Guia de Inhotim
Visitando Inhotim com criança: Alice no País das Exclamações
Deslumbrante, incrível, lindíssimo, maravilhoso… tudo isso você vai ouvir sobre Inhotim. E quando visitar, você também vai usar essas palavras. Mas nenhum adjetivo supera o “Uau!” das crianças diante do que elas vêem por lá, seja natureza, arquitetura ou arte.
Estive em Inhotim com minha filha Alice (9 anos) no feriadão de Corpus Christi, combinando dois dias (5ª e 6ª) no parque/museu e o fim de semana em Belo Horizonte. A visita a Inhotim foi pontuada por uma infinidade de “Uau!”, muitos “Vem ver isso, mãe!” e vários “Que demais!”. Tudo ali arranca pontos de exclamação, dos pequenos e dos marmanjos 🙂
Planejamento da viagem
Fiéis às dicas do Ricardo Freire, nos hospedamos em BH e seguimos para Inhotim no ônibus executivo da Saritur. Escolhi ficar no Promenade BH Platinum, pertinho do shopping Diamond Mall e de vários restaurantes. A localização, no bairro de Lourdes, é ótima para quem vai para a rodoviária (cerca de 15 minutos de táxi) e para quem vai fazer turismo na cidade.
As passagens de ônibus para Inhotim tinham sido reservadas por telefone com antecedência, porque a venda está temporariamente suspensa no site da Saritur. Não é fácil tirar a criança da cama tão cedo (o ônibus sai às 08:15), mas consegui e chegamos à rodoviária com antecência para pegar os bilhetes. Em função do feriado tinha ônibus extra e fila na bilheteria. Retirei logo os bilhetes de ida e volta dos dois dias.
A viagem demora cerca de 1 hora e meia e o ônibus é bem confortável, então a soneca é garantida. Chegar a Inhotim logo cedo, por volta das 10:00, em feriadão, faz toda a diferença. O ônibus passa por dentro da cidade de Brumadinho (por isso vai devagar e a viagem é um pouco mais longa que a de carro) e para dentro do estacionamento do parque, o que é muito conveniente. O embarque de volta para BH é no mesmo local.
Os ingressos para Inhotim tinham sido comprados pela internet e já no estacionamento havia um ponto de troca dos vouchers pelas pulseiras-ingresso. Há outro ponto de troca na recepção, onde também fica a bilheteria para quem vai comprar ingresso na hora. Nossos vouchers incluíam o transporte interno no parque, o que se mostrou muito útil durante nossos roteiros. Pulseiras de cores diferentes identificam que tem e quem não tem direito ao transporte.
Visitando Inhotim com criança
No primeiro dia optei por seguir as dicas do Tiago Reis, do Rotas Capixabas, que esteve por lá no início do ano e tem um post muito útil sobre Inhotim com crianças. Também vale a pena ler o post Cinco obras para curtir com crianças, publicado no blog de Inhotim.
Com o post do Tiago impresso e o mapa do parque em mãos, seguimos direto para o Café do Teatro (o ponto de alimentação mais perto da recepção) para acompanhar o planejamento do dia com um cafezinho e um suco de laranja.
Alice foi marcando no mapa o que não poderíamos deixar de ver no circuito laranja, ao qual dedicamos todo o primeiro dia. Foi uma ótima decisão, porque as galerias e as obras dessa rota são realmente muito atraentes para as crianças. Acabamos voltando ao circuito laranja na manhã do dia seguinte para ver o que não tinha dado tempo. A tarde do segundo dia foi dividida entre o circuito rosa e o amarelo. Mesmo com toda essa programação intensa, não vimos tudo!
Usamos as indicações como base para a visita, mas fomos explorando com calma e apostando em ver obras que não estavam citadas nos posts. Importante também é não deixar de admirar o paisagismo, em especial os destaques botânicos pontuados no mapa.
Abaixo seguem alguns comentários para ajudar a montar seu roteiro, com a numeração que aparece no mapa (você pode baixar aqui e imprimir em casa).
