Chegando em Caracas — rumo à praia da Bóia!
O vôo saiu de Punta Cana com uma hora de atraso, o que significava que eu desembarcaria na escala em Caracas num horário ainda menos conveniente que as 10 da noite originalmente previstas. De fato, eram onze da noite quando eu e minha nova Samsonite adentramos o saguão do aeroporto. E, conforme eu imaginava, a falta de mais vôos chegando no mesmo horário resultaria em muito leão pra pouca zebrinha.
Os leões, no caso, são os cambistas que povoam o saguão do aeroporto. As zebrinhas somos nós, passageiros que chegamos sem um bolívar fuerte furado no bolso.
Numa situação normal eu me dirigiria ao primeiro caixa eletrônico que avistasse e sacaria em moeda local o equivalente a duzentos ou trezentos dólares, direto da minha conta corrente. Fazer isso na Venezuela, porém, equivale a jogar fora metade do dinheiro, já que a cotação oficial é apenas 50% da cotação da vida real. O agravante é que a cotação da vida real é ilegal, então tudo é feito de maneira mais ou menos disfarçada.
O disfarce começa pelo crachá. Todos os cambistas de plantão no aeroporto têm um. O que veio me abordar tão logo eu atravessei a muretinha tinha um com alguma coisa de “táxi” escrita.
Se eu tivesse vindo numa hora de mais movimento, talvez tivesse tido saco e energia para pelo menos me localizar no aeroporto antes de sair fazendo negócio. Mas àquela hora da noite, visado e cansado, relaxei. Contrariando a mais básica regra de negociação, dei trela para o sujeito que veio me abordar primeiro.
Tinham me falado para não ter o dinheiro já separadinho no bolso (eu tinha: uma nota de 100 dólares) e não topar nada abaixo de 8 bolívares por dólar (a cotação oficial é 4 e pouco). Perguntei quanto. O cambista respondeu: 7. Eu disse não. Ele subiu para 7,50 e começou a chorar pitanga. OK, topei.
Veja: eu dou a vida pra não passar por isso. Até acharia folclórico e vagamente divertido se esse perrengue fosse necessário num lugar muito distante e exótico. Mas aqui do lado, convenhamos. É uma chatice que ninguém merece.
Dinheiro na mão — todas notas de 50 (bem bonitas, por sinal) –, tentei me desvencilhar do leão para ir ao guichê de táxis para pegar um táxi para o meu hotel, que fica a dez minutos do aeroporto. Claro que o leão me ofereceu o táxi “dele”. E eu — cansado, visado, etc. — relaxei e topei.
Quando vi, estávamos indo para a área de embarque — exatamente o mesmo script que tinha acontecido comigo em 2003, na minha primeira vez. Só que naquela época eu abandonei o cara no meio do caminho e dei meia volta. Desta vez resolvi ver no que ia dar.
Ia dar num táxi pirata estacionado na calçada do embarque. 120 pesos até o hotel (eu tinha lido no TripAdvisor que o táxi era 100, mas aqui tem inflação, então vou deixar barato).
Foram dez intermináveis minutos até o hotel, passando por várias bocas-brabas (não que fossem claro; é que de noite todas as bocas são brabas). Mas cheguei são e salvo. É muito provável que todo esse esquema seja absolutamente natural e a gente é que não esteja acostumado 😀
De todo modo, o hotel parece mais neurótico do que eu. O caderninho da chave traz um decálogo de medidas de segurança sugeridas pela American Hotel & Lodging Association. Um aviso no cofre recomenda que se guarde ali o laptop quando fora de uso. E a chave do quarto, além de não ter o número do quarto, não tem sequer O NOME DO HOTEL!
Só vou ao centro de Caracas na volta, quando dormirei por lá (não exatamente no Centro, claro). Mas espero poder trazer notícias menos paranóicas.
Agora vou descer correndo pro lobby onde vou encontrar o Renato Carone, da Turnet. A operadora dele é especialista em resorts e tem tradição também no Caribe (o cara manda em Aruba). E agora está montando uma operação que eu achei muitíssimo bem-bolada: pacotes fechadinhos para Los Roques via Bogotá. Sem pernoite em Caracas. Sem perrengue com cambista. Sem depender de pousada para reservar o teco-teco doméstico.
Nosso vôo sai às 9h (10h30 daí). Espero que a internet por lá me deixe mandar notícias. Té já!
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23 comentários
Fechamos pacote completo do Brasil. Chegamos em Caracas ontem e quem iria buscar a gente no aeroporto não apareceu… Foram momentos horríveis… primeiro veio um cambista destes com crachá de taxi se oferecendo para ligar para a agência local. Apesar de tudo q nos foi dito, aceitamos… e ele ligou e disse que alguém estava vindo nos buscar. Ficamos com medo e logo fomos ao balcão de atendimento do aeroporto… As mulheres que ali trabalhavam foram super simpáticas e ligaram para a agência tb. Resumindo: disseram que um JOsé Barros iria buscar-nos e apareceu outra pessoa. Mais pânico. Liguei para nosso agente de turismo no Brasil. Depois da moça do balcão de atendimento conseguir falar com a pessoa da agência local e dizer q algo havia acontecido com o José Barros e q poderia confiar no cara q foi nos buscar, conseguimos enfim sair do aeroporto e ir para o hotel!
Ola Pat Veras,
Recebemos seu email e estamos providenciando imediata resposta. Obrigado !
Esse pacote da Turnet muito me interessou tb. Daria pra fazer um pacote especial pros seguidores da bóia?! 🙂 Se possível pulando os cambistas…
Nossa, agora entendo pq em 2005 me deram bolivares. Caracas, taí um lugar que acho que só volto a trabalho ou para ir a Praia da Bóia 😉
Riq, como sempre, seus relatos tem ótimas dicas!
É uma pena que Caracas esteja assim. Detesto estes “leões” insistentes que abordam as pessoas nos aeroportos.
A primeira vez que tinha lido sobre esse câmbio negro em Caracas aqui no VnV tinha me assustado, mas achei que as coisas tinham mudado pra melhor atualmente. Vejo que não. Não sei se tenho estômago pra encarar isso, mesmo que a recompensa seja Los Roques.
É uma pena o que estão fazendo com a Venezuela… mas o país vai sobreviver.
Estou bem curiosa para saber de Los Roques… Tenho passagem marcada para outubro, e estou achando bem confusos esses trâmites de fazer tudo via pousada – às vezes respondem, às vezes não, ainda não conseguimos definir nada direito…
Estou curioso para saber como anda Caracas. Pelo queme contaram, está pior a cada dia. Tenha cuidado, e olhe que eu não sou neurótico, achei Buenos Aires 100%, com exceção do centro, onde se deve estar alerta, nada mais….
Se voce gostar da Venezuela, um lugar lindo e pouco conhecido é Merida, eu gostaria de voltar um dia….
Chegar à noite em um lugar estranho já é difícil. Chegar à noite, em Caracas, então, deve ser difícil, horrível, medonho, amedrontador. Melhores ares virão.