da sua visita. A praça é dominada pelas ruínas da Igreja de São Matias, que nunca chegou a ficar pronta mas ostenta a dignidade de um grande monumento. De dia é linda; de noite, iluminada, é um deslumbre. A seu lado, o Pelourinho é original.
A praça tem dois pequenos museus que valem a visita. O Museu Histórico de Alcântara ocupa o casarão do Barão de São Bento e organiza provas da opulência dos tempos áureos de Alcântara: móveis, louças, brasões, moedas e peças de arte sacra.
Na mesma calçada, a Casa Histórica de Alcântara é um museu temático: reconstitui a residência da família do comerciante português Antonino da Silva Guimarães, incluindo os móveis da botica de que era dono.
Informações práticas
Vire no beco ao lado da Prefeitura: você vai chegar à Rua da Amargura (ou Bela Vista), que costeia a colina e funciona como uma galeria de belas ruínas, algumas invadidas pela vegetação (estilo Angkor). Entre elas estão as ruínas do Palácio do Barão de Pindaré, que começou a ser erguido para disputar o pernoite do imperador Dom Pedro II numa visita que nunca chegou a acontecer.
Mais um pouco e você vai chegar a um grande largo. Ali estarão as ruínas do outro palácio que começou a ser erguido para hospedar Dom Pedro II: o Palácio do Barão de Mearim, ou Palácio do Imperador.
Sua vizinha de frente é a Igreja de Nossa Senhora do Carmo, que foi concluída e continua de pé e nos trinques. É a igreja mais ricamente ornamentada da cidade; dê uma entrada. (Ao lado estão as ruínas de um convento carmelita que nunca chegou a ficar pronto.)
Pergunte na cidade se já reabriu a Casa do Divino, museu dedicado à festa mais importante da cidade (leia sobre a festa aqui). Se tiverem reaberto, volte uma quadra pela Rua Grande para visitar o museuzito.
Continue o passeio seguindo pela rua da Miritua. Três ruas adiante, vire à direita: a rua do Cemitério tem duas atrações. A pequenina Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, onde rezavam os escravos. Tem uma decoração mais simples porém bastante impactante.
Em frente fica a Casa da Cultura Aeroespacial, que explica o programa aeroespacial brasileiro e base de lançamentos de Alcântara, e tem um foguete estacionado no pátio interno.
Informações práticas
Se você dormir uma noite na cidade, pode aproveitar no dia seguinte a Praia da Baronesa (vá a pé ou de mototáxi) ou fazer um passeio de barco (peça para a sua pousada ajudar). Se for feito no fim do dia, você pode ter a sorte de presenciar uma revoada de guarás (nesse caso, faça o passeio no dia da chegada).
Festa do Divino
A Festa do Divino é a tradição mais bem guardada de Alcântara. A festa acontece da véspera da Quinta-Feira da Ascensão do Senhor ao Domingo de Pentecostes. Em 2022, aconteceu entre 25 de maio e 6 de junho.
Procissões, batucadas e pessoas encarnando personagens da época do Império caracterizam os onze dias da festa, que celebra a fartura. Várias casas são abertas ao público, que pode comer e beber de graça.
Ao contrário do que acontece em São Luís, a Festa do Divino de Alcântara é totalmente católica — sem ligação com os terreiros de tambor de mina (o candomblé maranhense), que influencia a festa no resto do estado.
As pousadas esgotam as vagas com meses de antecedência. Mas durante a festa aumenta a freqüência das embarcações, permitindo que mais visitantes aproveitem a festa.
Onde ficar em Alcântara
Maison du Baron
Para ficar bem no centrinho, a melhor pedida é a Maison du Baron. Se você for apenas com mochila, dá para ir a pé desde o atracadouro (menos de 10 minutos de caminhada).
Bela Vista
A Bela Vista fica a 10 minutos de caminhada do centro, e tem uma pequena piscina. Ao chegar e partir, use táxi; para ir à cidade, dá para ir a pé (à noite, volte de mototáxi).