Circuito laranja
- O lago e o vandário: o cenário é lindo, havia um cisne passeando pela água quando passamos pela primeira vez. O vandário é super interessante e parece um jardim suspenso de raízes. Da beira do lago parte o transporte da rota 1 que leva até o Galpão Cardiff&Miller.
- Galpão Cardiff & Miller (G11): para sentar, fechar os olhos e ouvir. Saia pelo lado oposto do que entrou e preste atenção na paisagem. Depois de todo esse estímulo sonoro e visual, pegue (à esquerda) o transporte da rota 2 e vá para o Viveiro Educador.
- Viveiro Educador: o lugar é incrível e é provável que a maior parte das fotos feitas pela Alice tenham sido lá. Inclui o Jardim dos Sentidos – uma sequência de canteiros altos com plantas medicinais, aromáticas e tóxicas. A monitora avisou: “Cuidado com as mais vistosas, elas são as tóxicas”. Ahá! E depois ainda tem um jardim de pedras e cactus. Ótima oportunidade para mostrar às crianças as plantas que fazem parte do nosso dia a dia (alecrim, alfazema, hortelã) ao vivo. Programão para as crianças muito “urbanas”.
- Galeria Psicoativa Tunga (G21): eu gostei, mas não emocionou a Alice e não entrou no Top 10 que ela preparou 🙂 Pegue o transporte de volta e caminhe um pouquinho até o ponto de embarque da rota 3. Cuidado para não passar pelo ponto e seguir em frente à pé – fizemos isso e pegamos um longo trecho em subida.
- Jorge Macchi (Piscina. A15) + Marilá Dardot (A Origem da Obra, G17): duas paradas imperdíveis. No verão a piscina deve ser imperdível e tenho certeza de que as crianças vão arranjar um jeito de interagir com as letras dos degraus, mas nossa visita foi num dia frio e não nos inspirou a mergulhar. Há um vestiário atrás da piscina para quem quiser pegar toalhas e trocar de roupa.
- Quando passamos por lá havia uma família corajosa experimentando a água que, imagino, estava gelada. Subimos o morrinho ao lado da piscina e caminhamos por um gramado que parece infinito, pontuado aqui e ali por letras feitas de barro (ou vasos de planta em forma de letra?) – é “A Origem da Obra”, de Marilá Dardot. As crianças piram – quem já passou pela alfabetização sai correndo pra lá e pra cá procurando as letras para escrever.
- Quem ainda está no gugu-dadá se diverte muito também. Vi uma pequena de uns 2 anos apontando para as letras e falando sozinha “Dá, pá, tá…” e depois saía correndo.Não esqueça de descer até a casinha branca onde há aventais, pás, terra, regadores e sementes para a garotada plantar. A idéia, seguindo o roteiro do Tiago Reis, era seguir dali pegando o transporte da rota 4, mas o trecho está interditado para obras e voltamos tudo até o ponto de embarque da rota 1. No caminho de volta, descendo a pé do Galpão Cardiff&Miller em direção ao lago, paramos para ver o caleidoscópio de Olafur Eliasson.
- Olafur Eliasson (Viewing Machine, A13): fotos são obrigatórias nesse caleidoscópio gigante que tanto multiplica a paisagem para a qual está voltado como multiplica os rostos sorridentes que se colocam em uma das pontas. Diversão e aula de ótica, tudo junto. De lá, encaramos a descida, passamos de novo pelo lago e no ponto de embarque da rota 1 de onde seguimos num trechinho a a pé mesmo até a galeria Adriana Varejão.
- Galeria Adriana Varejão (G7): prepare a câmera e espere pelo “Uau”. O cenário é lindo e a galeria é incrível por fora e por dentro. Não deixe de passar pelos azulejos de passarinhos que revestem o banco no terraço! Esse ponto do circuito laranja faz conexão com o circuito amarelo e é uma boa chance de fazer a pausa para o almoço numa das lanchonetes ou no restaurante Tamboril.
- Jarbas Lopes (Troca-Troca ou “Os fuscas”, A6): de volta ao circuito laranja, procure o ponto de embarque da rota 4 (com a interdição de parte do trajeto, o ponto mudou de lugar) e suba para ver os fuscas coloridos. Cores vibrantes, sem a menor dúvida, são um imã para as crianças.
