12 dias no Japão: a Tóquio zen da Miriam
Depois de passar por Osaka e Hiroshima, a viagem da Miriam de 12 dias pelo Japão chega a sua última parada, Tóquio. Miriam foi atrás de uma Tóquio zen, povoada por jardins, templos, santuários (você vai entender a diferença) e costumes tradicionais.
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12 dias no Japão: a Tóquio zen da Miriam
Texto e fotos | Miriam K.
A estação Tokyo é o principal terminal ferroviário da cidade e é por onde passam os trens-bala, treze linhas da JR (Japan Railways) além da linha Marunouchi do metrô. São mais de 3 mil trens por dia.
A estação é toda de tijolinhos em estilo ocidental e foi aberta em 1914. Boa parte dela foi destruída nos bombardeios de 1945, mas foi logo reconstruída, embora somente com dois andares e não com três, como anteriormente, e sem os domos originais.
Eu já tinha estudado o mapa do metrô de Tóquio, que mais parece uma placa de computador, só que toda colorida. Era só entrar na linha Marunouchi do Metrô e ir da estação M17 até a M10, mas parece que andamos quilômetros dentro da estação. A estação mais próxima do nosso hotel não tinha elevador, mas felizmente tínhamos somente um volume para levar escada acima. Após uma caminhada de alguns quarteirões, finalmente chegamos.
Ficamos no Citadines Shinjuku Apart Hotel por 8 noites. A recepção funciona 24 horas, embora a partir de um certo horário seja necessário o uso do cartão do quarto para a abertura da porta do saguão. Há uma sala de ginástica com equipamentos logo na entrada e com vista para a rua. Há também um pequeno salão onde é servido o café da manhã, que é bem simples – comida oriental e ocidental a um preço 864 de ienes, o equivalente a cerca de US$ 8.
Experimentamos algumas vezes, mas depois acabamos trazendo de fora as coisas para comer no dia seguinte. Como sou adepta de um bom café, trouxe do Brasil meu filtro e pó de café Melitta para fazer do meu jeito.
O quarto tem uma pequena cozinha com fogão elétrico, geladeira, microondas, chaleira, torradeira de pão, xícaras, copos, panelas e tem uma ante-sala com uma mesa de centro e um sofá para duas pessoas, além de uma mesinha de trabalho e é muito limpo. O banheiro é pequeno, mas tem ducha higiênica e um bom chuveiro e as amenidades são simples, mas boas. O valor das diárias já é pago na chegada e o cartão de crédito serve para eventuais despesas futuras. Foi o hotel que recebeu as malas que enviamos do Aeroporto de Osaka na chegada e também foram eles que enviaram uma parte delas para o aeroporto de Haneda três dias antes da nossa partida.
Por causa do tamanho da cidade e da enorme quantidade de locais a serem visitados, dividimos a exploração por regiões. No primeiro dia em Tóquio estivemos na região de Harajuku. Fomos ao Museu de Arte Memorial Ota, dedicado ao Ukio-e, que é um gênero de xilogravura. O estilo foi muito popular entre os séculos 17 e 19; artis ostas mais conhecidos no mundo ocidental são Hiroshige, que inspirou até Van Gogh, e Hokusai, com sua Grande Onda de Kanagawa que serviu de modelo para a marca da QuickSilver.
Por causa da proximidade, a parada seguinte foi a Takeshita Dori, em Harajuku, que é uma rua famosa por suas lojas que lançam a moda jovem japonesa. Foi lá que paramos para comer num bandejão de comida japonesa do tipo que você aponta para o que quer comer, o atendente te serve e você come na mesa que estiver disponível. É bem econômico, mas tem que dividir uma mesa comunitária.
Ainda nessa região está o Meiji Jingu, que é um santuário ao lado do Parque Yoyogi dedicado ao Imperador Meiji e sua consorte, construído em 1920. Ele foi destruído na Segunda Guerra Mundial, sendo reconstruído logo após. A entrada é gratuita, mas são cobrados 500 ienes para os jardins internos. O torii (portal) da entrada é escuro e imponente e, após uma rápida caminhada, passamos por um ‘corredor’ feito de barris de saquê de um lado e barris de vinho francês do outro que são oferendas para se ter um bom ano.
