O barraco das barracas: precisamos de leis sensatas sobre ocupação das praias
Texto originalmente publicado na minha coluna Turista Profissional, que aparece todas as terças no suplemento Viagem do Estadão.
No começo de julho, os bares sobre palafitas da praia do Jacaré, perto de João Pessoa, pararam de funcionar, por ordem judicial. Nos últimos 16 anos os bares serviram de camarote para assistir ao espetáculo do pôr do sol ao som do bolero de Ravel, tocado pelo músico Jurandy do Sax a bordo de um barquinho.
Todos serão demolidos: o local é simultaneamente terra da União e área de preservação ambiental. O show de Jurandy vai continuar, mas só poderá ser assistido a bordo de outros barcos. E lá se foi a maior atração turística da Paraíba.
Os mesmos argumentos, totalmente procedentes — terras da União, ocupação irregular -– têm sido usados pelo ministério público para derrubar barracas de praia em todo o Brasil. As de Salvador foram ao chão — e os entulhos ficaram dois verões na areia. As da Praia do Futuro em Fortaleza só não vieram abaixo porque a Justiça estadual decidiu que estão no “pós-praia” (o ministério público já interpôs recurso, alegando que a área é de “uso do povo”).
Que as barracas de praia ocupam terreno da Marinha é indiscutível. Que muitas fizeram edificações irregulares, poluem o ambiente e são feias de doer, não há dúvidas. Mas tampouco dá para ignorar o fato de que na cultura brasileira a praia funciona como a sala de estar. Barracas são equipamentos necessários para o tal “uso do povo”.
A questão das barracas de praia recai num velho problema nacional: ou pode tudo, ou não pode nada. É evidente que a ocupação das praias por barracas precisa ser regularizada, disciplinada e tributada. Mas proibida totalmente? É fora da realidade.
O caso de Salvador é emblemático: as barracas eram horrendas e em número demasiado, mas o que veio depois foi pior: a invasão de ambulantes e montanhas de cadeiras empilhadas na orla, acorrentadas a coqueiros, para serem postas na areia no dia seguinte.
Só em Santa Catarina a retirada foi conseqüente: mata de restinga foi replantada em toda a costa, cuidadosamente protegida por decks de acesso à areia. (Ainda assim, as barracas que resistem em Jurerê querem mostrar que podem funcionar e proteger a restinga ao mesmo tempo.)
O fim das barracas não democratiza a praia: apenas afasta banhistas e tira emprego de quem precisa. Alô, Ministério do Turismo: não está na hora de sentar com Marinha, Ministério Público e Legislativo e resolver esse barraco?
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18 comentários
Problemas no fígado, Walfrido Pinto?
Pois enganou-se muitíssimo, no comeco de dezembro estarei chegando por aí para ficar 6 meses perambulando pelas praias brasileiras (seguindo as dicas do vnv :)) e os outros 6 meses pelas montanhas e lagos europeus. Em 5 semanas farei um tour (de carro) à Floresta Negra, ao Lago Constanca (Bodensee), ao Ammersee e uma “visitinha de médico” ao Oktoberfest de Munique.
Se der tempo, antes de ir para o Brasil (a malaiada já estou despachando pelo correio, toda semana uma), ainda vou fazer umas “comprinhas de natal” lá no Sentier (https://www.le-sentier-paris.com/index.php) ou em outro lugar (https://help-tourists-in-paris.com/shoppingtipps-paris/) e também visitar algumas vinícolas ao longo do Rio Mosel pra comprar o champagnezinho do Ano Novo.
Cuide bem do seu fígado, a saúde é o bem maior que a gente tem 🙂
Haha, acho o comentário do Walfrido excessivamente ~irônico, mas não discordo no varejo, não.
Acho inclusive que minhas dicas de praia serão bem pouco aproveitadas por você, porque praticamente todas as praias que recomendo têm barracas bacanas (ou são recomendadas exatamente por causa delas). Se você pretende ficar seis meses na praia sem recorrer a elas, vai precisar estar sempre em pousadas pé na areia (ou ir todo dia à praia do Sancho).
Tenha cuidado ao se fixar em praias ermas ou trechos ermos de praias movimentadas. Em muitos pontos, tanto nas capitais como fora delas, as barracas proporcionam, além de sombra, refresco e comida, segurança.
Não é preciso consumir nem usar a estrutura das barracas. A areia é pública e você pode estender sua toalha ou plantar seu guarda-sol onde quiser.