- Cristina Iglesias (G19): o labirinto é lindo, as crianças se divertem e o caminho até lá, uma pequena trilha no meio da mata, é uma diversão à parte. Não deixe de incluir na sua programação.
- Galeria Cosmococa (G15): foi nossa última parada no primeiro dia e ganhou o 1º lugar no Top 10 da Alice. Os espaços lá dentro oferecem experiências bem diferentes, que as crianças vão curtir bastante, entre elas uma sala escura com chão irregular e balões para brincar ou estourar.
Circuitos Rosa e Amarelo
- Yayoi Kusama (A17): o “Narcissus Garden” é imperdível com suas bolas prateadas que flutuam na água. Encontre seu reflexo numa das bolas e entenda o nome da obra 🙂
- Hélio Oiticica (Invenção da cor/Penetrável, A12): com suas paredes de cores vivas, espaços para ver “através” e chão de pedrinhas…. Não é fácil tirar a criança de lá.
- Edgard de Souza (Sem título, A16): o trio de esculturas de bronze encantou a Alice, provavelmente porque reproduz um movimento tão querido das crianças, a cambalhota. Tem gramado suficiente ao redor para a garotada imitar as esculturas 🙂
- Galeria Cildo Meireles (G5): a “sala vermelha” (Desvio para o Vermelho: Impregnação, Entorno, Desvio) e “Através” são instigantes e imperdíveis. Na primeira a garotada vai adorar descobrir os objetos naquela imensidão de vermelhos; e na segunda vai experimentar caminhar sobre vidro quebrado. Vidro quebrado não é um material perto do qual os pais gostem de deixar os filhos (certo?), mas não achei nem um pouco perigoso (são pedaços planos de vidro e não cacos ponteagudos virados para cima). Só é preciso ter cuidado ao visitar “Através” porque algumas texturas que estão penduradas são arame farpado e telas de metal.
- John Ahearn & Rigoberto Torres (Abre a porta, Rodoviária de Brumadinho – A7): os dois murais ficam bem perto da recepção e são altamente fotogênicos, especialmente o que mostra o ônibus azul.
- Doug Aitken (Sonic Pavilion G10): o “Som da Terra” fica final do circuito rosa, no alto do morro. A vista é espetacular. Pegamos fila quando estivemos por lá, porque aparentemente é uma das “atrações” mais populares do parque/museu. A ideia é entrar em um salão envidraçado e ouvir o som que vem de dentro da terra através de um buraco de 202 metros de profundidade e de microfones, equalizadores e amplificadores. Não ouvimos muito, apenas um som grave, baixo e intermitente, mas a proposta da obra é fascinante. Aproveite o transporte interno (rota 5) porque a subida é puxadinha.
Alimentação
No primeiro dia almoçamos no restaurante Tamboril, que fica no circuito amarelo e funciona no sistema de buffet com preço fixo (crianças até 5 anos não pagam e de 6 a 12 pagam metade do preço). É a opção mais cara do parque/museu – nossa conta ficou em R$ 155,00 (um adulto e uma criança, com sobremesa para as duas, água, refrigerante e um café). Os pratos são mais elaborados, mas há alguns básicos como massa ao molho de tomate e batata frita. Dos dois restaurantes do parque, é o mais perto de quem está no circuito laranja.
No segundo dia fomos conhecer o Oiticica, no circuito rosa e que funciona em sistema de self-service a quilo. Nossa conta fechou em R$ 81,00 (com sobremesa para as duas, sucos de laranja e um café). Há mais opções de pratos básicos, como peito de frango à milanesa, feijão e almôndegas.
Não chegamos a experimentar as lanchonetes que vendem pizza e cachorro quente, mas houve tempo para picolés no Café do Teatro, onde se encontra também salgados, pão de queijo e tortas.
Embora exista restrição a levar alimentos para consumir em Inhotim, vi algumas poucas pessoas com frutas e suquinhos de caixa.
