Escócia: um passeio às terras do Coração Valente
Em meados da década de 1990, um Mel Gibson de longa cabeleira apresentou ao mundo o maior mártir da Escócia: William Wallace. Wallace liderou uma das mais importantes batalhas durante as Guerras de Independência entre Inglaterra e Escócia, a Batalha da Ponte de Stirling — e inspirou o personagem principal do filme Coração Valente sete séculos depois.
Coração Valente foi um sucesso de bilheteria e venceu o Oscar de melhor filme em 1996. Comoveu o mundo a história dos rebeldes escoceses que, em nome da liberdade, desafiaram a habilidosa cavalaria de Eduardo I. Eu tinha 13 anos, minhas aulas preferidas no colégio eram as de História, e fiquei curiosíssima para conhecer mais sobre a Escócia depois daquilo. E qual a minha decepção ao descobrir, 20 anos depois e prestes a embarcar para lá, que o filme na verdade havia sido filmado… na Irlanda!
(Fora outras liberdades como pintar o rosto de William Wallace de azul para a batalha e vestir os combatentes naquelas vestes xadrezes; nada disso seria possível na Escócia da época retratada pelo filme.)
Se Hollywood não mostrou a história com muita fidelidade, o bacana é saber que Stirling está não muito longe de Glasgow (42km) e Edimburgo (58km). Das duas cidades sai um passeio muito bacana de dia inteiro, que não só tira a lenda de William Wallace a limpo, como também apresenta outros personagens escoceses importantes, como Robert the Bruce, Rob Roy e a rainha Mary.
Loch Lomond e Castelo de Stirling num tour de dia inteiro
Meu passeio saiu de Edimburgo (o passeio que sai de Glasgow ainda dá uma passadinha na destilaria Glengoyne). A Rabbie’s, que opera o passeio, trabalha com grupos pequenos, de 16 passageiros no máximo, e com guias-motoristas que vão contando histórias e passando informações pelo caminho. O meu guia foi essa figuraça aqui, e se houvesse uma escala de quão escocês alguém pode ser, acho que o Ewan batia lá nos 100 pontos, com facilidade.
A viagem começou em direção ao Castelo de Stirling, a noroeste de Edimburgo. Até lá, Ewan contou sobre o impasse da sucessão à coroa escocesa que fez Eduardo I, rei da Inglaterra, crescer o olho pra cima do reinado vizinho e tentar fazer a Escócia se convencer de que a Inglaterra seria sua soberana. Esta trama é o pano de fundo de Coração Valente e o contexto em que William Wallace acabou surgindo como líder dos highlanders rebeldes. (Quem não se lembra do grito de “Freeeeeeedooooom”?)
A Batalha da Ponte de Stirling (em 1297) é das principais passagens na biografia de William Wallace e também uma das principais cenas de Coração Valente — embora, no filme, a interpretação deste episódio tenha sido tão livre que se excluiu das filmagens até a própria ponte que dá nome à batalha. Na história real, milhares de cavaleiros morreram afogados no Rio Forth (“o mar da Escócia”) neste conflito, vítimas da emboscada armada pelos escoceses na ponte.
O Castelo de Stirling, assim como o Castelo de Edimburgo, foi erguido sobre uma montanha onde um dia existiu um vulcão, na parte mais alta da cidade, para sua proteção. A data exata de sua construção é desconhecida, mas já estava de pé no início dos anos 1100.
Stirling é uma cidade pequenina e simpática. No tour, pode ser visitada por quem optar não entrar no castelo, que é pago à parte. Fazer as duas coisas é impossível se você decidir rodar o castelo inteiro, mesmo sendo uma parada generosa, de cerca de 2 horas.
Remontando à dinastia dos Stuart, à qual pertencia a rainha Mary, o castelo teve seu interior recriado como teria se parecido nos anos de Renascimento (depois de Eduardo I e William Wallace, portanto).
Não há objetos originais nos cômodos, mas especialmente as tapeçarias impressionam pelas cores e detalhes.
Em alguns aposentos, guias a caráter falam sobre os adornos vistos ali e contam sobre a vida de reis e rainhas que habitaram o castelo.
O passeio vale ainda mais a pena pelas lindas áreas ao ar livre. A construção impressiona, assim como a vista. E, se a Ponte de Stirling não está mais lá, o castelo é um bom ponto para tirar fotos do Wallace Monument, a torre de 67 metros que homenageia William Wallace.
De Stirling, o passeio segue para Aberfoyle, uma aldeia bem pequena. A atração não é nem tanto a aldeia, mas o caminho até lá, que é lindo, lindo.
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O almoço é livre e as opções não são muitas; a maior parte das pessoas compra seus sanduíches para viagem e pronto.
Eu encontrei um pub chamado The Wallace Bar e isso me pareceu muito auspicioso.
Acabei comendo ali o melhor fish and chips de toda a viagem. O peixe era gigantesco, de casquinha crocante, e o prato dava pra dois. (Não que eu tenha deixado sobrar muita coisa.) A equipe está acostumada ao movimento de turistas e o serviço não demora muito.
Seguimos na estrada entre histórias sobre Robert the Bruce (que sucedeu William Wallace na luta contra os ingleses pela liberdade da Escócia, e veio a se tornar rei) e Rob Roy MacGregor (outro rebelde das Highlands que acabou virando filme nos anos 90, com Liam Neeson no papel principal).
