Cuba

Cuba: o que muda no turismo, com a reaproximação com os Estados Unidos

Foto | Marco Ferraz

O que vai acontecer com o turismo de Cuba depois do telefonema do Obama pro Raúl? Num primeiro momento, nada 😀

Cuba

O que muda neste momento é a percepção de muita gente que achava que Cuba era um lugar invisitável, fechado ao turismo, e que agora, com a reaproximação com os Estados Unidos, pode entrar no mapa das suas férias.

Nada mais errôneo. Cuba se abriu ao turismo na década de 90, depois do colapso da União Soviética, como medida pragmática para obter moeda forte. Segundo a Organização Mundial de Turismo, um órgão da ONU, em 2013 a ilha recebeu 2,8 milhões de turistas (exatamente a metade dos 5,6 milhões que vieram ao Brasil, pela mesma fonte). O maior emissor de visitantes é o Canadá: mais de 1 milhão de canadenses viajam todo ano a Cuba para tomar sol (mais canadenses vão a Cuba do que a qualquer país da Europa). Para efeito de comparação, em 2013 o Brasil recebeu apenas 68.390 canadenses (dados do Ministério do Turismo).

A grande massa de turistas se hospeda em resorts all-inclusive, um mercado dominado amplamente pelos hotéis Meliá (com suas bandeiras Meliá, Paradisus e Sol). Lugares como a praia de Varadero e — sobretudo — as ilhas desabitadas de Cayo Largo, Cayo Coco e Cayo Santa María (a nova estrela do turismo cubano) servem de perfeitas redomas para turistas, onde tudo funciona e não falta nada.

Quem programa uma estada em Havana consegue ter contato a Cuba real — mesmo se acabar hospedado num dos hotéis europeus ou num dos palacetes restaurados pela estatal Habaguanex (minha recomendação!) em Habana Vieja, o centro histórico disneyanamente renovado da capital.

Viajantes alternativos podem (devem!) usar a extensa rede de casas particulares, que um dia já foram ilegais mas são totalmente toleradas, e comer nos paladares, restaurantes particulares que têm esse nome (vai que você seja o único que ainda não saiba disso) por causa da Paladar, a empresa da personagem de Regina Duarte em Vale Tudo.

Os americanos vão invadir Cuba?

Xi, vai demorar. A reaproximação entre Obama e os Castro parece de verdade, mas o fim da maior parte das restrições a viagens e ao comércio depende de alteração de leis via Congresso americano, hoje amplamente dominado pelo Partido Republicano.

O que Obama vem fazendo (já há algum tempo) é alargar as brechas na legislação atual. Mas o fato é que americanos continuam impedidos legalmente de viajar a Cuba por motivo de turismo. As viagens são permitidas quando forem relacionadas a jornalismo, educação, ajuda humanitária ou telecomunicações. Comprar qualquer produto cubano continua ilegal, mesmo num terceiro país: um americano que fume um Cohiba em Aruba terá infrigido a lei. Muitos americanos burlam a lei porque sabem que a possibilidade de serem pegos é mínima, mas a grande massa de viajantes é obediente e continuará longe de Cuba enquanto o Congresso não deixar.

Quando as viagens forem permitidas, aí sim, é de se esperar um aumento significativo e imediato de americanos — primeiro via viagens de cruzeiro, aumentando à medida em que redes americanas de hotéis se instalem no país. A demanda reprimida é grande, a curiosidade é enorme, o produto é ótimo e certamente Cuba será um destino importante para os americanos.

Vai aumentar a influência americana em Cuba?

Hihihi, lamento informar, mas a influência americana junto ao povo cubano já é enorme, como em qualquer país latino-americano. Apenas as marcas americanas não estão presentes — e só estarão depois que o Congresso deixar. Então relaxe, não vai ter Starbucks nem McDonald’s no Malecón agora em 2015.

Um aumento positivo de influência pode vir com a recém-promulgada autorização para que americanos façam pequenas transferências de dinheiro a não-parentes em Cuba. Isso pode estimular uma nova onda de pequenos negócios privados que beneficiem tanto os cubanos quanto os turistas do circuito alternativo.

Que moeda eu levo para Cuba?

Atualmente não vale a pena levar dólares para Cuba: ao trocar por pesos CUC há a cobrança de 10% de imposto. O melhor é levar euros, que podem ser trocados sem taxa. Cartões de crédito emitidos nos Estados Unidos também não funcionam.

É possível essas restrições ao dólar e aos cartões americanos acabem com a reproximação. Vamos acompanhar.

Precisa visto para ir a Cuba?

Sim. O visto é chamado de tarjeta turística e pode ser conseguido junto ao Consulado de Cuba em São Paulo ou à Embaixada de Cuba em Brasília, pessoalmente ou via Sedex (informações aqui).  Algumas cias. aéreas também emitem o visto no balcão de check-in, mas não todas. Confirme com a sua com antecedência.

Preciso ir correndo antes que Cuba se descaracterize?

Hahaha! Se você quiser ver uma Cuba completamente descaracterizada, pode ir agora mesmo. Basta restringir sua viagem a um dos paraísos para turistas dos Cayos, onde você só terá contato com turistas estrangeiros e assistirá a um pouquinho de Cuba no show da noite. (Mas o mar é maravilhoso e custa uma fração do que custaria nas Maldivas.)

