Couchsurfing: dicas para ‘surfar’ melhor (por @anarina)
Muitos conhecem o Couchsurfing como um site para conseguir hospedagem gratuita pelo mundo todo. De fato, são 100 mil cidades com sofás, colchonetes e camas à disposição de quem viaja. Mas, mais do que isso, o Couchsurfing é uma comunidade, com todo o sentido que essa palavra carrega além da esfera virtual. E dessa comunidade fazem parte 7 milhões de pessoas. Uma delas é a Ana Carolina.
A Ana Carolina, jornalista e dona da famosa arroba @anarina do Twitter, é uma experiente surfista de sofá. Ela elaborou um guia com 8 dicas para que você possa aproveitar o melhor que o Couchsurfing tem a oferecer: interagir com pessoas muito bacanas, que o site não classifica como “estranhos”, mas “amigos que você ainda não conheceu”.
Vai pela Ana Carolina:
Couchsurfing | Um guia prático
0. Dedique-se a criar um perfil completo e com referências. O Couchsurfing tem muita gente, então é difícil ter uma ideia de quem é quem, de como são as pessoas. Ao entrar no site, crie um perfil com carinho, preencha os campos, tente mostrar quem é você, do que você gosta, o que você faz etc.
Adicione seus conhecidos e escreva comentários sobre eles, para que eles façam o mesmo com você. Isso ajuda a aumentar o índice de respostas que você recebe ao pedir para as pessoas te hospedarem de graça na casa delas. Se tiver preguiça de fazer isso, pense em que tipo de pessoa você gostaria de receber na sua casa.
1. Se for mulher, evite surfar países machistas. De todos os países que visitei, o lugar mais fácil de conseguir couch se você for mulher é Turquia e Marrocos (exemplo prático meu). Na verdade, os caras te PEDEM, às vezes IMPLORAM, pra te hospedar. Recuse TODAS as ofertas que você recebe de alguém pra quem você não pediu nada. Eles chegaram até você porque, quando você faz login, o site mostra quem fez login perto de você, então em alguns países você vira alvo de sei lá quem (podem ser homens bondosos, homens carentes, traficantes de mulheres, Illuminati, não sei porque nunca respondi).
2. Nas capitais, é praticamente impossível surfar. A comunidade antes era pequena, foi criada com um princípio muito legal, que é o intercâmbio de culturas, e eventualmente foi crescendo porque quem usava gostava de retribuir, hospedando outros surfistas em casa. Porém, o site explodiu e hoje muita gente usa com o objetivo de viajar sem gastar muito dinheiro. Por isso, quem mora nas capitais é bombardeado por pedidos (sério, eles chegam a centenas por dia). Daí que pra surfar em Paris, Madri, Barcelona, Londres etc etc é muito difícil, você simplesmente não acha ninguém disposto. Mais abaixo dou algumas dicas para quem quer tentar descolar um sofá em uma cidade dessas, como eu conheci em Estocolmo com o Johann, o sueco mais carioca da Escandinávia.
3. Para achar um couch bom, leia o perfil todo e procure quem colocou o status para “talvez possa hospedar”. A explosão do site também afeta quem mora em cidades menores. Então não é todo mundo que coloca abertamente que pode receber viajantes. O importante na hora de pedir um sofá é ler o perfil da pessoa, buscar coisas em comum. Muitas delas se sentem ofendidas se você tá só pedindo sofá, então elas até colocam truques dentro dos textos de seu perfil. (Exemplo, no meio de um texto sobre os livros favorito dela ela escreve “no seu pedido de sofá, digite a palavra “azul” para que eu responda). Isso é uma forma de driblar os spammers pão-duros. É legal garimpar os perfis de gente que diz que “talvez” possa hospedar, porque isso quer dizer que elas estão dispostas a hospedar alguém se acharem que vale a pena. (Exemplo prático: foi assim que consegui couch em Roma, uma das cidades praticamente impossíveis, e em Carcassonne com uma adorável professora de inglês.)
4. Entre nos grupos da cidade para onde você vai. O mais legal da comunidade é justamente a comunidade local. Os couchsurfers costumam usar os grupos pra combinar encontros (às vezes você pode chegar hospedado num hotel, e num desses encontros alguém te chama pra dormir na casa deles). E eles também dão dicas locais, como os melhores programas, bairros e hotéis onde ficar.
Além disso, se você aparecer no grupo e engatar uma conversa, pode conseguir um couch ali mesmo. Se não conseguir, pelo menos você arruma alguns companheiros de passeio. (Exemplo prático: quando mudei pra La Coruña, já cheguei com couch lá, onde fiquei um mês antes de mudar de apartamento. O dono do meu primeiro apto é meu amigo até hoje. Ou exemplo: num encontro do grupo de La Coruña, conheci uma coreana que viajava sozinha e estava hospedada num hotel caríssimo na cidade. Ela era super gente boa, a levei pra dormir duas noites lá em casa.)
5. Combine tudo direitinho e mantenha contato. Se conseguiu alguma resposta de um anfitrião, pegue direitinho o endereço, o mapa e os contatos da pessoa, incluindo telefone, e passe os seus pra ela. É comum que você perca o trem, se atrase, se perca, e aí fica difícil conversar só pelo site do Couchsurfing.
6. Muito cuidado com as suas coisas. É comum que alguns anfitriões recebam mais de um surfista. Isso não necessariamente é ruim (pelo contrário, pode enriquecer ainda mais a sua experiência), mas nunca é demais tomar cuidado. Exemplo prático: No mesmo apartamento onde fiquei durante um mês em La Coruña, era costume a entrada e saída de de muitos couchsurfers. Certa vez duas meninas que, ao irem embora, levaram o laptop de outro cara que estava ficando lá. Elas deletaram o perfil e saíram quando não tinha ninguém em casa, ou seja, era quase impossível recuperar o computador. O Couchsurfing foi construído com base em alguns princípios, e um deles é o da convivência pacífica e amistosa. Mas tem gente que se aproveita disso.
