De Brasília ao Jalapão, via Veadeiros, de jipe: o relato do Edison
Ano passado, um pouco antes de eu ir para o Jalapão, o Edison entrou num post antigo para deixar sua receita, testada na prática, de como ir ao Jalapão desde Brasília, com 4×4 próprio. É um roteiro que dá à região um de seus melhores usos: o de brincar de rali. Eu precisaria de um departamento de cartografia para montar os mapas (o Google Maps não traz a posição certa das estradas), mas seguindo as indicações do Edison, e indo com tempo sobrando, você chega lá.
Vai pelo Edison:
Ao contrário da idéia comumente disseminada, é possível chegar à região de carro, sem passar pelo aeroporto de Palmas e sem contratar pacotes das empresas de turismo que operam na região. Recolhendo o máximo de informações, de mapas e redobrando os cuidados tradicionais com o veículo, e após percorrer 870 km de estradas a partir de Brasília se chega à Mateiros, o coração do Jalapão.
A primeira dúvida: só de veículo 4×4? Pensamos que é muitíssimo recomendável um veículo com tração nas 4 rodas, embora não sejam inviáveis alternativas. Carros leves e mais altos, do tipo Gol e Uno podem chegar, mas é muito provável que isso acarrete aventuras adicionais durante o passeio, e muito trabalho. Nesse caso, seria aconselhável levar na bagagem algumas tábuas e uma pá; lembrando que usar esses apetrechos pode roubar um bom tempo da viagem. Mas para os aventureiros irredutíveis, e que disponham de tempo, isso pode simplesmente tornar a experiência mais radical.
A segunda pergunta: qual o melhor caminho? São muitos e alguns bem parecidos. Via Belém-Brasília (Brasília – Padre Bernardo – Uruaçu… ou Brasília – Cocalzinho – Dois Irmãos – Uruaçu…). Via BR 020 (Brasília até Luis Eduardo Magalhães – BA, provavelmente o mais longo, mas de boas estradas) ou via Chapada dos Veadeiros que, embora não seja o roteiro com as melhores estradas, possibilita uma escala para “aquecimento” no paraíso místico e natural da Chapada. Foi esta a escolha minha e da Leti.
O trecho de estrada entre a BR 020 e São João da Aliança passa por reformas. Ficamos em dúvida se não serão daquelas obras que em pouco tempo se perdem mas, vá lá, estão melhorando bastante o acesso à Chapada! Em Alto Paraíso, São Jorge e Cavalcante há numerosas opções de hospedagem para todos os bolsos. Fizemos uma parada para dormir em Alto Paraíso e buscamos a opção mais barata (verdadeiramente, impagável). Passamos apenas uma noite por lá, na casa de um casal de amigos fraternos que sempre nos recebem com carinho (dessa vez com um inesquecível banho de ofurô). Mas, sigamos rumo ao Jalapão.
Ao norte, passando pela cidade de Teresina de Goiás (estrada cheia de defeitos causados por sucessivas operações tapa-buracos) chegamos a Campos Belos, onde nos despedimos dos torrões que permaneceram goianos após a criação do mais novo estado brasileiro. Aqui deve ser escolhido o caminho para entrar em terras tocantinenses: à esquerda, por Arraias ou à direita, seguindo por Taguatinga em direção a Dianópolis. Optamos pelo caminho de Taguatinga, já pensando em voltar pelo “outro lado”…
Nossa escolha foi influenciada pela curiosidade de conhecer imediatamente o menor rio do Brasil, o rio Azuis, no município de Aurora de Tocantins. Além de obrigatória a parada é fascinante. De fácil acesso, essa atração fica a poucos metros da rodovia TO 110, à direita, cerca de 30 km antes de Taguatinga. Ótima pedida para o primeiro mergulho nas águas cálidas do Tocantins ou, simplesmente, para admirar.
O próximo destino é Dianópolis, de onde há mais de uma alternativa para seguir viagem. Não chegamos até a cidade. Antes, a 4 km, existe um trevo com uma estrada à direita, que fica a uns 200 metros de um posto de gasolina. Foi por essa estrada que continuamos em nosso roteiro, sugerido pelo Sr. José Roberto, dono da Pousada Panela de Ferro, nosso refúgio em Mateiros. É aconselhável chegar ao posto, tanto para abastecer a viatura como para assuntar sobre o caminho, chamado de “passagem pela garganta”.
Voltando os tais 200 metros e pegando a estrada da garganta entramos no estado da Bahia. Os primeiros 57 km numa ótima estrada asfaltada que nos leva ao agrodeserto do oeste baiano. O asfalto termina e começa o poeirão. São 154 km de terra, que as autoridades rodoviárias costumam chamar de “leito natural”, em meio às intermináveis plantações de soja e de algodão que reconstroem a paisagem e alavancam o agronegócio na região.
Desde a entrada para a garganta e adiante esqueça as placas ou qualquer outro tipo de sinalização. Tampouco há vendas de beira de estrada, pessoas, casas ou qualquer alternativa para obter informação, até que se chegue à Panamby. Seguimos levantando poeira numa espécie de “terrovia” principal, porém há um sem-fim de estradas secundárias e de acessos aos galpões de máquinas dos agroestabelecimentos; nada parecido com as fazendas como as que existem em regiões nas quais o agronegócio não chegou tão açodado. Alertamos que após 13 km iniciais de estrada de terra existe uma bifurcação. Pegamos a estrada à esquerda, que nos pareceu a principal. Deu certo.
