Suricato

Jack’s Camp, Botswana: suricatos e a cultura dos Bushmen num safári no deserto

Enviado especial | Hugo Medeiros

Bem-vindo às areias do Kalahari. Bem-vindo ao salar do Makgadikgadi. Bem-vindo a um mundo novo.

Safári até o Jack's Camp

Safári até o Jack's Camp

A paisagem que se apresenta à nossa frente é agreste. Plantas com espinhos, piso arenoso, clima seco e calor intenso. As águas do Delta do Okavango não chegam a essa parte de Botswana. Quem comanda o espetáculo aqui é o deserto.

Jack's Camp

Após alguns quilômetros, o Jack’s Camp surge na paisagem como um oásis.

Criado e administrado por Ralph Bousfield, este local já há muitos anos atrai pessoas de todo o mundo em busca de uma verdadeira experiência na natureza.

Ralph Bousfield

Ralph cresceu na África, na companhia de seu pai Jack Bousfield, um dos maiores caçadores de crocodilos que já existiu, mas que abdicou de tudo para se tornar um conservacionista em defesa da vida de todos os animais.

No início da década de 90, um acidente aéreo matou Jack, que naquela oportunidade pilotava o avião, e deixou Ralph gravemente ferido: sofreu muitas queimaduras na tentativa de tirar o seu pai da aeronave.

Ralph é uma pessoa que podemos descrever como um visionário. Safáris existem em profusão. Alguns melhores, outros piores. Por isso, ele oferece aos seus convidados (pois é assim que nos sentimos no Jack’s Camp) a oportunidade de vivenciar algo diferente de tudo que já vimos.

Jack's Camp

Jack's Camp

O lodge, em si, possui todo o conforto necessário para uma perfeita estadia. Luxo não existe, e nem é isso que se busca. O objetivo é permitir uma interação perfeita entre o homem e o meio ambiente em seu entorno. O próprio Ralph mora lá, e é comum aos visitantes partilharem de sua agradável companhia durante as refeições ou passeios.

Jack's Camp

Jack's Camp

As diárias a partir de US$ 1.200 por pessoa representam um valor elevado, mas condizente com tudo que se vive. As tendas são aconchegantes e agradáveis. Dentro do chuveiro, um balde para recolher a água do banho nos lembra que estamos no deserto, e que nada deve ser desperdiçado. O gerador funciona apenas durante o dia, o que permite utilizar o ventilador para aplacar o calor intenso da manhã.

Museu no Jack's Camp

Um museu na área social reúne artefatos arqueológicos, fotos e relíquias colecionadas durante décadas pela família de Ralph. Um delicioso suco de limão está sempre à disposição dos hóspedes.

Durante a noite, quando as temperaturas caem abruptamente, somente a iluminação por lampião se faz presente.

Camp Kalahari

Camp Kalahari

Outra opção ao Jack é o Camp Kalahari, localizado na mesma área, com diárias a partir de US$ 500. Perde-se um pouco do charme pois lá não existe um museu, o Ralph não estará presente durante as refeições, e a qualidade das bebidas é um pouco inferior, mas mantém-se o mesmo nível de conforto e comodidade.

Bushmen

Após sentir um calor que só o deserto consegue nos proporcionar, saímos para um passeio com o integrantes da tribo dos Bushmen. Pessoas com pouco contato com a civilização, utilizando métodos milenares para encontrar água e alimentos. Atualmente são poucos os integrantes dessa tribo, que se comunica através de uma curiosa linguagem, repleta de estalos e sons.

Bushmen

Enquanto matávamos a sede com nossas garrafas de água, os Bushmen simplesmente localizavam uma suculenta raiz, de onde são obtidas lascas que uma vez apertadas geram água limpa e fresca. Após saciada a sede, enterra-se novamente a raiz, de forma que possa se recuperar e ser utilizada novamente no futuro.

Bushmen

Um passeio que remonta a um passado há muito esquecido, com pessoas interessantes que têm muito a nos ensinar.

Salar do Makgadikgadi

Depois dessa verdadeira aula pegarmos um veículo em direção ao salar do Makgadikgadi. Uma área do tamanho da Suíça, totalmente desabitada. Naquele momento, provavelmente, éramos as únicas pessoas naquele local.