7. Seja o hóspede que você gostaria de receber. Leve uma lembrancinha pro anfitrião, seja organizado, deixe tudo limpo ao sair, faça um jantar para agradecer. Ser um bom hóspede ajuda a incentivar que as pessoas continuem oferecendo sofá. Além de abrir sua casa, os anfitriões precisam limpar o quarto, lavar os lençóis e pagar as contas de água, gás e luz pelo serviço usufruído pelos hóspedes. Já soube de casais que usaram o apartamento da pessoa como motel grátis, por exemplo. Mas também já vi a cadeia da bondade em ação. Exemplo prático: dois meninos no Chile me hospedaram depois que fui assaltada, para retribuir abri meu apartamento pra hospedar pessoas assim que fui morar sozinha.
Filtrei entre os xavequeiros (ser mulher é foda) e os espertinhos que queriam morar no meu sofá durante seis meses (sério), e hospedei um mocinho argentino que viajava pelo Brasil e ficou sem dinheiro. Nos demos super bem (não daquele jeito, ok), ele ficou uma semana inteira e assim que ele voltou pra Argentina ele começou a hospedar surfistas na Patagônia, onde trabalhava. Tenho amizades que duram até hoje, como o sueco Johann, o chileno Philippe e o português Ricky, que inclusive virou meu representante fiscal quando recolhi impostos durante um tempo em Portugal. Moral da história: Há dois tipos de pessoas no Couchsurfing: os construtores e os predadores. O lado em que você fica é escolha sua.
Adoramos, Ana Carolina! Obrigada!
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8 comentários
Gotta love @anarina. <3 🙂
Faço parte do Couchsurfing desde 2008, hospedei tanto gente de 21 até 67 anos, Uruguai, Mexico, Austria, Australia, França, Itália, Polônia, Alemanha, EUA. Foi uma experiência enriquecedora e, como falaram noutro comentário, de confiança mútua. Mas acabei me afastando, principalmente pq comecei a fazer outra graduacao à noite, acabei não podendo receber mais e nem ir aos meetings. Gosto de estar disponivel pra justamente papear com o hóspede, levá-lo em algum lugar.
É bacana pra tirar um pouco o estigma dos turistas estrangeiros com relação às grandes cidades, fazer novos amigos, treinar o idioma, praticar o respeito às diferenças!
Duas coisas negativas – é ver gente que copia e cola request, sem nem ler seu perfil, da mesma forma leio o request de má vontade.
E vejo que há também um leve estranhamento com o pessoal acima dos 30 e poucos. Não acho que seja preconceito, creio que seja mais pq a grande maioria está entre 25-30 anos.
Se eu tivesse 2 banheiros receberia gente em casa na boa
Mto Bom o texto, parabens! Faço parte do Couchsurfing desde 2007 e Ja tive experiencias fantasticas! Para quem se Interessar em conhecer Mais, em Curitiba, fazemos um encontro semanal as quintas feiras! Mais detalhes na comunidade de Curitiba 🙂 no site!
Sou CS desde 2009 e ja me hospedei em varias cidades da america do sul e europa. Hospedei algumas vezes enquanto morava no Rio (e isso q ela escreveu de cidade grande eh super verdade!! Carnaval e ano novo no rio chove de request copy e paste nojento!!) Agora que moro na Alemanha eu hospedo tb. Ja fiz amizades maravilhosas, jah fui hospedada pelos meus guests do Rio e jah hospedei meu host Argentino. Essa troca eh maravilhosa e eu soh tive mesmo uma experiencia ruim, mas que nao abala em nada meu sentimento pelo CS. Por coincidencia tb conheci meu namorado pelo CS, mas num evento (moramos na mesma cidade). Acho que a probabilidade de se encontrar pessoas incriveis pelo CS eh gigante!
eh a prova de que a humanidade ainda pode dar certo.
Eu tenho uma relação “afetiva” com o Couchsurfing. Fiz minha primeira viagem assim em 2008, aqui para a Argentina, mas não queria “surfar” e sim apenas alguém para me mostrar a cidade. Passeei com o Edu por cinco dias, como amigos. Mas a gente ficou se correspondendo por email, se encontrou de novo e casou! Estamos juntos até hoje. Eu sei que o Couchsurfing não é para isso, mas aconteceu com a gente e continuamos hospedando pelo sistema até hoje, fazendo grandes amigos pelo mundo.
Faço parte do Couchsurfing desde 2005 e tive inúmeras experiências excelentes e fiz inúmeras amizades que perduram até hoje. Realmente as dicas da Ana Carolina são certeiras, um perfil bem feito e com várias referências é fundamental para conseguir um couch.
Uma dica que eu daria para quem quer hospedar alguém é que diga que pode no máximo 2 noites, para testar o surfer e ver se rola um entrosamento. A pior coisa é você dizer que a pessoa pode ficar 3, 4 noites, e quando ela chega é uma chata de galocha ou porca, ou enfim, alguém que não te dá prazer conviver. Então o ideal é ampliar o prazo para a pessoa ficar, depois de conhece-la.
Outro detalhe importante é que quem desconfia de tudo e todos não pode fazer parte desta comunidade. A relação é unicamente de confiança. Já várias vezes gringos vieram no meu escritório buscar a chave do meu apê e foram para a minha casa sem eu estar lá…imagine se eu fosse uma pessoa que não confia em ninguém, seria impossível.
O que posso dizer é que Couchsurfing é uma experiência sensacional e que vale a pena fazer parte.
Adorei o texto. Nunca viajei assim, deu vontade de experimentar.