Sul do Chile | Curanto: mar e montanha vão à mesa em Chiloé
“Não destapem o curanto até estarmos aí!”, implorava a nossa anfitriã em Chiloé aos encarregados pelo nosso almoço, por telefone. Estávamos atrasados – como são longas as distâncias naquelas ilhas! – e, com a nossa demora, o assado poderia passar do ponto.
Apenas chegando ao local do almoço pude entender a importância de assistirmos ao destapar do curanto. Antes, explico: o curanto en hoyo é o prato mais típico do arquipélago de Chiloé. Tem origem indígena, e é um grande assado feito sobre pedras quentes, em um buraco cavado no chão.
O curanto diz muito sobre o local onde nasceu. O assado é preparado entre enormes folhas de nalca, uma planta encontrada ali por todo lugar.
Seu ingrediente principal são mariscos, abundantes no arquipélago e fonte de emprego para muitos moradores.
O curanto também leva batatas, outro alimento que é um símbolo chilote – existem centenas de tipos de batatas nativas no arquipélago, e se vê plantações de batatas em cada pequena propriedade por onde se passe.
Também representam esse aspecto rural das ilhas as outras carnes usadas, como o porco e o frango. Mas, mais do que tudo, o curanto tem a ver com a cooperação entre amigos, com a generosidade e o bem-receber. E tudo isso é a cara de Chiloé.
Nosso curanto estava sendo preparado desde cedo em Puñihuil, na parte noroeste da ilha principal, que é de onde saem os passeios para as pingüineiras.
Entramos em uma casinha anexa ao restaurante Bahía Puñihuil e encontramos um montinho de terra assim:
E logo teve início a cerimônia do “destape”.
Primeiro, a terra foi retirada, revelando a cobertura de folhas de nalca.
Então, apareceram os chapaleles, panquecas de batata que tomam emprestadas a cor e o sabor das folhas.
Por fim, a grande revelação: batatas, lingüiças, pedaços generosos de porco…
… e a maior quantidade de mexilhões e vôngoles que jamais vi e jamais verei.
Foram necessárias pelo menos cinco pessoas para dar conta de acomodar toda a comida em travessas e bacias.
Enquanto eu assistia, pasma, àquele verdadeiro ritual, um senhor sorridente tirou alguns mariscos diretamente do buraco e me trouxe para experimentar.
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E nada que eu diga aqui poderá descrever exatamente o quão frescos e perfeitamente cozidos estavam aquelas almejas e aqueles choritos, e nem a delicadeza do gesto daquele senhor, tão feliz em dividir um pouco da sua cultura com um visitante.
Subimos, em seguida, ao restaurante, onde faríamos a refeição. Os pratos chegaram à mesa em porções colossais, misturando ingredientes da água e da terra, assim como mar e montanhas representam tudo o que é Chiloé.
À mesa, o curanto não foi unanimidade. É um prato direto ao ponto, livre de requintes, como a nossa feijoada. Mas, para quem considera que história e cultura também se transmitem pela culinária local, essa é uma experiência imperdível. Bem, talvez seja boa idéia pedir meia porção. 🙂
Mariana viajou a convite da SERNATUR Los Lagos e do Turismo do Chile.
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4 comentários
Estamos em Castro, ilha de Chiloé. O contato com a exuberante beleza natural da ilha é intensificado pela experiência culinária dos povos tradicionais. O curanto é um prato realmente original, “exquisito” no sentido dos idiomas espanhol e português.
Estive por lá em 1987 e comi o prato de origem indígena Mapuche a bordo do navio SKORPIOS do capitån de la M/N SKORPIOS Constantino Kochifas Carcamo, cujo objetivo era atingir o Ventisqueiro Y Laguna l San Rafael(onde se formam os icebergs) que dista cerca de 1000 kms de Puerto Mont
No livro da escritora chilena Isabel Allende, “O Caderno de Maya”, a personagem principal está vivendo em Chiloé. Uma ótima leitura para quem quiser conhecer os costumes dos habitantes da ilha. Em um dos capítulos, ela descreve a preparação do curanto.
Muito bacana. Há princípio, descartei a idéia de conhecer Chiloé, mas, após a leitura, deu-me grande vontade de ir.