Nos fins de semana são frequentes as cerimônias tradicionais de casamento no local. É interessante ver os noivos em trajes típicos e os convidados posando para fotos e se encaminhando ao interior do santuário silenciosamente em fila indiana.
Um outro lugar que visitamos foi o Museu Nezu com seus jardins tradicionais no elegante bairro de Aoyama. Os objetos em exposição são asiáticos e japoneses sendo alguns muito antigos, colecionados por Nezu Kaichiro, presidente da Tobu Railways, falecido em 1940. O museu foi aberto em 1941 no local onde foi a sua residência, tendo sido renovado em 2009. Além dos objetos antigos chama a atenção os famosos painéis de íris de Ogata Korin. Nesse dia experimentamos um restaurante tailandês, o Tokyo Tomyan Tinum Aoyama.
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Na região de Shinjuku um lugar imperdível é o Shinjuku Gyoen (Parque Shinjuku) cujo Jardim Francês tem a maior quantidade de rosas que já vi na minha vida, além do Jardim Inglês e o Jardim Japonês. É um contraste a visão dos arranha-céus ao redor. O parque era de uso exclusivo da família imperial, mas foi aberto ao público em 1949 e é uma ilha de tranquilidade no meio da cidade.
Aproveitando a proximidade, fomos à loja de Departamentos Takashimaya, com 15 andares, e à uma loja da Tokyu Hands que tem de tudo um pouco. Aproveitamos para tomar um lanche da tarde no setor de alimentação e levamos o nosso café da manhã do dia seguinte.
Em um dos dias fomos para Kamakura para conhecer o Grande Buda. Utilizamos o metrô e a linha JR a partir da estação Shinjuku (que é a maior do mundo em termos de número de passageiros, com mais de 3,5 milhões por dia). A estação tem 36 plataformas e mais de 200 saídas, então demorou um pouco até acharmos a plataforma certa, mas em pouco mais de uma hora chegamos ao primeiro destino. Como no site havia indicações de outros pontos de interesse na região, descemos uma estação antes, que se chama Kita Kamakura e caminhando, fomos visitando vários templos pelo caminho. É uma caminhada agradável em que encontramos a população local indo à escola e ao trabalho.
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Fomos ao Enkaku-ji, um templo budista situado logo ao lado da estação onde descemos. A construção é sóbria e monocromática e com vastos jardins. Às vezes as palavras inglesas shrine e temple são traduzidas para o português como templo. Li um artigo que diz que usar esses dois termos como sinônimos é o mesmo que dizer que igreja e sinagoga são a mesma coisa. Resumindo, quando se fala templo, estamos falando do budismo e o símbolo é um portal com telhado; e quando falamos santuário estamos falando do xintoísmo e o símbolo é o torii (portal). Ambas as religiões coexistem harmoniosamente no Japão desde o século 6 ou 7.
O portão principal do Enkaku-ji é impressionante, ficamos minúsculos perto dele. Até chegar ao templo principal passamos por jardins, lagos, templos secundários: um lugar relaxante e sombreado. Nesse dia havia muitas crianças pequenas passeando por lá com suas professoras e foi lindo ver aquele monte de crianças todas enfileiradas, com seus uniformes e chapéus.
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Paramos para almoçar num pequeno restaurante que servia somente ramen (macarrão japonês) e era frequentado por trabalhadores locais e por senhoras idosas fazendo turismo como nós.
O local seguinte que visitamos foi o Tsurugaoka Hachimangu que é o santuário xintoísta mais importante de Kamakura. Sendo xintoísta, está ligado assuntos terrenos como casamentos e pedidos de sucesso nos estudos e no trabalho, portanto, é muito mais alegre e colorido com os seus toriis alaranjados.
Mais uma caminhada de 30 minutos e chegamos finalmente ao Grande Buda de Kamakura. Ele foi fundido em bronze no século 13 e originalmente ficava dentro de um templo que foi varrido por tsunamis nos séculos 14 e 15 e desde então está ao ar livre. O último reparo da estátua foi em 1961, usando uma técnica que permite ao Buda resistir aos terremotos. A sua imagem impressiona e dá até para entrar nela a partir da base para olhar como é lá dentro. Só para se ter uma ideia, o comprimento de cada olho é de 1 metro, cada orelha tem 1,90 m, e a circunferência de cada polegar é de 0,85 m!