Salar do Makgadikgadi

O silêncio era absoluto. Não se ouvia nada. Um ambiente perfeito para sentar e contemplar a vastidão do nosso mundo.

Salar do Makgadikgadi

Ao fundo, algumas nuvens com relâmpagos anunciavam uma bem-vinda chuva.

Impossível descrever momentos como esse. Palavras não são suficientes para demonstrar os nossos sentimentos. Naquele instante, senti-me como uma pessoa isolada no mundo. Na verdade, não totalmente isolado, pois minha esposa e filhos estavam, como sempre, em meu coração. Sentei-me e senti o vazio. Acredito que no fim, quando encerramos nosso ciclo neste mundo, devemos vivenciar uma paz como aquela.

Em seguida, o grupo foi reunido ao redor de uma fogueira, para conversar, beber e comer um petisco. Isolados a quilômetros de distância de outro ser humano, ainda assim vivíamos um sonho de relaxamento e conforto que somente o Ralph poderia idealizar.

Retornarmos ao acampamento, e fomos jantar. Tal como no almoço, a comida foi leve e saborosa. Para quem tem muita fome, os pratos certamente serão pequenos demais. Mas é importante lembrar que no deserto o ideal é uma alimentação saudável e de fácil digestão.

Encontro com suricatos

Na manhã seguinte, um passeio curioso nos aguardava. Iríamos ver os suricatos, mundialmente conhecidos após o personagem Timão ter surgido no desenho do Rei Leão. Tivemos que acordar cedo, e desembarcamos no local por volta das 6h30. E já na nossa chegada vimos uma família de suricatos à nossa espera.

Conforme nos foi informado, os pequenos bebês estavam sob os cuidados de uma babá, pois os pais provavelmente estavam caçando. Ao me deparar com aquelas meigas criaturas, só uma única palavra veio à minha mente: fofinhos.

E é isso que são, fofinhos ao extremo.

Nessa região os suricatos se acostumaram com a presença dos humanos, por isso permitem nossa aproximação. Mas é necessário obedecer a uma regra de ouro. Eles podem nos tocar, nós nunca os tocamos. É exatamente essa relação que permite a coexistência pacífica.

Suricatos

Quando me deitei ao lado do ninho, um pequeno filhote subiu na minha mão e começou a cavar. Suas unhas grandes e fortes fizeram cocegas, enquanto seus olhos curiosos tentavam identificar o motivo daquele local ser tão diferente.

Suricatos

Eles podem ser pequenos, mas vê-los de perto foi uma emoção tão grande quanto presenciar um enorme elefante.

Assim é o deserto, repleto de coisas maravilhosas, desde que saibamos onde olhar.

Baobá

Antes de nos despedirmos ainda passamos pelo Chapman’s Baobab, um centenário baobá, provavelmente com mais de 500 anos de vida, o que o coloca como uma das mais antigas árvores da África. Sua localização em uma rota utilizada por caçadores e mercadores fez com que diversas pessoas deixassem marcas em seu tronco, algumas dessas marcas com séculos de existência.

Minutos atrás eu era um gigante ao lado de um suricato, agora não passava de uma formiga ao lado deste enorme baobá.

Com esse derradeiro passeio chegamos ao fim da nossa viagem.

Safári até o Jack's Camp

Quando a aventura começou, Botswana estava para mim cercada de dúvidas e expectativas. Agora, vou embora com excelentes lembranças e vontade de um dia retornar.

Ainda fico intrigado com o fato de um lugar tão maravilhoso ainda ser quase desconhecido dos brasileiros. Isso mostra que realmente precisamos sair das nossas cascas e expandir nossos horizontes. Os americanos e europeus, que encontramos em diversos pontos de Botswana, já fizeram isso.

Safári até o Jack's Camp

Quem gosta de safáris deve ir ao Chobe. Para quem quer ir um passo além dos safáris, não deixe de ir num safári camp como o Chitabe, Jao, Macatoo ou Zarafa. Quem quer uma experiência única de vida, opte pelo Jack’s Camp.

E quem quer apenas ser feliz, simplesmente vá para Botswana.

Hugo Medeiros viajou a convite do Botswana Tourism.

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