Zarafa Camp, Botswana: leopardos na savana e uma Canon com zoom no quarto
Enviado especial | Hugo Medeiros
O que esperar de um safari camp que cobra a partir de US$ 1675 por pessoa? Esse é o valor da diária do Zarafa Camp, o mais caro lodge da nossa viagem, mas com itens de conforto que justificam o preço.
No caminho passamos rapidamente pelo Selinda Camp, localizado na mesma área do Zarafa. O Selinda é bonito e aconchegante, com boa estrutura nas tendas e na área social. A diária a partir de US$ 915 por pessoa está mais adequada aos valores cobrados em Botswana.
Uma árvore derrubada há poucos dias por um hipopótamo no trajeto até as acomodações do Selinda deixa duas certezas. Primeiro que a vida selvagem é farta na região. Segundo, que você jamais deve ir para o quarto sozinho após anoitecer.
Nossa passagem pelo Selinda foi rápida, mas o suficiente para ter certeza de que ali seria um ótimo lugar para se hospedar.
Mas eis que chegamos no Zarafa.
O Zarafa está localizado na região chamada Linyanti, no norte do país, a oeste do Chobe National Park. Para quem chega em Kasane, basta um pequeno vôo para alcançar a região.
Único integrante da rede Relais & Châteaux em Botswana, o Zarafa oferece whisky 21 anos, vodka Absolut, e uma grande variedade de outras bebidas de qualidade. São apenas 4 quartos e 1 suíte dupla. A decoração é clássica e de muito bom gosto. O almoço que nos aguardava consistia em saladas preparadas na hora, ao gosto do hóspede, e um delicioso filé grelhado no carvão.
Após o almoço nos dirigimos ao quarto. E que quarto. Amplo o suficiente para acomodar uma família de 4 pessoas com folga. Uma grande sala continha um minibar com whisky, Amarula, gim e vinho. Dentro de um baú estavam as bebidas não alcóolicas em gelo.
Num canto encontramos um baú com itens “básicos”, como uma câmera DSLR Canon com lente 100-400 (zoom de 20x), binóculo e tripé. Tudo à disposição do hóspede durante a sua estadia.
No outro cômodo, uma enorme cama, ao lado de um banheiro com chuveiro e banheira. A vista para o rio em frente era belíssima e convidava ao relaxamento. E caso o calor fosse intenso, uma pequena piscina externa permite ao hóspede se refrescar no conforto de seu quarto.
Sério, nasci para isso. Pena que o meu bolso não pense o mesmo.
Pela primeira, e única vez durante a viagem, tivemos internet em nosso quarto em um safari camp. A transmissão de dados era via satélite, o que tornava tudo um pouco lento. Mesmo assim, um luxo extremo quando nos lembramos que até então não tínhamos sequer telefones.
Tudo lindo, bem cuidado e com atenção aos mínimos detalhes. Um lugar impressionante, ainda mais quando lembramos que estávamos no meio de uma reserva privada, a quilômetros da civilização.
O Zarafa reúne luxo e charme, num hotel extremamente exclusivo.
Logo após me deslumbrar com aquele quarto imenso, e todos os seus detalhes charmosos, saímos para um safári.
Observamos alguns animais e então paramos num determinado ponto, cuidadosamente escolhido pelo nosso guia, para comermos alguns petiscos e bebermos vinho.
Nesse lugar me deparei com o mais belo pôr do sol da viagem. As cores eram vibrantes. As sombras conferiam um efeito dramático à paisagem. O céu, de tons azuis e vermelhos exuberantes, parecia saído de um pintura.
Nenhum outro carro próximo ao nosso. Ao que parece, o Zarafa tem algumas cartas na manga para tentar compensar o seu preço.
Retornamos ao lodge e, após um rápido banho, o funcionário do hotel veio me pegar no quarto, pois já era noite e não podia mais andar sem companhia.
A comida estava deliciosa. O ambiente, agradável e aconchegante. Mesmo assim, logo depois voltei para o quarto. Precisava aproveitar um pouco mais aquele lugar, pois não é todo dia que tenho a oportunidade de me hospedar num lugar como o Zarafa.
A internet foi extremamente útil para mandar notícias para a família, com quem não falava há dias. Já estavam pensando que eu havia virado comida de leão.
Rapidamente adormeci, quase que antevendo que no dia seguinte participaria de uma emocionante perseguição. Praticamente um CSI da selva.
O dia amanheceu belíssimo. Muito sol e céu azul. Saímos bem cedo, antes do café da manhã, já com as malas prontas.
E rapidamente o nosso guia começou a seguir a trilha de um leopardo.
Dentre todos os animais da África, o leopardo é um dos mais difíceis de ser encontrado. Permanecem ocultos por longos períodos, e normalmente caçam à noite.
No meio do caminho, um grupo de elefantes estava em movimento. Rapidamente o guia posicionou o carro em seu caminho, fazendo com que viessem ao nosso encontro. Ficamos cercados por todos os lados e mantivemos o silêncio para não assustá-los.
Dando adeus aos elefantes, retomamos a nossa perseguição. Rastros e trilhas, que aos nossos olhos eram pouco mais do que areia no chão, formavam para o guia importantes sinalizadores apontando para onde o leopardo fujão tinha ido.
Após quase duas horas, chegamos ao lugar certo. Uma cobra de quase 2 metros jazia no chão, morta há pouco tempo. O leopardo, na verdade uma fêmea grávida, descansava sob uma árvore.
O mato ao seu redor impedia uma melhor visualização, mas a emoção de estar tão perto deste belo animal já era enorme.
Fomos, então, para um lugar ali perto tomar o café da manhã. Algo bem simples, considerando o nível do Zarafa. Mas para quem tinha acabado de ver um leopardo, mesmo uma simples xícara de café já seria suficiente.
Terminamos e ansiosamente retomamos o caminho em direção ao leopardo. Um pouco à frente, vimos uma impala, assustada e emitindo diversos ruídos. O guia nos explicou que os predadores felinos, como leão e leopardo, atacam de surpresa. Uma vez descobertos, desistem da presa, pois não estão dispostos a gastar uma grande energia no encalço de um animal muitas vezes tão rápido quanto eles.
A impala estava lá avisando ao nosso leopardo que já o tinha visto. Algo simples mas que lhe garantiu a vida. Sem dar as costas ao predador, foi-se embora feliz por ter ganho aquela disputa.
Nós seguimos mais a frente e o leopardo resolveu fazer pequenos movimentos. Nada muito significativo, mas o suficiente para uma visão um pouco melhor. Ficamos ali apreciando aquele animal por um bom tempo. Mas a obrigação nos chamava, e nos colocamos em movimento rumo à pista de pouso.
Em direção à pista de pouso ainda passamos por um grande grupo de leoas e leõezinhos. Adivinhem, estavam preguiçosamente descansando em uma área sombreada. Se algum dia eu for um animal, definitivamente quero ser um leão.
Mas nem só de luxo vive o homem. Por isso, nossa próxima parada seria em um lugar diferente de tudo aquilo que já vimos. Jamais pensei que em pleno deserto poderíamos encontrar atrações tão belas.
Estávamos embarcando em direção ao deserto do Kalahari.
Hugo Medeiros viajou a convite do Botswana Tourism.
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1 comentário
Como o Hugo disse “nasci pra isso, pena que meu bolso não pense o mesmo” quem dera pudesse copiar esse roteiro. Viagem empolgante é diferente de tudo que já vi até hoje. Parabéns Hugo pela sua narrativa da viagem, simples e tão cheia de emoção.