A nossa última parada foi no Templo Hasedera, dedicado a Kannon, a deusa budista da misericórdia com suas 11 cabeças. O portão principal fica em frente a um pinheiro centenário com uma lanterna de papel chamado de Sanmon. Há lagos, jardins e muitos locais a serem visitados lá dentro.
Numa das edificações há uma estrutura cilíndrica que pode ser rodada, que é chamada de ‘rinzo’ e contém as escritas do Sutra. Quando você roda essa estrutura, você adquire a sabedoria lá escrita como se tivesse lido todos eles!!!
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O Jizo-do é em homenagem às crianças não nascidas e são centenas de esculturas uma do lado da outra. A Benten Cave é uma caverna com esculturas que foram feitas nas próprias paredes. Embora não possamos entender completamente o seu significado, com certeza vale a visita só pelo visual.
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De volta a Tóquio, visitamos em um outro dia a região de Sugamo – que também está fora do circuito de turistas ocidentais – para conhecer a atmosfera do Japão antigo. A Jizo Dori (rua Jizo) é conhecida por ser acessível a pessoas idosas e assim a rua ficou famosa por vender produtos tradicionais. É nessa região que fica a estátua do Togenuki Jizo no templo Koganji que ajuda na cura de doenças. As pessoas fazem fila para dar banho e agradar a região do corpo do Jizo que necessita de alívio.
A região de Asakusa por muitos séculos foi um centro de entretenimento de Tóquio quando ainda ficava fora dos limites da cidade. No período Edo (1603 a 1867) era a região de teatros kabuki e do bairro da luz vermelha. Uma boa parte foi destruída pelos bombardeios da Segunda Guerra Mundial, sendo o templo logo reconstruído, mas não o seu entorno.
Asakusa continua tendo uma atmosfera tradicional e é nesta região que ainda se pode andar de riquixá, ver pequenas lojas tradicionais e moradias típicas japonesas. A sua principal atração é o templo budista Sensoji, construído no século 7 para abrigar uma pequena imagem de ouro da deusa Kannon que dois pescadores encontraram na sua rede.
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A entrada do templo é marcada pelo Kaminari-mon, ou Portão do Trovão, com sua enorme lanterna vermelha, que é o início de uma grande rua somente para pedestres chamada de Nakamise que há vários séculos fornece aos visitantes do templo souvenirs, comida e produtos japoneses típicos. A região pode ser visitada em uma ou duas horas, pois há ruas secundárias que também têm aquela atmosfera tradicional e com certeza vai haver um local interessante para se apreciar uma comida típica a preços camaradas de almoço.
Ainda nessa região fica o Tokyo Skytree, inaugurada em 2012 que é uma nova torre de TV que tem um grande complexo de entretenimento nos andares inferiores e dois decks de observação a 350m e 450m de altura.
No primeiro, há três andares de observação que permitem a visualização da cidade em 360°, lojinha de suvenires e restaurante e no outro, acessível por mais um elevador mediante pagamento de nova entrada, há uma rampa em espiral com amplos vidros que permitem a visualização de toda a região num dia de céu claro. Os otimistas conseguem até ver o Monte Fuji. Ainda neste complexo, nos quatro andares inferiores há um grande setor de compras, com lojas de souvenires, além de inúmeros restaurantes. Fomos ao indiano Amara, muito bom e com ambiente aconchegante, mas como sempre, é difícil escolher, porque cada um parece melhor que o outro e há restaurantes de todo tipo.
Muito obrigado pelo delicioso relato, Miriam! Fora a aula prática de História! 😉
Leia mais
- 12 dias no Japão, parte 1: Osaka (a viagem da Miriam)
- 12 dias no Japão, parte 2: Hiroshima (a viagem da Miriam)
- Dicas do Japão no Viaje na Viagem
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2 comentários
muito bom
Pretendo viajar para o Japão em abril. Agradeço muitíssimo esses seus comentários. Vou seguir seu itinerário.