Casa Cor, edição Solimões :-)
Antes de embarcar, eu não imaginava que uma das coisas da selva de que eu mais gostaria seriam… as casinhas.
Acontece que o Solimões, ao contrário do Negro, é consistemente habitado. As casas são espaçadas mas se sucedem de maneira constante ao longo do cruzeiro. A riqueza de nutrientes do Amazonas (em contraste com a acidez do Negro) torna as águas ricas em peixes e as terras ribeirinhas bastante férteis. Nos meses de vazante as terras reaparecem e podem ser brevemente cultivadas — sempre de forma manual, porque a várzea não suporta o peso de tratores.
Cada casa que você avista funciona como um infográfico sobre a vida sob o ciclo das águas amazônicas. A altura das palafitas indica a expectativa de subida do rio. A marca na madeira mostra até que nível a água efetivamente subiu.
Algumas dessas casas são miseráveis, mas a maioria ostenta sinais exteriores de vida remediada.
Na segunda manhã da viagem, os passageiros do Iberostar Grand Amazon são levados para visitar a casa de uma família cabocla. É um momento muito, muito bacana do cruzeiro.
Quem nos recebe são o seu Álvaro e a dona Léia, que moram numa casa sem reboco, no alto de um barranco. Tudo muito simples, mais impecavelmente limpo e arrumado.
A mesa está posta pro café: podemos provar cupuaçu, torta de banana da terra, ver a farinha grossa que acompanha o peixe e o açaí. Dona Léia guarda as caixas de margarina, que viram seus tupperwares. Dos seis filhos, só três estão na casa: uma das filhas, casada, não mora ali; e os dois filhos adolescentes estão na escola dominical (eles são testemunhas de Jeová).
Damos uma volta pelo quintal. Conhecemos a horta e a casa de farinha — onde a família produz sua própria farinha de mandioca (e na Amazônia se usa a mandioca-brava, que precisa primeiro ter extraído todo o veneno).
Ainda na cozinha, a capa de um caderno pendurado na parede dizia: “Stylish”. Provavelmente eles não sabem o que signifique. Mas é uma boa definição para o que acabamos de ver.
Leia mais:
- Solimões: flashes do trânsito
- Chiaroscuro amazônico: o encontro das águas
- O primeiro jacarezinho a gente nunca esquece
- Um cruzeiro na selva: como é o Iberostar Grand Amazon
- 3 vezes Amazônia: Iberostar x Anavilhanas x Mamirauá
- Guia de Manaus no Viaje na Viagem
14 comentários
E por que a gente fica querendo sair do país mesmo?
Que lindo! Preciso tanto conhecer nosso Brasil 🙂
Amando essa série…
Também apaixonei pelas casas à beira do rio! Tirei muitas fotos. No meu caso, fui para o Pará e o rio era o Amazonas. Até rolou um momento Noronha, com botos seguindo o barco 😀 Amazônia é uma experiência incrível!
Adorando a viagem com você 😉
Estive em Manaus em 2007. Achei uma experiência incrível passaer pelo Rio Negro e Rio Solimões ! A vida do ribeirinho é algo surreal ! Pena que muita gente não dá o mínimo valor em conhecer uma parte tão preciosa do país !
Tou adorando essa série de posts! Ai, que vontade de conhecer.
Dona Léia é uma dona de casa caprichosa, olha os “trem” pendurado na parede, tudo areadinho, que beleza! 🙂
Lindo post Riq! Como linda também a parede com as vasilhas penduradas, brilhando.
Gente, ou eu virei muito gringa, ou isso ai é mesmo o maximo. Que vontade de voltar!
Parabéns por mais esse lindo post. Sua fã incondicional, Hortencia
Em 1997 estive na região, conhecendo o Hotel Ariaú. Um dos passeios promovidos pelo hotel nos levou a uma pequena aldeia ribeirinha, onde visitamos também o “puxadinho” onde o dono da casa preparava a farinha. Esse post me fez lembrar aquela viagem. Fui correndo ver as fotos…
Que post lindo, Riq! Dá vontade de conhecer essa casa tão simpática e comer essa torta de banana da terra que encheu a minha boca de água!