Perrengues e acertos
Quem tiver disponibilidade de ir a Inhotim fora de feridão deve fazer isso. O parque estava cheio na 5ª feira e muito cheio na 6ª. A monitora de uma das galerias explicou que o segundo dia de um feriado prolongado é sempre mesmo muito cheio e a gente viveu isso. Na 5a pegamos uma fila pequena para entrar na “sala vermelha”, do Cildo Meireles, e na 6a uma fila mais demorada para chegar ao “Som da Terra”.
Com tantos visitantes, os restaurantes, lanchonetes e cafés não deram conta. Passei 45 minutos na fila do caixa e mais 10 minutos no balcão para conseguir picolé e pão de queijo no Café do Teatro. Já que os restaurantes e lanchonetes estavam lotados, o Café virou opção de almoço e estava a beira de um “colapso de atendimento”. Inhotim precisa rever sua capacidade de atendimento ao público no quesito alimentação.
Um super acerto foi almoçar em “horário de criança”, porque nos dois dias pegamos os restaurantes ainda sem filas. Fizemos refeições tranquilas e pudemos apreciar a comida. Quem deixou para almoçar depois das 13:00 sofreu na espera ou desistiu.
Duas coisas que eu tinha planejado deram muito certo: deixar Alice com o mapa do parque e dar a ela uma câmera exclusiva para que fotografasse o que considerasse mais interessante. Algumas das fotos que ela fez estão aqui nesse post. Essa autonomia ampliou a experiência dela no parque/museu e eu pretendo repetir isso sempre que possível 😉
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24 comentários
Amei o post! Muito obrigada. Acabei de ler. Chegamos tarde ontem (14:30) e corremos até o sons da Terra (imperdível) . Voltaremos daqui a pouco c Gabi de 4 anos. Ela c certeza vai amar! Só acho q vale a pena dar a dica do carrinho (de “bebê”) para os pais. Na Europa, ainda sem filhos, via as crianças grandes, de +-4a, neles e achava um absurdo.. kkk. Antes de viajarmos, lembrei dele justamente p Inhotim, foi minha salvação!
E relendo em 2020 acho que como São Paulo atrasou com o COVID, posso sonhar levar ele daqui a 2, 3 anos – já me imaginei lá com ele. Quando fui dormir lá com minha mãe. Sair de BH pode ser legal tb mas acho mais cansativo
Que ótimas dicas Elisa! Obrigada. E vou adotar essa de dar a câmera p q eles sejam responsáveis pelas fotos, acho q fará toda a diferença!
Oi Elisa! Muito show seu relato! Vai me valer muito…. Quero ir agora em julho com meu filho e já vou pedir pra ele tirar suas próprias fotos! Obrigada por compartilhar! Um super bj!
Adorei as dicas , tenho planos de conhecer , um passeio com a família , minhas três filhas, meu marido italiaAmericano e minha avó de 95 anos, passaremos o dia, por favor se alguém tiver mais dicas, irei apreciar e muito, afinal nada melhor a que seguir os conselhos de quem já esteve por lá . Beijos !
Muito bacana! Adorei a ideia de entregar uma câmera para as crianças fazerem seus registros!! Vou tentar! Também fomos à Inhotim com nossas crianças. E fizemos nossos registros… https://emanarporai.wordpress.com/2016/05/03/nos-e-as-criancas-em-inhotim-parte-1/😊
Fui em Setembro passado com a filhota com 2 anos e meio. Estava receoso mas, das 2 semanas pelas Minas Gerais, foi de muuuito longe o lugar favorito dela.
Na hora de ir embora foi um chororô danado porque queria ficar mais… e não tinha quem a convença que já estava fechando tudo.
Lugar incrível mesmo.
Belo post, Elisa!
Mto boa a descrição dos circuitos!
Ótima idéia deixar a Alice fazer as fotos. Dá bem p/sentir a ótica dela!
Inhotim é uma falha gravíssima no meu currículo, mas espero ir lá em breve, ainda este ano. Vou guardar o posto p/montar o roteiro antes de ir!
Obrigada 😉