Pousada dos Guarás
Já a Pousada dos Guarás fica na praia. É indicada para quem vai ficar pelo menos duas noites (assim você aproveita o segundo dia inteiro de praia). Ao chegar, ao partir e à noite você vai precisar de mototáxi.
Onde comer em Alcântara
Para almoçar, a melhor pedida é o Cantaria (tel. 98 99124-3026), que serve um peixe na telha com molho de camarão e três arrozes (branco, de mariscos e de cuxá). Fica no finzinho do beco da rua Pequena, em frente à igrejinha do Desterro, com vista para o sino da igreja e para o mar.
Para jantar, vale a pena escapar até a Pousada Bela Vista (tel. 98 99143-2503) — vá de mototáxi. O carro-chefe da casa é a pescada amarela com camarões graúdos.
Um point noturno recente é o Café com Arte, que costuma promover saraus (R. Grande, 76, tel. 98 99226-4640).
54 comentários
Boia, estou em São Luís e vou pra Alcântara amanhã. Fiz contato com alguns dos números indicados pra saber informação sobre horário dos barcos e esse telefone do Barraqueiro (final 5288) está desatualizado. Quem atendeu foi uma senhora que disse que não sabe sobre barcos. Que faz um tempo que pessoas ligam perguntando e ela não sabe o motivo.
Obrigada por avisar, Carolina! Vamos tirar, então. Tadinha da senhorinha!
Bom demais as dicas do texto! Gostaria de saber, se é muita doidera chegar no aeroporto de São Luís, ir direto para Alcântara (dormir por lá), voltar para São Luís, fazer os rolês na cidade (uns 2 dias) e depois partir para os Lençois.
Olá, Ricardo! Precisa combinar com os russos para coordenar o horário de chegada do avião com a saída dos barcos para Alcântara, que muda diariamente por causa da maré.
Olá! Estou querendo ir para Alcântara no sábado, pernoitar e voltar para São Luís no Domingo. Os barcos funcionam normalmente no domingo? Não terei problemas para retornar? Obrigada pela orientação!
Olá, Nássara! Você pode tentar confirmar horários nesses contatos que estão no texto ou com a pousada onde você quer ficar.
Olá, estou pensando em passar um pernoite em Alcântara, de sábado para domingo. Vale a pena por ser fds? Ou melhor o bate-volta no sábado?
Olá, Luciana! Pernoite sempre é melhor, você vê uma Alcântara que os turistas que voltam antes do entardecer não imaginam que exista.
Fui recentemente para Alcântara. Para ver os horários do barco da empresa Bahia Star é através do Instagram lanchabahiastar.
Só consegue comprar a passagem na hora e no guichê, 20 reais. Melhor chegar com 1 hora antes do embarque para garantir a compra e o embarque.
Para comprar a passagem de Alcântara para São Luís não aceitam cartão ou pix no guichê de Alcântara, tem que ser em espécie.
Tive um guia excelente em Alcântara que fechei diretamente, 25 reais por pessoa.
Fui na última sábado para Alcantara. As fotos ficam deslumbrantes mas realmente é um perrengue chegar lá. Em resumo, foi 1:20h para ir e 1:20 para voltar, e apenas 1h para andar por lá. Sendo que a navegação balança muito, então fique na rota do ventinho do mar e tome remédio de enjoo para não acabar com o seu passeio. Pagamos R$20,00 o trecho e já compramos a passagem de ida e volta juntas. Alguns guias abordaram a gente no guichê de compra da passagem, mas fizemos tudo sozinhos com as dicas daqui que foram super valiosas. Um guia cobrou R$20,00/pessoa para fazer tudo a pé e o outro cobrou R$60,00/pessoa. Eu prefiro andar até pqra sair da rua principal e curtir o visual.
Oi Boia! Vc indica guias que fazem explicação histórica sobre Alcantara?
Olá, Erika! Infelizmente não temos como indicar.
Melhor post. Vou salvar e seguir tudo e dizer às empresas que vocês citaram que vim por indicação de vocês.
Olá, gostaria de saber se é uma cidade segura e se é tranquilo para fazer o roteiro sozinha, sem maiores problemas de segurança.
Olá, Emilene! Muito segura e tranquila.