Não é bolinho: Aconchego Carioca x Chico & Alaíde

Aconchego Carioca

O Rio vive uma época de ouro no departamento botecagem.

Por um lado, os botequins clássicos continuam valorizados — e com um ótimo guia anual, o Rio Botequim. Por outro, alastram-se pela cidade as redes de pé-limpos, como Belmonte e Conversa Fiada — que, mesmo vistos com desdém pelos puristas, preservam um certo jeito carioca de sair para tomar um chopinho.

(O curioso é que essas redes surgiram à imagem dos neobotequins paulistas, que importaram a São Paulo o espírito — ainda que fake — do botequim carioca, com enorme sucesso. Mas isso é assunto para outro texto.)

O fenômeno mais interessante do momento, no entanto, paira acima dessas questões de pé-limpo versus pé-sujo. Me refiro ao surgimento das primeiras chefs de boteco: cozinheiras que têm seus quitutes reconhecidos como, como diria?, alta baixa gastronomia.

Alaíde Carneiro, do Chico & Alaíde, e Kátia Barbosa, do Aconchego Carioca, são as autoras de bolinhos cultuados pela crítica e amados pelo público halterocopista. Quando o Michelin resolver estrelar botecos, é por elas que vai começar.

Chico & Alaíde

–> Chico & Alaíde, recheios à vista

Aberto em 2009, é um dissidência do honorável Bracarense, onde Chico era o garçom mais popular e Alaíde comandava a cozinha. Está instalado na esquina da Dias Ferreira com a Bartolomeu Mitre, mais ou ou menos na divisa do Leblon dos botequins (ande duas quadras e você chegará à Academia da Cachaça e aos botecos da Cobal do Leblon; o próprio Bracarense não está longe) com o Leblon dos restaurantes (na calçada oposta está instalado o CT Boucherie, e três quadras adiante você chega ao restaurantódromo da Dias Ferreira).

Se na fase do Bracarense a estrela do cardápio era o bolinho de aipim com camarão, na casa própria Alaíde oferece um cardápio que só indo em turma para destrinchar como se deve. A tônica aqui é a valorização dos recheios; não há lugar para massas excessivas ou salgadinhos embatumados.

Chico & AlaídeChico & AlaídeChico & Alaíde

Além dos bolinhos — de tutu, de baião de dois, de abóbora com carne seca — é preciso experimentar os tôtivendos, que nada mais são que escondidinhos com tudo à mostra. O de bacalhau é dos que têm mais saída.

Muito delicados também são os petiscos que vêm enformados, mas sem cobertura de massa — como a maravilhosa de camarão (o nome é esse, não engoli nenhuma palavra, não).

Vale a pena esperar na fila por uma mesa. (Se a espera estiver muito crítica, atravesse a rua e siga pela Conde de Bernadote até a Academia da Cachaça, que tem ótimos escondidinhos.)

Chico & Alaíde: R. Dias Ferreira, 679, esquina Bartolomeu Mitre. Tel.: (21) 2512-0028. Fecha de 2ª a 5ª às 23h30, 6ª e sábado à 1h e domingo às 22h. Site oficial: clique aqui. Leia mais: Prazer em conhecer, C&A, no Rio de Janeiro a Dezembro

Aconchego Carioca

–> Aconchego Carioca, bolinhos Cordon Bleu

Há alguns anos leio maravilhas sobre os bolinhos do Aconchego Carioca. Mas ainda não tinha conseguido arranjar um tempinho para ir até a Praça da Bandeira, na Zona Norte, conferir o que eu estava perdendo.

Nesta última passada pelo Rio, fui duas vezes — mas ainda não compensei o atraso 😀

Aconchego CariocaAconchego Cariocaaconcheco-i-3

Instalado num charmoso casarão (com direito a um jardim no pátio), o Aconchego Carioca é um restaurante completo. Mas mesmo que eu não tivesse lido as recomendações da Constance Escobar, eu não conseguiria passar da seção dos petiscos.

Os bolinhos de Kátia Barbosa são jóias que vão à frigideira. O que os acepipes de Alaíde têm de intuitivos e espontâneos, os de Kátia têm de elaborados, cerebrais. Dá para ver que ela gastou muita, mas muita mufa até chegar a formulação e modo de preparo.

O cardápio explora todas as possibilidades de massa. Tem bolinho de feijoada, de feijão fradinho, de aipim (com um bobozinho de camarão, de grão de bico (com recheio de bacalhau), de tapioca.

O bolinho que fez a fama da casa é o de feijoada. E é realmente uma perfeição. Sequinho por fora (como, aliás, todos os bolinhos que provei ali), consegue a proeza de trazer uma couve perfeitamente crocante em meio à saborosíssima massa. Não é à toa que é o prato mais citado pela crítica gastronômica carioca desde a mousseline de batata-baroa com caviar de Laurent Suadeau (já faz 30 anos, você ainda estava na mamadeira).

Aconchego CariocaAconchego Carioca

Fiquei apaixonado também pelas almofadinhas de tapioca salgada (que, segundo a Constance me contou, parecem que contaram com um pitaco do Rodrigo Santos do Mocotó).

Experimentei também o “jiló do Claude”, que Kátia inventou para Claude Troisgros. Leva balsâmico e queijo de cabra, e tem o mérito de deixar o jiló palatável para quem não gosta. (Achei divertido, mas prefiro a versão hardcore lá de Minas…)

O cardápio anuncia para breve novos petiscos. E sabe-se que São Paulo ganhará uma filial nas próximas semanas, nos Jardins. Mas a peregrinação até as cercanias da Tijuca deve continuar valendo a pena.

Aconchego Carioca: R. Barão de Iguatemi, 379, Praça da Bandeira (R$ 25 de táxi da Zona Sul ou R$ 12 do Centro). Tel.: (21) 2273-1035. Abre de 3a. a sábado das 12h às 23h; domingo das 12h às 17h; segunda das 12h às 16h. Leia também: Aconchego Carioca, história boa de contar, no Pra quem quiser me visitar.

Leia mais:

Rio Zona Norte: Pedra do Sal e Samba do Trabalhador no Andaraí

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23 comentários

Fora a carta de cervejas do Aconchego que foi reformulada pelo Delirium Café (a cerveja do elefantinho) em Ipanema. Por sua vez o Aconchego fez a carta de quitutes do Delirium. Parceria show!

Isso! Exatamente isso que eu queria saber do Rio! Os bolinhos! Chego na sexta feira da paixão e começarei pelo bolinho de bacalhau, depois até dia 09, dieta que me esqueça!

Fui duas vezes ao Chico e Alaíde, mas não experimentei esses tôtivendo, não! Desculpa pra voltar… 🙂

Aproveitando a carona sobre o Rio, Leblon… No penúltimo final de semana foi para o Rio e fiquei no Z.Bra.

O hostel é bem bacaninha e a localização é excelente.

Para quem gosta de farra é um prato cheio… o barulho da Melt, que fica de frente, vai ser carinho para os seus ouvidos!

A primeira vez que vi escrito “pastel de angu” no cardápio achei bizarro. Provei e agora é meu petisco preferido no Aconchego.

    Nívea, o pastel de angu foi importado do estado vizinho. Aqui em Minas, as cidades de Itabirito e Conceição do Mato Dentro brigam pela paternidade desse salgadinho. ; )

Preciso conhecer os dois, pq faz tempo que ouço falar da Kátia, ela já foi até na Ana Maria Braga 🙂

Como boa carioca que sou preciso tirar esse atraso 🙂

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