Após Panamby (ou seria Nova Panamby?), onde as pessoas pareceram não saber se estávamos na Bahia ou em Tocantins, existe, de fato, um caminho principal o qual deve ser seguido até a primeira e única placa de sinalização, que indica à esquerda – “Mateiros 43km”, agora numa estradinha sem sustos e sem bifurcações.
Chegando a Mateiros não há mais complicação. Nada que não se resolva num bate-papo com a gente da pequena cidadezinha, conversando com as pessoas das poucas pousadas existentes, com a turma do Centro de Apoio ao Turista ou durante o inevitável ataque às panelas da dona Rosa. Figura singular da cidade e fornecedora de uma comidinha honesta, a dona Rosa é detentora de uma prosa superdivertida, além de sempre dispor de uma cervejinha gelada para encerrar o dia e ajudar na remoção da poeira, que sempre se acumula involuntariamente na goela de alguns viageiros. Nosso condutor local foi o Alessandro (63/9949-0097). Em tempo: em Mateiros só funciona celular da Vivo.
Nosso retorno foi por Ponte Alta do Tocantins, considerada a porta de entrada do Jalapão, por ser a primeira cidade próxima ao Parque Estadual quando se vem de Palmas. A péssima estrada desde Mateiros é o único caminho para concluirmos o circuito jalapônico e conhecer os atrativos mais próximos de Ponte Alta. São 170 km de terra, pedras e de verdadeiras piscinas de areia, onde há o risco de o carro ficar atolado, com a barriga presa no areião.
Em Ponte Alta ficamos na acolhedora Pousada Planalto, onde fomos recebidos pela dona Lázara, guia experiente e possivelmente uma das maiores conhecedoras da região. Proprietária da pousada e operadora tradicional do turismo local, ela dá todas as dicas importantes e indispensáveis e dispõe de boa estrutura, que inclui veículos 4×4, alugados na própria pousada.
Como nosso objetivo foi o de falar sobre como chegar e sair do Jalapão vamos direto ao caminho de volta já que, chegando-se em Mateiros e depois em Ponte Alta, está “tudo dominado”. Antes, duas dicas gastronômicas da cidade merecedoras de registro: os pasteizinhos fabulosos e outros lanches da padaria que fica na rua da dona Lázara, imprescindíveis na hora de montar a matula para os passeios e o churrasquinho no bar do Belêco (acompanhado de feijão tropeiro, mandioca, vinagrete e arroz) Tudo muito bem servido, gostoso e barato demais. O nosso melhor jantar no Jalapão. Lembramos que o Belêco também é agente de turismo!
De Ponte Alta seguimos para Pindorama: 56 km, para nossa surpresa, quase todos asfaltados. Dali mais 85 para Natividade. Nesse último trecho, os primeiros 65 km são de terra, numa estradinha excelente (lembramos que nossa viagem foi em julho/agosto, em ano de eleição municipal. Há motivos para desconfiar que isso tenha influencia na patrolagem recente da estrada). Depois, mais 20 km no ótimo trecho em asfalto da BR 010 até a cidade, fundada no início do século 18, na corrida pelo ouro. Recomendamos um passeio nessa cidadezinha.
Depois da parada histórica continuamos mais uns poucos quilômetros na BR 010 até Príncipe. Daí, seguimos na TO 050 (piora muito a qualidade do asfalto), passando por Conceição de Tocantins e Arraias, fechando o nosso circuito em Campos Belos, onde reencontramos nossas pegadas no contorno de volta à Brasília.
(Total percorrido no caminho de volta: 949 km, contra os 870 da ida).
Obrigadíssimo, Edison!
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22 comentários
Gostaria de saber se é possível ir de carro para uma das cidades proximas ao Jalapão, tipo São Felix do Tocantis e de lá contratar alguma agência, ou seja, a agência seria apenas para os passeios, sem hospedagem e transfer Palmas-Jalapão
Olá, Michel! Contate a agência previamente, provavelmente você pode se encaixar num grupo que vem de Palmas sem precisar ir até lá.
E possível fazer os passeios sem guia??
Olá, Rozeli! Atualmente é muito difícil percorrer o Jalapão sem apoio de uma agÊncia local. A logística de hospedagem e de visitação dos atrativos é bastante complicada para fazer por conta própria.
Gostaria de saber se o trecho entre Cavalcante e Aurora do Tocantins, quando vocês passaram era asfaltado?
Olá Camila. Você saberia informar como está a estrada de Brasília para Natividade? Houve alguma abertura de cratera por conta das chuvas? Algo que impeça uma viagem de carro?
Estou me programando para ir, chapada dos veadeiros e jalapão , falaram que é arriscado perigoso, isso é verdade? Pode me ajudar
Olá, Daiane! Não é verdade.
Tenho muita vontade de fazer Chapada dos Veadeiros e Jalapão na mesma viagem, porém não tenho coragem de ir por conta própria. Alguma indicação de empresa que faça essa rota?
Olá, Camila! Não existem passeios combinados às duas regiões, elas são bastante distantes entre si. Você pode comprar um pacote para a Chapada dos Veadeiros saindo de Brasília e outro ao Jalapão saindo de Palmas. Um agente de viagem pode fazer todos os arranjos para voCê, incluindo o vôo entre Brasília e Palmas.