Chilcano

Chilcano, o drink mais gostoso do Peru (dá de 7 a 1 no pisco sour)

Nunca fui fã de pisco sour. Acho doce e enjoativo, e não entendo como conseguiu ser alçado a drink nacional de não apenas um, mas dois países — Peru e Chile. Passo.

Mas eis que, no meu segundo dia de Lima, eu descubro que o pisco sour não é o único cóctel nacional peruano. Eu estava na feira gastronômica Mistura, visitando a área dedicada ao pisco, quando vi um dos expositores oferecer o chilcano.

Que és chilcano?, perguntei. “Pisco, um poquito de jugo de limón, ginger ale y unas gotitas de bitter, señor”. Hmmm. Achei que era tudo o que eu precisava naquele fim de tarde. Pedi um.

Chilcano
Chilcano clásico na feira Mistura, em Lima

Pípols, que delícia. O chilcano é a um só tempo encorpado, refrescante e amarguinho. É meio como o gin tônica, mas menos doce. Substitui bem um aperol spritz num dia nublado (como são todos os dias de Lima).

Antigua Taberna Queirolo
Chilcano no Queirolo, acompanhado de tequeños

Se eu não tivesse descoberto o chilcano por conta própria, teria sido apresentado a ele pelos queridos Manu Tessinari (do Cup of Things) e Toninho, no dia seguinte.

Nos encontramos no fim da manhã e a primeira coisa que eles propuseram foi um rasante na Antigua Taberna Queirolo (Av. San Martín, 1090, Pueblo Livre; tel. 1/460-0441; aberto de 2ª a sábado até as 23h30, domingo até as 16h), que funciona há 134 anos no mesmo endereço.

Ali o chilcano não é só o cóctel da casa como pode ser preparado pelo freguês: você pode mandar vir à mesa o pisco, o ginger ale, o suco de limão e a angostura e dosar a gosto. Mas estávamos atrasados para o almoço, então pedimos os chilcanos já prontos, mesmo.

A exemplo do que acontece com as nossas capirinhas/roskas, há muitas variações de chilcano nos bares, com adição de sucos e ervas.

Mas assim como os gringos no Brasil dificilmente se aventuram para além da caipirinha de limão mais ortodoxa, eu ainda não consegui parar de pedir a versão original — conhecida como chilcano clásico.

O meu entusiasmo inicial pelo chilcano foi tamanho, que pensei em transformar essa viagem numa Volta ao Peru em 80 Chilcanos. (Com o Nick me ajudando, tomando dois por dia cada um fecharíamos a conta.)

Mas logo vi que seria impossível, por um singelo motivo: nem todo lugar faz um chilcano decente. Para começo de conversa, descobri que não adianta dizer “clásico”; é preciso especificar “seco”.

Só assim o chilcano não vem contaminado por um xarope de açúcar chamado jarabe de goma, que tem o poder maligno de tornar qualquer chilcano tão enjoativo quanto um pisco sour. Agora eu peço assim: Un chilcano clásico seco, sin jarabe!, por favor.

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    Tampouco dá para pedir chilcano em lugares meio vagabundos, ou em cidades muito pequenas. Em Ica e Nasca, sofremos com chilcanos em que o ginger ale tinha sido deliberadamente trocado por Sprite. Eca! Conversando com um recepcionista, descobri que acham essa adaptação aceitável.

    Por isso, em alguns lugares a minha paranóia me leva a perguntar, antes de pedir: el chilcano está hecho con ginger ale?

    Museo del Pisco
    Chilcano clásico no Museo del Pisco, em Cusco

    O chilcano é servido em copos grandes (algumas vezes, BEM grandes, oba) — mas não me olhe com essa cara, a maior parte do conteúdo é gelo. Não sai barato: custa entre 20 e 30 soles (26/35 reais). Eu tenho tomado no jantar, no lugar do vinho ou da cerveja (dsclp!).

    Se alguém souber onde vende ginger ale peruano em São Paulo, por favor me conte…

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    8 comentários

    Vamos colocar as coisas em seu devido lugar: o Pisco Sour, assim com o Pisco, são nascidos e criados no Peru e, posteriormente, importados pelo Chile. O Pisco nasceu por volta do ano de 1600 no Peru quando o Rei da Espanha proibiu a Colonia do Peru, primeiro território da América a plantar uvas e produzir vinhos, de produzir vinhos. Seu registro histórico mais antigo data de 1613. O produto era comercializado pelo Porto da Vila de Pisco (nome indígena de uma ave da região). Já no Chile a primeira destilação do mosto de uva data de 1873. Quanto ao Pisco Sour, o drinque nasce em um hotel de 5 estrelas em Lima no ano de 1920 e tem registros deste acontecimento. O drinque se popularizou por volta da metade do século passado. Não há problema em fazer e oferecer Pisco Sour no Chile, mas convenhamos, é como dizer que o “Mojito” e a “Caipirinha” são peruanos porque lá também se vendem … Respeitemos Cuba e Brasil (entre outros), você não acha? … Um abraço. Bernardo

      Bernardo, em momento nenhum eu escrevi que o pisco sour nasceu no Chile. Apenas que foi alçado lá também a drink nacional. Não é uma mentira nem sequer uma hipérbole: o pisco sour também é o drink nacional chileno. Veja: não se pesca bacalhau nos mares de Portugal, porém…

      Se você quer reclamar de alguma coisa, reclame do fato de eu não gostar de pisco sour. Isso me parece ser muito mais ofensivo aos peruanos (e aos chilenos também, rs).

    Um dash de angostura no Pisco Sour resolve todos os problemas quanto a ser enjoativo. Aliás os drinks clássicos e doces, como Piña Colada, se acrescentar Angostura fica bem bom.

    Ricardo, em Lima experimentamos no restaurante El Mercado o drink Menage a Trois, que bate o pisco sour e o chilcano juntos.

    Ricardo aqui em SP é possível encontrar o Canada Dry ( Ginger Ale ) no Emporium Diniz 7,90 e no St. Marche por 4,55. Utilizo ele para fazer o Chilcano e o Moscow Mule. Fica muito bom. Abraços

    Respondendo direto de Lima, tanto o Pisco Sour
    quanto o Chilcano são muito bons. Alguns lugares aqui
    fazem o 2×1 no “happy hour”, que é bem estendido.

    Confesso que fiquei com pé atrás para provar o Pisco sour (devido à clara de ovo crua!). Mas provei e achei gostoso!!

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