Meia horinha depois, chegamos a Balmaha, um vilarejo às margens do Loch Lomond. É uma região deslumbrante, parte do Trossachs National Park. Dizem que era por ali que o ardiloso Rob Roy, conhecido como o Robin Hood escocês, se escondia depois de aprontar com os nobres das redondezas.
A parada no Loch Lomond é de 1 hora e meia. O nosso guia Ewan propôs ao grupo fazer uma pequena trilha, que para mim pareceu um pouco íngreme.
Mais adiante, encontrei outro caminho de subida mais suave, que foi uma delícia de percorrer.
A vista do Loch Lomond e das montanhas é uma maravilha e compensa o esforcinho.
Mesmo sem subir montanha acima, dá para aproveitar essa área do parque caminhando às margens do rio. Ou em um pub bem pertinho do estacionamento que tem a sua própria microcervejaria.
De Loch Lomond a Edimburgo é chão: cerca de 1 hora e meia de estrada. Ewan aproveitou o caminho para nos apresentar a músicas tradicionais escocesas e para contar mais sobre outros personagens importantes na história do país, como a rainha Mary, que foi coroada no Castelo de Stirling e não teve uma vida das mais afortunadas, culminando com a sua morte a machadada sob ordens de Elizabeth I.
O tour da Rabbie’s a Stirling e Loch Lomond é um deleite para quem gosta de História e tem prazer em conhecer mais sobre a cultura do lugar que visita. Para quem não entende muito bem o inglês, mas gosta de passeios guiados, o conforto de viajar em um grupo pequeno e as paisagens que se vê pelo caminho já valem o passeio.
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Mais dicas
O Castelo de Stirling está aberto ao público todos os dias, exceto 25 e 26 de dezembro. Os horários variam ao longo do ano; antes de visitar, verifique no site.
Visitantes que estejam no tour com a Rabbie’s ganham 10% de desconto no preço do ingresso. Se no seu roteiro houver, além do Castelo de Edimburgo e do Castelo de Stirling, outra propriedade contemplada pelo Explorer Pass, vale a pena garantir o passe na primeira atração visitada.
Não é preciso pagar entrada para visitar o Trossachs National Park.
Passeio sem tour organizado
Se preferir conhecer o Castelo de Stirling e o Trossachs National Park de maneira independente, procure fazer os passeios em dias distintos.
É possível ir de trem ao Castelo de Stirling, seja de Glasgow (28 min. ), seja de Edimburgo (56 min. ). A passagem pode ser comprada ao chegar; não há descontos para compra antecipada. São cerca de 15 minutos de caminhada da estação de trem até o castelo. Na volta, aproveite para passear pelo centrinho. Ônibus levam ao Wallace Monument (aberto todos os dias; verifique horários no site). Se o dia estiver bonito, aproveite para passear pelas margens do rio Forth.
Para visitar o Trossachs National Park e o Loch Lomond, vá de trem até Balloch (32 min. de Glasgow, 1h15 de Stirling via Glasgow, 1h47 de Edimburgo via Glasgow), e de lá, de ônibus até Balmaha (30 min.), onde fica o centro de visitantes principal. Existe um ferry que leva a Inchcailloch, uma ilha com trilhas curtas de diferentes níveis de dificuldade.
Use tênis ou botas de caminhada. Um agasalho corta-vento pode ser bastante útil.
O Trossachs National Park fica bem mais próximo de Glasgow do que de Edimburgo. Se o seu roteiro passar pelas duas cidades, prefira fazer o passeio saindo de Glasgow.
Mariana viajou a convite do VisitBritain.
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10 comentários
Amei Edimburgo!
Tal como os restantes artigos, fotos fantasticas da Escócia… Dá vontade de fazer as malas e apanhar um avião para a ilha…
Parabéns Mariana pelo seu belíssimo relatório de viagem. Estou me programando para viajar em abril 2017 para Londres e arredores assim como toda a Escócia
Já fiz o roteiro saindo de Edimburgo e vale a pena. Não é fundamental entrar no Castelo de Stirling, subi até o Monumento a William Wallace e a vista de Stirling é bárbara.Aberfoyle é um charme e o passeio todo é muito bonito, com belas paisagens e vc fica cheio de informações de história e do quanto eles não gostam do filme Coração Valente pela falta de fidelidade histórica, ainda que reconheçam que foi a forma do mundo saber quem foi Wallace(o grande herói nacional). Se alguém quiser mais informações eu forneço.
Edimburgo está na minha lista, mas eu sempre acabo deixando pra depois. Lendo esse posto fiquei ainda com mais vontade. Mas acho que vai ficar pro ano que vem.
I just love these places. I planning to go back next year! Brava, Mariana!
Sensacional seu post Mariana! Parabéns.
Edimburgo está na minha lista e estes passeios aqui com certeza estarão tb!!
Muito bom ter dicas com passeios organizados e por conta.
Parabéns!!
Muito Legal, Mariana!!!
Viajei nessa Viagem!!!
Obrigado,
Vladimir.
Que passeio fantástico. Adoro Castelos. Mais um motivo para ir para a Escócia.