Se e quando os americanos invadirem, se e quando Cuba deixar de ser comunista, sempre haverá um jeito não-americano ou não-pacoteiro de viajar pelo país. A rede de casas particulares está aí para isso mesmo, e só tende a ficar mais bacana num ambiente de menor escassez.

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    44 comentários

    Estive em Cuba em 2005 e adorei. Havana, Varadero e Cayo Largo. Tenho muita vontade de voltar, mas tenho um receio : os vôos internos. Qdo fui em 2005, de Varadero para Cayo Largo, embarcamos em aviaozinho russo, de aproximadamente 15 lugares, tão pequeno que se entrava através de uma escadinha embaixo do avião e cujas bagagens ficavam atrás de nós. Na volta um avião maior porém muito velho e barulhento. Como sabemos da crise financeira, fico pensando : se em 2005 estava assim, como estará agora? Será que gastam dinheiro na manutencao dos avioes? Sei que o turismo para eles é uma prioridade, mas se não tem dinheiro….

    Cuba se abriu para o turismo antes dos anos 90, pois estive lá em maio de 1989, quando já havia voos charters etc. Os hotéis estavam meio detonados, pois pertenciam ao Estado e o cardápio dos hotéis era igual em todos eles. Só havia uma marca decsorvete (Copélia) e na banca um único sabor (mantecado). Estive em Cayo Largo (fomos num avião Antonov, de carga, acho que da época da segunda guerra…., mas o mar lá é uma delícia. Em Varadero, só passamos o dia e não entramos na água. Lembro-me de que estava bem ventoso, e o salva-vidas nào deixava os banhistas entrarem muito além da beira. Habana Vieja é muito interessante. Guardo uma lembrança excelente da boate Tropicana, com um show espetacular a céu aberto. Não sei se essa boate ainda existe, mas na época fiquei muito mais empolgada do que com o show do Lido que eu havia visto uns anos antes e que também era maravilhoso.

    Muito apropriado o tema…mas, a pobreza do povo Cubano vai continuar?
    Quais as medidas governamentais para melhorar a vida em Cuba,no que diz respeito ao turismo?
    Efetivamente, neste bate-papo amigável entre OBAMA e CASTRO, o que melhora??

    Vixi, o que tem de americano fumando Cohiba aqui não está no mapa. Não sabia que era ilegal não. O que é ilegal e eu sabia é levar Cohiba para os EUA, mas tem um esquema aqui que funciona perfeitamente para quem quiser. Sempre ajudamos os nossos amigos americanos a fazer essa tretinha. 😉

    Acabei de voltar de Cuba nesta terça-feira, um dia antes do comunicado.
    Realmente a parte restaurada de Havana é linda. Já o restante da cidade é bem degradada, porém ainda assim é uma cidade muito interessante.
    Fui em “restaurantes Habaguanex” como El Patio e El Templete e Paladares como La Moneda Cubana, que na minha opinião foi o melhor de todos.
    Fiquei hospedado no Hotel Nacional, um hotel histórico e lindo, porém precisa urgentemente de restaurações nos quartos.
    Em relação a carimbo no passaporte, também carimbaram o meu e da minha esposa. A minha esposa ficou revoltada achando que não conseguiria mais voltar aos Estados Unidos. Esse comunicado de quarta acalmou “a criança”.
    Em relação a Varadeiro, não acho que essa época agora é uma boa, pois é considerado o inverno deles. A ventania na praia chegava ser desagradável.
    Março pra frente melhora segundo os locais.
    A cotação é pesada, paguei 1 euro = 1,19 CUC, e não vá esperando pagar menos de 15 CUC em pratos de comida em restaurantes conceituados / conhecidos.
    Pelo menos não tive essa sorte. Cuba não é um lugar barato, apesar da escassez. Mas não deixem de ir, vale demais.

    Apenas complementando, os americanos podem sim entrar em cuba a Turismo, ou através de vôos charters de Miami ( necessáriamente em grupo), ou através de outro país. ( Por exemplo voar até o Canadá e de lá direto para Cuba).

      Tecnicamente americanos e residentes permanentes (os que tem green card) nao podem fazer transacoes financeiras com Cuba pelo embargo sem licensa previa, assim mesmo voando via Mexico, Canada ou Cayman, estes turistas estariam infringindo a lei Americana dado que pagariam taxas de embarque em Cuba. Mas a verdade e’ que ha’ algum tempo as autoridades fazem vista grossa para isto:
      https://en.wikipedia.org/wiki/United_States_embargo_against_Cuba#Restrictions_on_tourism_by_U.S._citizens_and_residents

      Layla, os vôos charters só podem ser constituídos tendo como motivos as exceções ao embargo de viagem. O americano pode até usar o transporte para fazer turismo, mas o motivo oficial da viagem será outro.

      Não há como controlar o fluxo via outros países e sempre haverá quem se disponha a burlar a lei, levando em conta as vistas grossas que o Philipp apontou. Mas nada disso muda o fato de que os americanos continuam formalmente proibidos de fazer turismo em Cuba.

    Riq, só dois comentários complementares: quando fui, peguei meu visto no consulado cubano em São Paulo (para evitar eventuais dores de cabeça no aeroporto) e tive o passaporte carimbado na entrada e na saída. Fui aos Estados Unidos uma semana depois de voltar de Havana e não me perguntaram nada!

    Também acho que, na prática, pouca coisa vai mudar, mas acredito que vá virar o novo destino “modinha” a vez. E aí, já sabemos o que vai acontecer….

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