3 dicas para sobreviver à overdose de dicas :-)
Somos a primeira geração de viajantes que pode ir da ignorância total ao conhecimento prévio absoluto de um destino em poucos dias.
Os folhetos deram lugar aos sites de destinos. Boa parte do conteúdo de guias, jornais e revistas está online. Blogs mostram como são as viagens na prática. Sites de resenhas ranqueiam e classificam todos os hotéis, restaurantes e passeios da face da Terra.
E como se não bastassem todos esses pitacos de gente que você não conhece, ainda tem todos os seus amigos no Facebook e Instagram dando dicas de viagem, solicitadas ou não.
Essa overdose de informação pode pesar mais que qualquer excesso de bagagem. Juntando todos os “É simplesmente imperdível!” com os infinitos “Esse lugarzinho que eu descobri” mais a lista interminável dos “É como ir a Roma e não ver o papa”, acabamos com um roteiro que só é factível com dias de 30 horas.
Ao lidar com essa massa de pitacos, tenha em mente três coisas:
1 | Época e localização são as informações-chave
Indo numa época favorável e se hospedando num lugar conveniente, você estará na pista certa para aproveitar as melhores dicas e fazer suas descobertas. Semplice così.
2 | Para ir além do óbvio você precisa ficar além do tempo regulamentar
Você só vai querer o “lugarzinho” depois de ter visto as atrações convencionais. Pela minha experiência, ninguém desiste de um cartão-postal para conferir uma atração alternativa. Quem deixaria de subir na Torre Eiffel para ir a Giverny? Ou desistiria da fila do Empire State para ir a Williamsburg? Ao aumentar o número de programas, aumente também a duração da escala. Retalhar ainda mais o escasso tempo que você tem só vai gerar cansaço e frustração.
O melhor para lidar com o excesso de dicas não é transformar sua viagem numa planilha do Excel ou numa linha de montagem de visitas em ritmo industrial. Crie pautas do dia: um conjunto de assuntos que merecem a sua atenção. Escolha os programas que vai fazer in loco, considerando condições climáticas, sua disposição e a experiência que você adquiriu depois de chegar. Reserve com antecedência apenas o que precisa de reserva antecipada.
3 | Nada é mais inesquecível do que algo que você não esperava encontrar
Pode notar: os elogios mais derramados e os comentários com mais pontos de exclamação são sempre sobre lugares e atrações que apareceram sem querer no caminho dos resenhadores. (Seguir essa dica que surpreendeu seu amigo talvez não surta o mesmo efeito em você, porque para você já terá sido uma dica, não uma descoberta.)
Crie espaço na sua viagem para a surpresa. Pesquise, mas não engesse demais. A vantagem de estar bem-informado é deixar a sua antena preparada para perceber na hora quando vale a pena mudar a programação.
Originalmente publicado na minha coluna Turista Profissional, que sai toda terça no Estadão.
Leia mais:
- Os 5 conselhos de viagem mais valiosos que eu posso te dar
- 5 passos para enxugar o seu roteiro
- O turista nunca-chega
98 comentários
Ricardo, você disse tudo neste post. Acabei de voltar de uma viagem inesquecível da Itália. Com base em um roteiro de vocês fiz algumas adaptações e deu tudo super certo. Só tenho a agradecer!! Me tornei sua fã e seguidora. Um grande abraço. Élide
Como alguns comentaram, viajar é lazer e depende do ritmo, gosto e bolso de cada um. Sigo uma regra básica atualmente, a de não dizer a amigos (e somente a poucos familiares) que estou de partida para algum destino, exatamente para evitar os palpites dos “lugares imperdíveis”, o que vc não “não pode deixar de ver” e “os restaurantes incríveis”. Busco algumas informações de apoio e vou em frente, sem a obrigação de “ticar” este ou aquele cartão postal por obrigação! Abraços a todos e embarque imediato pelo portão 14. 😉
Nem queiram saber o que foram os palpites depois da minha viagem a NY; uma maratona, tentando cobrir o que poderia para uma PRIMEIRA viagem. Cheguei literalmente morta de cansaço, tanto que dormi antes de o avião de volta levantar voo. Mas um colega ainda achava pouco: “se fosse eu, nem dormirianos dias da viagem”. Outro disse que alugaria uma carro para conhecer Manhattan por um dia. Adiantou dizer que não se dá rolê de carro por Manhattan???? Mas é assim mesmo: para muita gente, ainda que você tenha feito 999.999 coisas na sua viagem, sempre vai ser mais importante justo aquela única que você não fez…
Muito sensato. Me coloca na realidade. Tem me facilitado a montagem do meu roteiro. Obrigada
Acho que uma das coisas que mais em estressa atualmente é são comentários do tipo: “ah, mas já que você vai a Amsterdan, não perca Bruges”…oi?
To planejando uma viagem pra Tailândia no final do ano e já ouvi várias vezes:” mas ir até lá e não passar pelo Camboja, Laos, Vietnam, etc…é um crime” Oi? De novo!
Eu vou pra TAILÂNDIA! Nada mais. Mas precisa ser forte para resistir.
Acho que essa coisa de pitacos pode te levar para uma super furada, que é uma viagem cheia de pinga-pingas (detesto).
Foi um “é” mais na primeira frase. Sorry
Pessoa que faz planilha se apresentando! Mas não nesse sentido aí que o Ric colocou. Eu faço para distribuir no tempo as atrações que quero ver, exatamente pra checar se não estou colocando coisas demais no roteiro e também para incluir os horários das atrações, já que algumas fecham em determinados dias da semana (principalmente museus).
Mas quase nunca sigo à risca a planilha. Acabo invertendo passeios. Num dia de sol, melhor fazer aquela caminhada ou passeio no parque; deixando o museu para o dia seguinte, quando pode chover…
Mas eu amei o post. Acho que respeitar seu jeito e seu estilo é fundamental. Ric como sempre arrasando!
São exatamente esses detalhes que diferenciam o turista do viajante.
Gente,
Eu adoro overdose de dica! Significa que temos muito material a nossa disposição para escolhermos, para nos preparar antes da viagem. Isso deveria já fazer parte da viagem, não?
Na realidade, acho que em língua portuguesa ainda tem espaço para se falar ainda sobre muitos destinos. No mais, cada olhar mostra um lugar de uma maneira.
Agradeço muito por todas as dicas que recebi. Já descobri tanto lugar interessante e especial por dicas no instagram, aqui e nos blogs! Eu adoro essa cultura de troca, e acho que quando a pessoa diz “você tem que ir”, por exemplo, é só retórica. Não é para levar a sério.
Na vida e nas viagens é preciso ter olhos para ver e coração para escolher (selecionar), simples assim.
Também gosto!
-“Quem deixaria de subir na Torre Eiffel para ir a Giverny? Ou desistiria da fila do Empire State para ir a Williamsburg? ”
Resposta: “eu … mas não exatamente assim”
– Então como?
Na realidade .. seguindo a dica de número 3: “Crie espaço na sua viagem para a surpresa. Pesquise, mas não engesse demais.”
Mais ou menos isso 🙂
Tô tão nessa vibe! Tem uma hora que a gente lê tanto sobre o destino, que chega a saturar, no final bate até uma insegurança de estar fazendo tudo certo… Quando na verdade não exite o tal “Tudo certo”. Estando bem localizados e com algum tempo disponível, a gente consegue aproveitar e se virar bem!
E concordo com a Neusa, as dicas não solicitadas acabam virando uma certa obrigação de ir no local. Ai… É viagem, não reunião de trabalho né? Tem que relaxar!
Adorei o post!